Voluntariado para a Cooperação

Compreender o que motiva os jovens Voluntários a partirem para os países em desenvolvimento No passado dia 2 de Julho defendi a minha tese de mestrado que procura analisar o Voluntariado para a Cooperação: os seus actores, promotores e campo de actuação, ao mesmo tempo que procura vislumbrar qual o seu futuro. Com este trabalho procurei ir às origens do Voluntariado para a Cooperação, às Missões, para perceber como nasceu e para servir que tipo de fins. Para tal, procurei acompanhar a sua evolução até chegar aos Voluntários missionários e laicos dos dias de hoje. Através deste trabalho procurei a resposta para algumas inquietações, como: perceber qual o papel do Voluntariado para a Cooperação nas sociedades de hoje, inseridas no contexto da globalização. Qual o seu contributo? Compreender o que motiva os jovens Voluntários a partirem para os países em desenvolvimento, a darem parte do seu tempo para uma causa diferente. É o mundo que apela aos jovens para partirem ou são os jovens que se sentem impelidos a mudar a realidade que os rodeia? A rapidez das notícias e da comunicação, a melhoria dos meios de transporte, nomeadamente a facilidade com que se pode apanhar um avião, o aumento do poder de compra, são elementos que contribuem para o surgimento de novos conceitos como Volunturismo, bem como a sua relação com o Voluntariado para a Cooperação. A dissertação foi o culminar de um capricho. Esta não é a palavra mais científica para ser utilizada num trabalho de fim de mestrado, mas lança a semente para fundamentar o que me levou a chegar até aqui. Quis escrever sobre o tema do Voluntariado para a Cooperação porque também já fui uma Voluntária para a Cooperação. E desde que voltei do projecto de voluntariado missionário, senti a necessidade de estudar e perceber o que fui fazer a África. Por tudo isto, o destino do trabalho foi o Voluntariado para a Cooperação em Portugal. Procurei fazer a sua contextualização histórica, analisar o caminho percorrido e levantar os desafios que se apresentam aos grupos que promovem o Voluntariado para a Cooperação em Portugal. Com este trabalho procurei delinear as fronteiras e apresentar as definições de Voluntariado para a Cooperação e Voluntariado Missionário, entre outras. A maioria das definições é criada pelas próprias organizações de Voluntariado. Existe, contudo, alguma bibliografia, embora escassa, no âmbito das ciências sociais e políticas que teorizaram sobre este tema. Assim, entendemos que o Voluntariado para a Cooperação implica que o Voluntário viva e trabalhe em contexto cultural diferente, isto é, nunca pode ser considerado como Voluntariado para a Cooperação qualquer acção que se desenrole dentro do Estado de nacionalidade do Voluntário. É desejável que o Voluntariado seja desenvolvido a partir de uma organização, que enquadre e oriente o Voluntário, não só na realidade cultural, social e institucional que vai integrar, mas também na acção para que está mais vocacionado, de acordo com as suas aptidões e as especificidades técnicas do trabalho. É também recomendável que as organizações possuam um programa de formação e integração para o Voluntariado, que permita aos candidatos, conhecer não só a filosofia de actuação da Instituição, mas também o projecto que vão integrar, as especificidades do público-alvo com que vão trabalhar e as funções que lhes estão destinadas. (1) Durante a estadia no terreno, os Voluntários têm acesso a algumas condições mínimas (alojamento, bolsa de estadia, transportes e seguro), apesar de serem variáveis consoante a organização e o programa. Têm também uma estrutura de acompanhamento que inclui apoio em caso de doença, apoio logístico, articulação com parceiros, seguimento do trabalho e avaliação do projecto. Verifica-se, nos últimos anos, um incremento de novas áreas de trabalho Voluntário, como as da cultura, do ambiente, da luta pela paz, por uma globalização alternativa e pela igualdade entre géneros e, precisamente, do desenvolvimento, que são as que atraem mais os jovens Voluntários. Para além destas, podem ser áreas de intervenção as seguintes: Ajuda Humanitária, Apoio à Educação e Formação, Desenvolvimento Rural e Meio Ambiente, Segurança Alimentar, Apoio à Saúde e Formação, Micro-Finanças, Infra-estruturas e Novas Tecnologias (2). O