Irmã Leonor Franco afirma que «há muita vida a acontecer» em Cachopo, «só que é preciso descobrir»
Faro, 21 jul 2022 (Ecclesia) – A Congregação das Escravas do Sagrado Coração de Jesus dinamizou uma missão de voluntariado junta da população mais isolada e idosa nos montes da freguesia de Cachopo, na Diocese do Algarve, com três jovens, durante seis dias.
“A pessoa olha e pensa: ‘É serra, não há nada’. Há, há muita vida aqui a acontecer, só que é preciso descobrir”, assinalou a irmã Leonor Franco, ao jornal diocesano ‘Folha do Domingo’.
A consagrada explicou que a congregação religiosa, que realiza esta iniciativa há quase 20 anos e de forma ininterrupta no verão e na Páscoa, convida pessoas para “ver que existe esta vida”.
“Venham estar com estas pessoas”, pede a irmã Leonor Franco.
De 9 a 15 de julho, duas religiosas da Congregação das Escravas do Sagrado Coração de Jesus – as irmãs Dulce Catarino, que participou na primeira missão há 10 anos quando ainda não era consagrada, e Leonor Franco – e três jovens de Castelo Branco e Lisboa realizaram esta missão que salientou que ‘há vida no interior’.
Maria Ana Vaz Pinto, fisioterapeuta, Sofia Botelho, matemática a trabalhar numa empresa financeira na área dos fundos de pensões, já esteve três vezes em Cachopo, e Vanessa Alves, enfermeira numa unidade de cuidados paliativos, foram as participantes da iniciativa destinada a jovens entre os 20 e os 35 anos de idade, e que já mobilizou cerca de 50 pessoas ao longo de duas décadas.
“Aqui está tudo embrenhado dentro da serra, escondido atrás das montanhas e de estradas longas, com curvas sinuosas e isso faz com que seja tudo mais distante, com que os montes sejam mais isolados e que se perceba porque é que as pessoas se sentem sozinhas, vão embora e não voltam”, explicou Sofia Botelho.
A jovem voluntária que já esteve três vezes em Cachopo, foi convidada para participar há cinco anos, quando terminou a universidade, afirma que se sente “muito o sofrimento e a solidão” das pessoas.
“Dá para perceber a necessidade de as pessoas verem outras pessoas, pessoas que se preocupam com elas, que vão ao seu encontro, que fazem estes quilómetros e estes caminhos com este calor para chegar a elas”, acrescentou.
A enfermeira Vanessa Alves andou a adiar esta experiência durante 12 anos e este ano os seus turnos “foram desaparecendo um atrás do outro” e, de repente, “tinha a semana toda livre”.
“Não havia como dizer que não. Vinha outra vez e, se calhar, ficava mais tempo porque parece sempre que o tempo não nos chega. Queremos chegar a todo o lado porque as necessidades são, efetivamente, muitas”, acrescentou.
A irmã Leonor Franco contextualiza que a Congregação das Escravas do Sagrado Coração de Jesus, de espiritualidade inaciana (Santo Inácio de Loyola), teve sempre como preocupação e carisma a “reparação”.
“No fundo procuramos olhar o mundo desde o coração de Jesus e perceber o que é que no mundo precisa de ser reconstruido, reconciliado, que situações precisam de ser reparadas, de ter mais vida”, desenvolveu.
Esta atividade de voluntariado inclui animação litúrgica de Eucaristias e celebrações da Palavra, a recitação do terço e a visita a idosos, e, este ano, ficaram alojadas na casa paroquial cedida pelo casal Albino e Cláudia Martins, que foram para Cachopo em missão, em 1990.
“Estão também disponíveis para ajudar sempre nalguma habitação degradada ou numa situação pontual a precisar de um serviço mais técnico, também tentam promover algumas atividades com crianças. É uma bênção para nós e uma boa ajuda”, realçou o diácono permanente Albino Martins.
“Chegamos a um monte qualquer e dizemos que somos as amigas do senhor Albino e é uma festa. Nunca nos viram, mas somos logo da família e entramos logo nas casas das pessoas, o mais íntimo que têm. Nas grandes cidades não há nada disto. Cada um vive lá no seu quadradinho e aqui não. Se calhar é uma chamada de atenção. Que vida é que levamos? O que é que andamos a fazer lá onde vivemos?”, disse Vanessa Alves, ao ‘Folha do Domingo’.
CB/OC