Padre Nelson Faria, Isabel Sousa Guedes e Miguel Viana comentam conclusões de estudo lançado pela Equipa da Pastoral Juvenil e Vocacional (PAJUV) dirigido a geração jovem adulta
Lisboa, 03 dez 2025 (Ecclesia) – A Companhia de Jesus em Portugal (Jesuítas) assumiu a vontade de ajudar os jovens na fase da vida após a universidade, entre os 25 e os 35 anos, a encontrar o seu papel e vocação, enquanto cristãos e pessoas.
“Olhando para a Pastoral dos Jesuítas, desde o início de vida e para a frente, enquanto Pastoral Juvenil até aos 35 anos, percebemos que havia ali uma lacuna na geração pós-universitária”, afirmou Isabel Sousa Guedes, da equipa Pastoral Juvenil Universitária dos Jesuítas, em entrevista ao Programa ECCLESIA, transmitido segunda-feira, na RTP2.
O distanciamento da Igreja e falta de acompanhamento a estes jovens adultos levou à elaboração do relatório “Escutar para Acompanhar: um olhar pastoral sobre a geração jovem adulta”, que resultou de inquérito que teve como objetivo compreender melhor os anseios, desafios e esperanças desta geração.
“O que é que nós queremos? Primeiro, com este estudo, confirmar não só a inquietação, mas também termos um relatório que nos confirme as nossas intuições”, referiu o padre Nelson Faria, coordenador da Pastoral Juvenil Universitária dos Jesuítas.
“E depois, principalmente nos nossos centros universitários, mas não só, começarmos a fazer deles uma espécie de laboratório, através daquilo que chamamos a geração K, ou geração 25-35, para começar a construir propostas para eles”, acrescentou.
Miguel Viana, adjunto da direção do Centro Universitário Padre António Vieira (CUPAV), explica que o estudo teve uma amostra de 100 pessoas, que os jesuítas tentaram que fosse o mais díspar possível, para que os dados “fossem minimamente credíveis”.
As respostas revelaram que as relações interpessoais e a comunidade são um “ponto importantíssimo” e basilar para os jovens, dá conta Isabel Sousa Guedes, assinalando que os dois fatores estão “completamente alinhado com a mensagem de Jesus”.
“A ligação com a vida e o não distanciamento da fé à vida real, ou à vida do dia-a-dia, mas a questão da comunidade e das relações, e não ser uma coisa só estandarte, mas próxima, é muito valorizada e está lá explícito nas conclusões”, indica.
Miguel Viana aponta que a resposta pastoral vai passar invariavelmente por fomentar o sentido “de comunidade” e ao mesmo tempo um “sentimento de personalização”.
“Sentir-me que eu, com o meu nome, sou acolhido, mas dentro de um grupo”, exemplifica.
Segundo o responsável, o estudo mostrou também que os jovens adultos preferem participar em “momentos gratuitos” em que tenham de intervir, do que propriamente ouvir uma conferência.
“São os momentos em que não está a acontecer nada, de certa forma, não é um momento formal. Os momentos informais muitas vezes são a chave da maior parte das comunidades e das relações, se calhar também ter momentos mais lúdicos”, ressaltou.
Em entrevista ao Programa ECCLESIA, o padre Nelson Faria destaca a necessidade de “largar os modelos antigos, não porque fossem maus, mas já “não estão a responder às necessidades atuais de evangelização”.
“Temos de começar a dar a toda esta malta, a todos estes que andam com sede de Deus, uma relação pessoal com Cristo, ao mesmo tempo que lhes damos uma formação na inteligência da fé, e isto tudo sempre assente numa relação comunitária”, realçou.
O sacerdote jesuíta enfatiza que, atualmente, existe “uma crise de solidão transversal no Ocidente” e que a Igreja tem aqui “mais do que uma oportunidade”, um “apelo de Deus” para aprender a acolher e responder.
Questionada se foi surpreendida por alguma das conclusões do estudo, Isabel Sousa Guedes destaca que os jesuítas já tinham a noção de que era preciso fazer um direcionamento à fase da vida após a universidade.
“Ao mesmo tempo foi bom ouvir vindo das pessoas e gerar conversa, um dos nossos objetivos também era que as pessoas conversassem entre si e gerar este tema entre as várias pessoas, portanto no fundo foi um direcionar, nada de completamente novo, mas que ajuda a ter o alinhamento”, referiu.
“Não sendo surpreendente, fica documentado, que é sempre uma ferramenta muito útil para nós, para continuarmos a trabalhar, mas também para outras pessoas dentro da Igreja poderem trabalhar este tema. Estando documentado é sempre melhor que uma simples intuição”, salientou Miguel Viana.
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Jesuítas: Estudo apela a pastoral autêntica e flexível para jovens adultos
