Leigo descreve experiência no programa de férias organizado em Fátima pelas religiosas dos Silenciosos Operários da Cruz
Fátima, Santarém, 24 ago 2012 (Ecclesia) – A primeira vez que Tomás Câmara acompanhou as férias de jovens com deficiência quis desistir mas no último dia já tinha esquecido os medos e sentiu o desgosto de partir.
“O primeiro dia foi terrorífico. Os participantes ainda estavam acanhados, o que se tornou mais angustiante. Estive mesmo para fugir: olhava para o meu carro e ele fazia-me sinais para ir embora”, contou à Agência ECCLESIA ao lembrar a sua estreia, em 2011, no programa organizado próximo de Fátima pelas religiosas dos Silenciosos Operários da Cruz.
Tomás Câmara participa pela terceira vez como voluntário numa iniciativa que há sete anos oferece aos pais de crianças e jovens com deficiência a possibilidade de durante uma semana confiarem os filhos ao Centro de Espiritualidade Francisco e Jacinta Marto.
“Vinha cheio de medo porque nunca tinha trabalhado com deficientes profundos mas no final do terceiro dia já tinha esquecido esses receios”, explica o responsável de uma empresa de impressão em tecidos.
“Da primeira vez pensamos que não somos capazes, principalmente por causa da comunicação: as crianças e jovens têm problemas em exprimir-se mas acabamos por perceber tudo o que querem. É impressionante”, acentua o empresário de 48 anos.
Os seis a sete dias de cada turno, integralmente financiados pelo Santuário de Fátima, são fisicamente “cansativos”: “Como se tratam de pessoas tetraplégicas temos de pegar neles, dar-lhes banho, mudar fraldas, fazer tudo”, refere.
“Há mães com dois e três filhos e outras de 70 e 80 anos que não têm capacidades físicas para tratar deles”, diz Tomás Câmara, que acrescenta: “Ao ver a vida das pessoas que aqui estão somos levados a pensar que não temos problemas nenhuns”.
A iniciativa depende do voluntariado: como o número de colaboradores deve ser aproximado ao dos deficientes, a eventual diminuição de voluntários implica a redução das crianças e jovens envolvidos na iniciativa, observa.
Os participantes, estimulados pela “alegria pela paz e oração”, “são livres de escolher o que querem fazer”, ressalta o voluntário, que à semelhança dos restantes monitores tem como “regra número um respeitar o ritmo” das pessoas com deficiência, propondo-lhes as atividades numa dinâmica de “festa”.
Entre as reações mais marcantes Tomás Câmara destaca as “emoções impagáveis” que sentem ao entrarem na piscina, bem como quando estão recolhidos em oração: “A parte espiritual é importantíssima e todos fazem esse caminho”.
“A Adoração ao Santíssimo Sacramento é arrepiante. Querem dar beijos a Jesus e abraçá-lo. Aqui podem fazer isso tudo e mesmo que gritem não há problema nenhum”, realça, salientando a liberdade que lhes é dada para exprimirem os sentimentos à sua maneira, sem temor de censura.
A despedida depende da atenção que as crianças e jovens com deficiência recebem em casa e nos centros de apoio: “Aqueles que não vivem num bom ambiente partem sempre a chorar”.
Para Tomás Câmara o regresso ao trabalho também é difícil: “A cabeça fica aqui em Fátima durante duas ou três semanas”.
“São as férias da minha vida. Tem de vir aqui fazer uma experiência porque vale mesmo a pena”, conclui em jeito de convite.
RJM