«Zoom in»: A arte na Leira: O espaço onde o Improvável se consolidou (c/vídeo)

“Há um caminho para o mar pelo silêncio da montanha”. Esse caminho é a Serra de Arga. Feita da vastidão e agrura dos seus maciços; emblemática e única em magnitude e beleza; repleta de biodiversidade pela ternura das pastagens entre bosques e lameiros. Rica do silêncio que enche as almas e da humanidade e simplicidade das poucas gentes que a habitam. Foi aqui que, por não resistir ao apelo do Silêncio e do Belo, um “louco”, como todos nós, os “normais”, o classificamos na altura, intuiu ser o seu espaço – uma Leira – onde decidiu acrescentar da sua vida à vida da Serra – pela sua Arte. De seu nome: Mário Rocha. E assim o Improvável se consolidou.

Há 23 anos, então, que, de meados de julho a meados de agosto, se regista a correria à Serra, por boa estrada, até à Arga de Baixo. Não sabe onde é? Não se incomode. Escreva no seu Google Maps “Arte na Leira” e o seu Google levá-lo-á até lá, podendo partir dos lados de Caminha ou Ponde de Lima. E o que vai ver? O Improvável que acontece todos os anos: A Arte do Mário Rocha e dos seus convidados. Irá usufruir da Arte de nomes consagrados; de jovens, alguns já de talento à vista e outros à procura do seu caminho nas mais variadas expressões; da mostra de instituições académicas que lá levam os trabalhos do ano académico dos seus alunos, até crianças, de tenras idades, com talentos espevitados e surpreendentes.

Da pintura à cerâmica, à fotografia, às mais inesperadas formas de expressão. Há espaço para todos, da mesma forma que por lá passam desde os mais altos dignatários da nação até ao povo, povo, que corre de Portugal e do estrangeiro e de todas as idades.

Mesmo que desnecessária aqui fica a recomenda: lá encontrará, também (obviamente), os bons petiscos do Minho, que pode degustar à sombra de frondosas copas de árvores dispersas pela Leira. Se a maré for mesmo de sorte pode até participar numa boa desgarrada de cantares ao desafio e concertinas bem timbradas. Tudo envolto na paz e no mistério do ar desta Serra.

Se falarmos do que primeiro se vê em Mário Rocha teremos de referir que é um nome incontornável da pintura portuguesa contemporânea, opinião que (sobretudo) o mercado vem confirmando pelo valor que vem dando à sua obra. Falo do Mário Rocha artista multifacetado: o pintor, o ceramista, o escultor, o arquitecto de interiores, o decorador, etc.

A pintura do Mário sente-se antes que se interprete. Sente-se num todo: do traço à cor; da expressão à emoção. No difuso das formas, no simbólico que, por hábito, substitui a representação ou desenho objetivo; no contraste das cores e da textura de cada uma das suas telas. Em cada quadro ou peça, o Mário põe em comum (isto é, comunica) uma história e a vida que nela vive; vidas com muita vida ou, simplesmente, a alma de um momento único. A expressão do Mário é muito mais um registo de vivências do que representação, embora o objeto e o objetivo estejam lá. Preciso, é, saber olhá-los. O objeto está lá, não só de corpo e alma, mas na sua envolvência perfeita, onde nada falta, muitas vezes, nem o “cheiro”. Sempre, repito, num arraial de simplicidade.

A pintura do Mário é a mostra mais imediata e franca da sua pessoa e é nesta Serra de Arga e na Arte na Leira que o Mário se abre como em nenhum outro sítio. Abre a sua própria casa, a sua família, os seus amigos; abre a sua pessoa e, sobretudo, a singeleza e o mistério da sua Arte. Abre-se a todos. Abre-se aos que se iniciam e aos consagrados. Abre-se aos seus críticos e aos que o louvam. Abre-se à riqueza da diferença, enquanto valor. Da política à religião.

Que privilégio o nosso, Mário. OBRIGADO.

Rui Teixeira
Economia e Empresas, PhD

Mestre em Saúde Pública
Ex-presidente do Instituto Politécnico de Viana do Castelo

 

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