Responsável da Rede de Voluntariado Missionário da FEC, Catarina Lopes António, aborda importância da formação dos voluntários e Salomé Oliveira Henriques e Gabriela Santos Inácio partilham experiências em Timor-Leste e Guiné-Bissau

Lisboa, 18 ago 2025 (Ecclesia) – Catarina Lopes António, da Rede de Voluntariado Missionário da Fundação Fé e Cooperação, destacou o impacto das missões junto dos participantes, que saem “sempre” transformados depois destas experiências.
“Independentemente do que os leva a partir, [voluntários] vão sempre ser transformados. Há cristãos, há não cristãos, há voluntários que partem pela fé, há voluntários que partem pelo currículo. Mas quando regressam, essas pessoas vêm transformadas e vão ser agentes de mudança nas suas comunidades”, afirmou ao Programa ECCLESIA, transmitido hoje na RTP2.

Apesar de ser para muitos um mês de férias, para outros tantos agosto é marcado por experiências de voluntariado e entrega, que muitas vezes são vistas como um complemento para o currículo.
No entanto Catarina António acredita que tal “só desvirtua a motivação inicial, porque independentemente daquilo” que leva cada um “a partir”, “durante o tempo de missão a pessoa é sempre alterada”.
“Obviamente que cada vez mais, contra tudo aquilo que é a legislação do voluntariado, há a questão da pressão para ser voluntário. Até no mundo académico exigem que seja voluntário. A verdade é que o voluntariado tem de ser um ato livre. E portanto, logo aí, a obrigatoriedade não faz sentido”, salientou a gestora de projetos da FEC.
A entrevistada realça que para se “ser voluntário, missionário, não é preciso entrar num avião”, indicando que esse papel pode ser exercido dentro do próprio país.
Cada vez mais temos jovens envolvidos em projetos de voluntariado. E tivemos o exemplo do Jubileu dos Jovens, que juntou milhares, milhares de jovens. E muitos, se lhes formos perguntar, não têm propriamente um percurso de fé. Mas estão ali”, referiu.
A Fundação Fé e Cooperação coordena uma rede de voluntariado missionário desde 2002, congregando 60 organizações que enviam voluntários em missão, que podem ser de curta ou longa duração.
“Promovemos um plano de formação anual que pretende pôr em comum todas as organizações, e isto para que se perceba que ninguém pode partir sem formação”, explica Catarina António, que acrescenta que “não basta a vontade de ir, é preciso saber o que se vai fazer”, conhecer “as culturas, “as próprias religiões” e o papel “enquanto cristãos”.
“Todo o cristão é missionário, às vezes esquecemo-nos disto, e portanto também tentamos que se perceba também este cunho da fé e esta responsabilidade de partir como voluntário missionário”, ressaltou.
Gabriela Santos Inácio é um dos exemplos de jovens que disseram sim ao voluntariado missionário, tendo partido, através do projeto ‘Aprender Vivendo’ com ligação à Organização Não Governamental para o Desenvolvimento ligada aos Missionários Espiritanos ‘Sol Sem Fronteiras’, numa missão de curta duração para a Guiné-Missão, onde esteve 25 dias.
Pude perceber que pode haver um grande respeito e uma grande harmonia entre religiões, porque eu estou há pouco tempo a integrar a vida na Igreja, mas eu não tinha noção que as irmãs, por exemplo, podiam ser pessoas super alegres e super espontâneas”, confidenciou.
A jovem relata que a experiência missionária ajudou-a a crescer na fé, tendo, depois da missão, recebido os sacramentos de iniciação cristã – o batismo, a primeira comunhão e o crisma – e conta que começou a frequentar mais as Eucaristias e a estar mais envolvida nas atividades na paróquia.
Sobre o impacto da experiência, Gabriela Santos Inácio diz que veio uma pessoa “diferente” da Guiné-Bissau: “Eu quando entrei no avião, fiquei assim, ‘já me vou embora, se calhar ainda podia fazer mais qualquer coisa’, só que depois também vim com a perspetiva de que nós quando vamos, temos de estar conscientes que não vamos para lá ensinar nada. Vamos sim para partilhar vida, para partilhar cultura, nunca impondo nada aos outros”.
“Vimos sempre mais ricos com tudo aquilo que eles também nos proporcionam. Pronto, somos também transformados”, testemunha.
Também Salomé Oliveira Henriques partiu em missão, mas ao contrário de Gabriela, integrou uma missão de longa duração em Timor-Leste.
“Inicialmente era só por um ano, já uma longa preparação e já uma cultura familiar, sempre ouvi falar em missões e em missionários, e depois fiz o primeiro ano, gostei bastante e fiquei para o segundo”, explica.
A jovem é enfermeira e serviu a população numa casa de saúde mental dos irmãos de São João de Deus, tendo estado na área da psiquiatria, no apoio no internamento, realizando também visitas domiciliárias.
O território caracterizado pela falta de recursos obrigou Salomé a ser “muito mais criativa”, “a estudar” e a “procurar soluções”.
Sobre a população, a jovem diz que ficou com a impressão de que Timor-Leste tem “um povo muito lutador”, “muito alegre e que aceita o outro, independentemente das dificuldades que tiveram no passado”.
HM/LJ/PR