Viver a interculturalidade

Rosário Farmhouse, Alta Comissária para a Imigração e Diálogo Intercultural faz balanço do Ano Europeu do Diálogo Intercultural O Ano Europeu do Diálogo Intercultural foi uma oportunidade para uma melhor integração dos imigrantes. Concluído, a Agência ECCLESIA questionou a Alta Comissária para a Imigração e Diálogo Intercultural (ACIDI), Rosário Farmhouse, sobre projectos e objectivos atingidos. Agência Ecclesia – Que avaliação faz do Ano Europeu do Diálogo Intercultural? Rosário Farmhouse – Uma avaliação muito positiva… o ACIDI foi o organismo coordenador, coube-lhe o papel de delinear uma estratégia nacional, de motivar os organismos públicos e privados a incluírem o tema do diálogo e da intercultu-ralidade nas suas agendas, de apoiar e divulgar as iniciativas que a sociedade civil levou a cabo, de construir com todos um Programa Nacional para 2008, com cerca de 900 iniciativas. AE – Que valorização aconteceu, ao longo desse Ano Europeu, das culturas que chegaram ao nosso país nas últimas décadas? RF – Esperamos ter contribuído para o reconhecimento e valorização da diversidade. Olhando para o Ano, podemos constatar que entre Câmaras Municipais, Escolas, Grupos e Agentes Culturais das áreas do Teatro, Dança, Música, Artes Plásticas e Performativas, Festivais de Cinema, Bibliotecas, Museus, Associações de Imigrantes, ONG’s, Fundações, Instituições de Formação, mais de 400 instituições públicas e privadas fizeram parte do Programa Nacional das comemorações e que, por todo o país, todos os dias, uma actividade intercultural dialogou connosco, dando prova da riqueza da nossa diversidade. Escolhemos dar prioridade às crianças e jovens. Foi assim que apoiámos a realização de um espectáculo musical “Gira-Mundos” que esteve em digressão pelo país e também o projecto “Intolerent? Me?”, também de música. Com os jovens viajámos de comboio e veleiro no “Expresso das Nações”. E também para eles, em parceria com o Instituto dos Museus e da Conservação, construímos percursos e viagens interculturais através dos museus, numa descoberta lúdica e pedagógica da nossa história antiga e recente a que chamámos “Museu, espelho meu”. No dia 18 de Dezembro, ao longo de duas horas, e sob o lema “Juntos na diversidade”, o Espectáculo de Encerramento do Ano Europeu do Diálogo Intercultural, transmitido em directo pela RTP, demonstrou que é possível vivermos a diversidade: artistas, músicos e bailarinos, actores, escritores, profissionais da Comunicação e desportistas de várias origens, de vários contextos juntaram-se pelo Diálogo Intercultural. AE – Qual a importância da religião para a integração e valorização de traços culturais próprios das populações migrantes que chegam à sociedade portuguesa? RF – No largo espectro da vivência e re-construção identitária que o processo de imigração, necessariamente implica, a dimensão religiosa, se existir, não pode estar alheada das políticas de integração. Reconhecer a sua centralidade enquanto espaço de expressão de cultura profunda individual e a sua transversalidade, ao agrupar diferentes grupos étnicos, pode facilitar uma visão mais compreensiva dos fenómenos e factores que podem favorecer melhores políticas de integração. AE – Com esta realização continental emergiu uma consciência da interculturalidade que caracteriza a União Europeia? RF – O objectivo do Conselho Europeu ao declarar 2008 o Ano Europeu do Diálogo Intercultural foi precisamente criar a consciência de uma identidade europeia que é construída pelas especificidades de cada um. As comemorações deram o mote mas teremos de manter vivo o tema, de forma a consciencializarmos os europeus da importância da interculturalidade para a construção da Paz. AE – Em que contribuirá para a estabilidade social, económica e financeira esse carácter intercultural da UE? RF – Quanto mais estável for uma Sociedade, maiores condições terá para crescer. Os maiores países do Mundo são aqueles em que a diversidade se faz sentir mais. Uma Sociedade que não reconheça a riqueza na sua diversidade, não poderá evoluir. Portugal foi grande quando se abriu ao Mundo, e o seu crescimento foi mais significativo na fase em que contou com a colaboração mais intensa da comunidade imigrante.

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