XXII ACANAC: O Escutismo em Portugal: relevância na educação das novas gerações

Carlos Alberto Lopes Pereira, Corpo Nacional de Escutas – Chefe Nacional

No prefácio que escreveu para o Escutismo para Rapazes, é o próprio Baden-Powell que nos diz, com uma clareza cristalina, “não foi apenas para vos divertirdes e correr aventuras que vos fizestes escuteiros capazes e hábeis, mas que, tal como os pioneiros, exploradores e fronteiros que ides imitando, vos estais preparando para servir a vossa Pátria e serdes úteis aos outros que poderão precisar de auxílio. Tal é a aspiração dos melhores entre os homens.” Esta visão é ainda aprofundada e testemunhada pelo coronel John Wilson, colaborador de B-P na versão que hoje conhecemos do Escutismo para Rapazes, na introdução que escreveu para a primeira edição deste livro em língua portuguesa (1954): “A sua natural modéstia (referindo-se a B-P) não previa que as mesmas ideias atrairiam os rapazes de todos os países amantes da liberdade, mas, uma vez convencido de que assim era, logo se apercebeu de que havia lançado uma ideia – um movimento – que podia ser aproveitado para fomentar o compreensão, a amizade e a paz em todo o mundo.” Finalmente, esta intuição do educador Baden-Powell consolida-se no subtítulo do livro fundador “Manual de Educação Cívica pela Vida ao Ar Livre”.

O escutismo é, nos dias de hoje, o maior movimento de juventude e de educação não formal em Portugal e no mundo. Esta estrutura educativa que educa para a vida, permitindo aos jovens crescer autónomos, pensar pela sua cabeça e orientar-se pelos valores da compreensão, da entreajuda, da cooperação e da solidariedade, enfocados pelos valores da justiça, da liberdade, da amizade e da paz, não pode deixar de estar atualizada e ter uma relevância fulcral, quer na educação, quer nas vidas de tantos e tantos jovens.

As organizações de excelência são caraterizadas pela dialética entre três vetores:

a necessidade de permitir que os jovens nelas encontrem o que procuram;

a esperança no futuro, com uma missão reservada aos adultos de proporcionarem aos jovens instrumentos de “autogovernação”;

o desejo materializado pela ação na lucidez que a todos deixa feliz.

Como vimos, o escutismo está enfocado por todos eles, para além de se alicerçar na dimensão plurirrelacional do “eu”:

• O princípio pessoal – a relação consigo próprio;

• O princípio social – a relação com os outros;

• O princípio ambiental – a relação com a Natureza;

• O princípio espiritual – a relação com Deus.

O Método Escutista define-se como um sistema de autoeducação progressiva que se desenvolve num ambiente lúdico, participativo e de vida ao ar livre em contacto com a Natureza enfocado por um quadro de valores plasmados na Lei e na Promessa.

Um elemento chave deste movimento, criado por Baden-Powell, e que muito contribuiu para a sua universalização é a simplicidade, como se pode ver no livro que dedicou aos dirigentes Auxiliar do Chefe-Escuta. Guia dos Chefes sobre a Pedagogia Escutista: “O Escutismo não é uma ciência abstrusa ou difícil: é antes um jogo divertido, se o encararmos como deve ser. Ao mesmo tempo é educativo, e, como o perdão, tende a beneficiar tanto quem o concede como quem o recebe.”

A sua importância na formação do futuro cidadão solidariamente ativo é, nos dias de hoje universalmente reconhecida, pois os jovens aprendem a assumir as suas responsabilidades na condução do seu processo de autoformação, a desenvolver a sua autonomia e a viver em harmonia com a natureza e com a sociedade, assumindo a sua quota parte na construção de um mundo melhor.

A transição para o século XXI fez emergir novos problemas e desafios, sem pretendermos ser exaustivos na sua identificação, permitimo-nos listar alguns deles:

as novas questões de género;

o interclassicismo e transgeracionalismo;

as (in)tolerâncias pessoais, sociais e religiosas;

o fenómeno da globalização;

o sentimento ambientalista e de defesa do património natural;

as práticas de cidadania e de autogovernação;

a atualização das suas propostas mantendo a dialética: riqueza e simplicidade;

a tendência galopante da escolarização;

o mercantilismo crescente;

a defesa de grandes causas.

Na sua homilia dirigida às guias e caminheiros em Piani de Pezza (Itália), em 9 de agosto de 1986, o Santo Padre João Paulo II dizia: Numa sociedade que vive frequentemente dramas profundos no contexto da falta de confiança, do hedonismo e da violência, vós tendes que fazê-los sentir a beleza da fé, da amizade, da solidariedade e do serviço, como também o ideal de uma consagração total a Cristo e aos homens. (…) Conseguireis assim que o mundo mude, tornando-se melhor: com vantagem para a justiça e para a paz, para a solidariedade e promoção de cada homem.

Estas palavras produzidas por João Paulo II, na paisagem dos Apeninos, atraem o nosso olhar e do Movimento, de forma permanente, para o evoluir constante da sociedade e para os novos desafios que o Escutismo terá de enfrentar.

Carlos Alberto Lopes Pereira,
Corpo Nacional de Escutas – Chefe Nacional

 

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