Voluntariado Missionário: 20 anos em acção

Em 1988, a vontade de trabalhar em benefício das populações dos países lusófonos, levou alguns jovens a sair de Portugal para colaborar no terreno em projectos missionários, amplamente enraizados na realidade da Igreja local. Foram os primeiros de muitos leigos que, desde aí, se sentiram chamados a entregar parte da sua vida, para que povos com menos oportunidades possam ver melhoradas as suas condições. Foi ali, no final da década de 80 que, de forma espontânea, teve início um movimento que se mantém até hoje: o do voluntariado missionário. A expressão “voluntariado missionário” generalizou-se nos últimos anos para designar o desejo que os leigos sentem de ser rosto e presença de Deus junto de outros povos. Esta manifestação de Deus concretiza-se através do trabalho que realizam em favor da promoção humana e social das populações com que se cruzam, numa lógica de cooperação, ou seja, operando com os parceiros locais, indo ao encontro das reais necessidades das populações. Na acção que desenvolvem com as comunidades já não são os voluntários que vivem, mas Cristo que vive neles. O caminho começou a percorrer-se há 20 anos e hoje, duas décadas passadas, o Voluntariado Missionário é uma realidade consolidada em Portugal, tendo já respondido a este apelo mais de 3.000 leigos, 1.000 dos quais nos últimos quatro anos. Ano após ano, muitos são aqueles que se sentem chamados a trabalhar em projectos de cooperação para o desenvolvimento em países longínquos e, num gesto de entrega, doam parte das suas vidas para responder de forma afirmativa a este chamamento. Este ano são cerca de 300 leigos voluntários que partem com a missão de contribuir para a construção de um mundo mais justo, mais equitativo e mais humano, integrados em projectos dinamizados por entidades católicas (Institutos/Congregações Religiosas, ONGD, Associações, Grupos Universitários de Acção Social, Dioceses e Paróquias) com acções no terreno. A maioria dos voluntários parte em missão em projectos de curta duração (1 a 2 meses) e são sobretudo jovens, universitários ou recém-licenciados, cujas vidas familiares e profissionais são mais flexíveis, que oferecem o seu tempo de férias para actuar em causas a favor dos países mais pobres. No entanto, é cada vez mais notório o número de jovens casais, de adultos na vida activa e adultos reformados que opta por tomar parte de projectos missionários, muitas vezes (no caso dos primeiros) abandonando os seus empregos e arriscando a estabilidade profissional já alcançada. Apesar de os projectos de curta duração cativarem a maior parte dos voluntários, não deixa de ser interessante salientar que 22% dos leigos que partem em missão durante o ano de 2008 o fazem por um período de 1 ou mais anos, registando-se um aumento relativamente a anos anteriores, o que traduz um nível de compromisso e entrega mais alargado. Se atendermos à distribuição dos voluntários por género, as mulheres são as que partem em maior número (68%). Se atendermos ao país de missão é Moçambique que recebe o maior número de leigos (43%), seguido de Angola (25%), em São Tomé e Príncipe trabalharão 9% dos voluntários, em Timor-Leste e Guiné-Bissau 5%, em Cabo Verde 4%, para o Brasil, Zâmbia, Burundi e República Centro-Africana partirão 0,7%. Um dado curioso e, ao mesmo tempo, animador é o facto de 22% dos voluntários que partem em missão não o fazerem pela 1ª vez, repetindo a experiência de voluntariado missionário, o que revela o quão marcantes são estas experiências na vida de quem as vivencia. As experiências repetidas revelam ainda que, uma vez tomando contacto com as comunidades locais, os voluntários sentem de forma mais profunda que ainda há muito para fazer e que, com a sua acção, podem ser agentes transformadores da realidade, contribuindo para o bem-comum. Uma vez terminado o projecto para o qual os voluntários trabalharam no terreno, estes regressam a Portugal. E é aqui, no seu país de origem, que, após uma vivência tão rica, uma imensidão de potencialidades deve ser explorada, trabalhada e colocada ao serviço. A missão não termina com o regresso, mas continua no dia-a-dia dos leigos, através das campanhas em que se envolvem, sensibilizando a população portuguesa para as questões da cooperação para o desenvolvimento, especialmente nos países lusófonos. Num mundo que privilegia a estabilidade financeira, a carreira profissional, a construção da vida em prol de objectivos pessoais, os voluntários missionários são uma contra-corrente: abandonam o conforto, o bem-estar, a segurança e colocam-se ao serviço do outro, agindo onde for preciso, fazendo o que for necessário. Ana Patrícia Fonseca, Plataforma Voluntariado Missionário – FEC

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