Jubileu do Voluntário vai ser celebrado no Vaticano, entre sábado e domingo

Lisboa, 07 mar 2025 (Ecclesia) – Beatriz Zacarias, 20 anos, ligada às irmãs Hospitaleiras do Sagrado Coração de Jesus, e à Casa de Saúde da Idanha onde faz voluntariado, lamenta que a saúde mental seja uma “realidade pouco valorizada” e onde existe “tabu”.
“Aquelas pessoas não são doentes; aquelas pessoas estão doentes. E a doença mental, seja a esquizofrenia, seja qualquer outro tipo de diagnóstico, não muda as pessoas; a essência das pessoas continua lá e com a medicação controlada, sendo acompanhado, sendo estimulado, são pessoas maravilhosas com quem eu adoro estar”, explica à Agência ECCLESIA.
A vida de Beatriz confunde-se com as ações de voluntariado: “Sempre foi algo que eu fiz desde pequenina e eu ainda me lembro no quarto ano de ajudar as bibliotecárias a arrumar livros, de ir na escola, de nas férias ir a algumas ações para limpar praias mas ganhei mais consciência quando entrei no secundário e comecei a fazer mais coisas com os meus amigos”, recorda.
“Eu não tenho um dia fixo de fazer voluntariado; quando as irmãs precisam de mim eu vou ajudar, seja para fazer companhia, preparar atividade, ajudar as irmãs ou animar algum grupo que vá lá fazer voluntariado durante algum tempo”, indica.
A jovem recorda “o choque” inicial por estar a lidar com pessoas pacientes em saúde mental e reconhece um estigma nesta área, mas que rapidamente foi ultrapassado quando percebeu estar a lidar “com pessoas”.
São muitas as vezes que a jovem percorre os corredores da Casa de Saúde da Idanha e não pergunta que situação clínica leva as pessoas à sua permanência: “Mas se me perguntarem a que unidade é que pertence utente X, isso eu já sei, porque vejo mais as pessoas que precisam de companhia do que as razões do seu internamento”.
As irmãs hospitaleiras trabalham maioritariamente com a doença mental, assistindo situações de demência “e demência profunda”, esquizofrenia, mas “cada vez mais pessoas mais novas” com situações de acidente vascular cerebral, havendo ainda espaço para receber pacientes para fisioterapia continua.
Beatriz Zacarias encontra-se em fase de preparação para partir em missão, para Moçambique, se “o contexto social e político permitir” para durante um ano ajudar as irmãs hospitaleiras, em Maputo, apoiando crianças com Sida e pacientes em saúde mental.
“É uma área escondida, as pessoas são trancadas em casa, acorrentadas. E há outro foco de trabalho das irmãs que é acompanhar casos de epilepsia, vistos como anormais pela população que procura respostas junto de curandeiros, mas quando alvo de medicação e de diagnóstico precoce são situações a apoiar”, explica.
A jovem de 20 anos reconhece que a formação, ministrada pela Fundação Fé e Cooperação, a tem ajudado a redimensionar o contributo que cada voluntário pode dar numa missão, valorizando os gestos gratuitos e contextualizando uma realidade que ultrapassa o próprio voluntário.
“Eu não vou para lá fazer a diferença ao país; eu vou dar apoio e ajudar os que precisam. Apesar de gostar da ideia de ajudar a mudar o mundo, a formação tem-me ajudado a perceber o que está nas minhas capacidades conseguir fazer e o que não está”, explica.
Beatriz reconhece que viaja para África a partir de uma condição de privilégio – “de mulher e mulher branca” mas leva consigo a “sensibilidade feminina” que, acredita, marca o voluntariado.
“A realidade africana das mulheres não é a minha, apesar dos relatos que as irmãs e outros voluntários partilham sobre a submissão, a educação dos filhos, o abandono. Eu sou formada também a partir dos gestos de mulheres consagradas que se dão aos outros, pelo bem dos outros”, explica.
Estudante de Artes e Humanidades, interessada mais em abrir percursos formativos do que escolher imediatamente uma profissão, Beatriz explica que este “é um tempo para abrir janelas” e que também o voluntariado e o contacto com a vida consagrada e uma realidade “social e formativa” na sua vida.
“Nunca tive muita pressão de fazer tudo de seguida, tanto que agora quando acabar a licenciatura vou fazer uma pausa. Penso que descobrir o que é que eu quero fazer profissionalmente implica eu descobrir-me a mim mesma”, indica.
A conversa com Beatriz Zacarias vai ser emitida no programa ECCLESIA, na Antena 1, no sábado, pelas 06h00.
LS