Voluntariado em ano de crise

Eugénio Fonseca

O Conselho da União Europeia decidiu designar o ano de 2011 como o Ano Europeu das Atividades de Voluntariado Que Promovam Uma Cidadania Ativa (AEV) para incentivar a participação cívica; favorecer novas e competentes atividades de voluntariado, assim como a criação de redes e de cooperação entre a sociedade civil e os outros setores da União Europeia; valorizar as atividades de voluntariado de modo a que tenham o adequado reconhecimento, nomeadamente, pelos responsáveis políticos, as organizações da sociedade civil e as instituições públicas; sensibilizar os cidadãos para o valor e a importância do voluntariado enquanto atividade que contribui para a realização de objetivos comuns, como o desenvolvimento harmonioso da sociedade e a coesão social…

Compete aos cerca de 94 milhões de voluntários europeus contribuir para que sejam alcançados estes objetivos, fazendo com que os três quartos da população europeia que não participa em qualquer atividade de voluntariado venham a interessar-se por esta dimensão da cidadania.

Por determinação do governo português, foi criada uma Comissão Nacional de Acompanhamento (CNA), constituída por 51 organismos públicos e particulares que se responsabiliza por incentivar o intercâmbio de boas práticas entre as autoridades dos Estados-Membros e as organizações de voluntários, dando especial atenção à formação, à acreditação e à garantia de qualidade e ao ajustamento eficaz e eficiente entre os voluntários e as oportunidades de colaboração.

São tantas as atividades e projetos previstos para assinalar o AEV em Portugal que é impossível conhecer todos. Desde colóquios a exposições, passando pela instituição de prémios, por manifestações públicas, por espetáculos culturais, são múltiplas e diversificadas as iniciativas, expressando o dinamismo das organizações de voluntários ou daqueles que os integram.

Entre as muitas iniciativas realçam-se as designadas “Voltas do Voluntariado” que decorrem em todos os países da UE. Cada etapa da volta está a dar «aos voluntários a oportunidade de apresentar o seu trabalho, conhecer-se mutuamente, contactar com decisores políticos e com o público em geral, bem como transmitir a sua energia e entusiasmo, e analisar questões fundamentais para o futuro do seu trabalho».

Todas estas atividades têm permitido dar maior visibilidade ao voluntariado em Portugal. Com efeito, será difícil encontrar alguém que não tenha ouvido falar, de alguma forma, sobre este modo de estar na vida, servindo desinteressadamente o bem comum. Este é, até agora, um dos objetivos alcançados com sucesso, na medida em que contribui para a sensibilização dos menos motivados porque pouco informados.

A partilha de experiências e o reforço das oportunidades de colaboração são outros dos aspetos relevantes. A opção por criar uma CNA muito ampla teve, decerto, a intenção de se conseguir o trabalho em rede que tornasse mais eficientes as atividades programadas. Não deve ser fácil, porém, operacionalizar uma equipa tão vasta.

A Confederação Portuguesa do Voluntariado (CPV) é uma das entidades representadas nesta comissão. Para além do contributo que está a dar nesse âmbito, tem procurado deixar uma marca muito própria, envidando esforços ao nível da sua consolidação estrutural e representativa, captando mais associadas que representem ainda maior abrangência de objetos sociais de atividade; ao nível do trabalho em rede, intra e extra CPV, promovendo cada vez mais sinergias e complementaridades, nomeadamente trabalhando e aprofundando as temáticas abordadas no Congresso Português do Voluntariado; e ao nível da afirmação da CPV como parceiro incontornável nas relações Estado -Terceiro Setor.

Tendo em conta as metas a alcançar com a instituição destes anos especiais, tudo o que se realizou para já parece, em termos gerais, positivo. O contexto de crise económica e social que está a assolar a Europa, em especial, Portugal, contrariamente ao que sucedeu ao Ano Europeu do Combate à Pobreza e à Exclusão Social assinalado o ano passado, tem sido favorável ao envolvimento dos cidadãos nas causas públicas, dando um significado muito preciso à importância do voluntariado na implementação de um progresso sustentável.

Importa, todavia, que estas condições propícias não desapareçam com a superação da crise nem tão pouco quando 2011 chegar ao fim. Pelo contrário, o AEV deve ser a rampa de lançamento para a implementação de dinamismos impulsionadores de maior consciência cívica. Aliás, em 2012 teremos renovadas razões para prosseguir por este caminho, pois está já decidido que o próximo ano será, em toda a Europa, dedicado ao envelhecimento ativo. E se há estradas largas para serem percorridas pelo voluntariado, a dignificação do entardecer da vida é uma delas.

Eugénio Fonseca, Confederação Portuguesa do Voluntariado

 

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