Zapatero passou em revista relações Igreja-Estado com o Núncio Apostólico

O primeiro-ministro espanhol, José Luis Rodríguez Zapatero, reuniu-se esta Quinta-feira com o Núncio Apostólico em Madrid, o Arcebispo português Manuel Monteiro de Castro. O encontro é visto como uma tentativa de diminuir a tensão das últimas semanas, depois das declarações de altos responsáveis da Igreja em Espanha contra a política do governo socialista. Zapatero considera que a Igreja Católica não deve interferir nos assuntos de Estado, tendo em mente casos recentes como a concentração de centenas de milhares de católicos, a 30 de Dezembro, numa manifestação em favor da vida e da família ou a nota da Comissão Permanente da Conferência Episcopal Espanhola (CEE), tendo em vista as eleições de 9 de Março. O primeiro-ministro espanhol terá pedido ao Vaticano que a CEE “respeite” o Estado e lamentou as “ingerências” dos Bispos na soberania política do seu governo. Segundo a imprensa española, Zapatero assegurou ao Arcebispo Monteiro de Castro que as relações entre a Espanha e a Santa Sé serão marcadas “pela aceitação dos compromissos assumidos e o diálogo”, no respeito pela liberdade religiosa e a separação de poderes consagrada na Constituição. O primeiro-ministro referiu aos jornalistas que, ao longo do encontro privado, ambos falaram “do divino e do humano”. Fontes governamentais falaram da “cordialidade” do encontro e da “predisposição ao diálogo” das duas partes. As críticas do PSOE, de facto, não têm sido para o Vaticano, mas para as autoridades eclesiásticas espanholas, que acusa de serem politizadas e alinhadas com o PP. D. Manuel Monteiro de Castro revelara ontem que se tinha comprometido a “não fazer qualquer comentário antes das eleições”. “A minha missão é diplomática. Obviamente que defendo sempre tudo o que é da Igreja, mas isso não impede ter relacionamentos com todos os líderes políticos, sejam de que partido for”, disse à Lusa. Polémica A nota da comissão permanente da CEE sobre as próximas eleições de 9 de Março, deixava duras críticas ao governo de José Luis Rodríguez Zapatero por causa das medidas legislativas sobre a família e o matrimónio, bem como das negociações com a ETA. O terrorismo, escrevem os Bispos, “é uma prática intrinsecamente perversa, de todo incompatível com uma visão moral da vida justa e razoável”, condenando “a negociação política com organizações terroristas”. O documento, com “orientações morais para estimular o exercício responsável do voto”, alerta para “o perigo de opções políticas e legislativas que contradizem valores fundamentais e princípios antropológicos e éticos enraizados na natureza do ser humano, em particular no que diz respeito à defesa da vida humana em todas as suas etapas, desde a concepção até à morte natural, e à promoção da família fundada no matrimónio”. Manifestando respeito por quem pensa de outra forma, a CEE pede “liberdade e respeito para propor livremente a nossa maneira de ver as coisas, sem que ninguém se sinta ameaçado”. A Nota passa em revista vários dos temas que geraram polémica nestes últimos 4 anos de relação Igreja-Estado: o combate às “referências religiosas” na sociedade, a liberdade de ensino ou os nacionalismos.

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