Voluntariado para a Cooperação é um modo de promover e aprofundar valores como a paz, interculturalidade, respeito pela diferença, tolerância. Por sua vez, o Voluntariado Missionário é uma expressão que começou a ouvir-se nos últimos anos e que reflecte um tipo específico de Voluntariado para a Cooperação. O Voluntariado Missionário está sobretudo vocacionado para desenvolver acções fora do país, designadamente em países em vias de desenvolvimento, onde existem missões religiosas que dão apoio logístico aos Voluntários missionários. Os Voluntários missionários desenvolvem projectos de educação, de formação, de saúde, de associativismo, de promoção da mulher, de evangelização, etc. Estes Voluntários são leigos, enviados numa missão ao serviço da Igreja a que pertencem, o que não significa que trabalhem apenas com entidades relacionadas com a Igreja, uma vez que os missionários que estão inseridos nas comunidades locais facilitam a sua implementação e adaptação ao ‘terreno’. A duração dos projectos pode ir de um a dois meses, normalmente no período de Verão, ou durar um ou mais anos. Os projectos mais curtos, normalmente envolvem jovens universitários que aproveitam as férias para fazerem Voluntariado. Nos projectos de longa duração (um ano ou mais), os Voluntários são, normalmente, recém-licenciados ou jovens que se encontram numa fase da vida pessoal e profissional mais flexível. Contudo, estas características não são estanques. A Igreja Católica foi a precursora do Voluntariado para a Cooperação. Mas muito tem evoluído desde o século XV. Hoje em dia a par do fenómeno da Globalização procura, sobretudo, o mútuo enriquecimento cultural de modo a alcançar a verdadeira promoção humana. Com este trabalho pude concluir que a Globalização lança o grande desafio de procurarmos um modo de vivermos juntos, o que implica a invenção de um novo projecto sócio-cultural que articule a luta contemporânea pela redistribuição, com o reconhecimento multicultural de várias identidades e formas de estar no mundo. O Voluntariado para a Cooperação surge como resposta a este novo desafio proposto pela Globalização. O Voluntário tem a possibilidade de olhar para o mundo como uma comunidade global, onde existem interesses e responsabilidades partilhadas (3). Se defendermos que existe uma comunidade global, então existe a necessidade de construir uma sociedade civil global e de desenvolver o capital social global, e é aqui que o Voluntariado para a Cooperação pode desempenhar um papel fundamental para alcançarmos este objectivo. E como afirmou Ola Stafseng (2003:16): “Youth policy is becoming a matter of global solidarity (4). Nos últimos anos o Voluntariado tem evoluído de uma simples dádiva altruísta de tempo, para uma forma recíproca de troca de experiências em prol da construção de uma comunidade global. Tubb (2006), afirma que estamos a entrar numa nova era para o Voluntariado para a Cooperação, que se auto-define como uma possibilidade de troca de conhecimentos e de capacidades, bem como uma partilha de modos de pensar e de estar. As Nações Unidas (2002) [5] defendem que o Voluntariado tem o potencial para construir o caminho para uma comunidade global, onde as trocas de tempo e de capacidades podem proporcionar um fortalecimento da coexistência e sustentabilidade das fronteiras. A atitude prioritária para o desenvolvimento é transformar a percepção que as pessoas têm do mundo, o modo como utilizam os seus recursos e se relacionam umas com as outras quer como indivíduos quer como nações. E aqui os Voluntários para a Cooperação têm um papel fundamental, pois ao saírem da sua realidade e ao partirem ao encontro das necessidades de terceiros, conseguem mudar a percepção que têm do mundo, e procuram mudar as suas atitudes. Inês Saraiva Azevedo NOTAS: 1 – Azevedo M., Magalhães, R., 2007 2 – Azevedo, M., Magalhães, R., 2007 3 – Estas ideias não são novas, foram defendidas na Brandt Commission (1980), North-South: A programme for survival; report of the Independent Commission on International Development. Cambridge Mass: MIT; e Commission for Africa (2005), Our common interest. Report for the Commission for Africa 4 – http://www.un.org/esa/socdev/unyin/documents/covercontentsoverview.pdf 5 – Nações Unidas, (2002):4

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