Visita pastoral à cidade de Beja

Depois de ter percorrido todas as paróquias do Baixo Alentejo, desde a fronteira de Espanha até ao Atlântico e da serra do Mendro ao Caldeirão, cheguei às paróquias da cidade de Beja e anexas, afinal as que estão mais perto da residência episcopal, mas que só agora comecei a ter como programa da minha acção pastoral diária, procurando conhecê-las melhor, indo ao encontro das suas instituições e pessoas, dando testemunho do Reino de Jesus Cristo e rezando com as comunidades, grupos e movimentos de vida cristã. A paróquia do Salvador de Beja é uma das quatro paróquias da cidade, cujos limites geográficos são iguais aos das freguesias com o mesmo nome. No censo de 2001 contava 5.774 habitantes, mais 454 do que em 1991, devido sobretudo à construção de novos bairros, como Mira Serra, Falcões, Quinta d’el Rei, urbanização do Seminário, nova fase do Bairro da Conceição. Tradicionalmente é considerada a freguesia mais pobre da cidade. Os bairros do Pelame e da Conceição, este construído há 50 anos por D. José do Patrocínio Dias para famílias pobres, fazem parte da paróquia, que, há cerca de 40 anos, foi confiada à Ordem do Carmo em Portugal, sucedendo aos frades Capuchinhos. Na área desta freguesia está a sede do Governo Civil, os quarteis da GNR e da PSP, o Tribunal, a Universidade Moderna, a ESTIG, o Centro Regional de Segurança Social, etc. e também o Seminário Diocesano. Embora não estivesse no programa, mas foi precisamente pelo Seminário que começou a visita pastoral, com a celebração da Eucaristia, jantar e reunião com a equipa formadora, no dia 27 de Fevereiro. Pelas escolas da freguesia No dia 28, às 9,00 horas da manhã, sempre acompanhado pelo Pe. Henrique Martins, à frente da paróquia há quase 40 anos, estávamos no Bairro do Pelame na sala de aula do primeiro ciclo, frequentada por 11 alunos dos quatro anos, todos numa só turma. Alguns dos alunos já frequentaram a catequese paroquial e a formação moral e religiosa, mas neste ano ainda não se organizou. Cá fora éramos aguardados por cerca de 29 moradores do bairro, que, no salão do Centro Cultural e Desportivo, pediram a construção de uma capela e de salas de catequese para as crianças. Estando aprovado um projecto de construção habitacional que irá possibilitar o aumento significativo dos moradores, não está prevista nenhuma área para local de culto, mas os moradores dizem-se dispostos a lutar para que isso aconteça. Por isso lhes prometi que iria fazer diligências junto da autarquia, para encontrarmos uma solução. Daí viemos para o centro da cidade, à escola do Salvador, ao lado da igreja paroquial, frequentada por 177 crianças do 1º ao 4º ano, divididas em 8 turmas, uma delas em desdobramento, por falta de salas. Em todas as turmas notei que havia bastante simpatia pelo pároco e pela Igreja, pois muitas crianças frequentam os tempos livres do Centro Paroquial e Social do Salvador. Decorria a visita quando chegou à escola a autorização para as aulas de formação moral e religiosa. Mas também se aludiu à dificuldade de a inserir nos horários actuais. Antes do almoço, que seria servido no pólo 2 do Centro Social do Salvador com a presença de alguns carmelitas vindos de Braga e Lisboa, ainda fomos à escola básica do Bairro da Conceição, frequentada por 29 crianças divididas em duas turmas e 17 outras no pre-escolar. A tarde foi passada no Centro, visitando a creche, com a frequência de 82 crianças, o infantário, com 152 crianças e ATL, com 115 crianças. Depois da Missa paroquial, foi servido um jantar festivo com os funcionários, mais de 80 presentes (dos 125), de todas as valências dos 2 pólos do Centro Social. Foi também oportunidade para saudar, agradecer e estimular os colaboradores e trabalhadores desta notável obra social e cultural, uma das maiores, senão mesmo a maior do distrito de Beja. Assim se fez noite e noite dentro, quando regressei à Casa episcopal, depois de mais de 14 horas de visitas intensas na paróquia do Salvador. Este horário repetiu-se todos os dias da visita pastoral, sendo a primeira vez que senti o cansaço, ao contrário do Pe. Henrique, que, apesar dos seus 70 anos de idade, me dizia, no domingo à noite, que para ele foram dias menos cansativos que habitualmente, pois não teve funerais nem teve de fazer homilias ou palestras de formação. Visitando idosos e doentes em suas casas e nos lares Os dias 1 e 2 de Março foram dedicados, principalmente, a visitar pessoas idosas e doentes nos lares e nas suas casas, espalhadas pelos vários bairros da paróquia, começando pela parte antiga do Bairro da Conceição. Ao meio da tarde do dia 1, presidi a uma celebração do Viático e da Santa Unção na igreja de Nossa Senhora do Monte Carmelo, no pólo 2 do Centro Social. Foram cerca de 50 idosos ungidos, muitos deles em cadeiras de rodas. Seguiu-se um lanche festivo no salão grande do pólo 2, após o qual fui visitar os idosos acamados nos 2 pólos do Centro, residindo no pólo antigo 79 idosos e no pólo novo 86. Depois do jantar reuni com o Conselho Económico da Paróquia e com a Direcção e Conselho Fiscal do Centro. Realçando a imensa obra social e cultural da paróquia, a decrescer sob o ponto de vista sacramental, conforme o relatório apresentado (de 29 baptismos, 11 casamentos e 19 primeiras comunhões no ano 2000 para 19, 5 e 7, respectivamente), mas a crescer na área social, alertei também para a delicadeza do endividamento por causa da construção do novo pólo, com igreja e sede de escuteiros, o qual não diminuiu nos últimos dois anos, estando a funcionar já desde 2004. Também se frisou a especificidade dos projectos socio-culturais, inspirados nos valores cristãos, que procuram transmitir aos utentes e funcionários e foram sugeridas algumas iniciativas em ordem a reduzir as dívidas. As horas marcadas para saudar as forças de segurança, que no dia 2 de Março foram convocadas para uma reunião em Lisboa, dediquei-as à visita aos doentes e mesmo assim ainda não foi possível ir a todos os inscritos pelo praesidium da Legião de Maria. Pelas nove horas visitei a Junta de Freguesia do Salvador, a funcionar no mesmo edifício das quatro juntas das freguesias da cidade, um modelo que muito aprecio e gostaria de ver aplicado nas quatro paróquias para o acolhimento. Nesse mesmo dia, de tarde, visitei o Infantário da Santa Casa da Misericórdia, com cerca de 70 crianças e a Escola Aberta, um projecto infantil criado por um grupo de professores e que atende cerca de 70 crianças em regime de ATL e 23 em creche. Antes do encontro com os representantes dos movimentos e serviços paroquiais, ainda dirigi algumas palavras aos funcionários do Centro do Salvador a frequentar um curso de formação permanente. No encontro dos movimentos e serviços estavam representados a Legião de Maria, que conta com 12 legionárias activas e cerca de 100 auxiliares; as oficinas de oração e vida; o grupo coral litúrgico, o Movimento da Mensagem de Fátima, que é de cariz interparoquial; o grupo de catequistas, as comunidades neo-catecumenais e o grupo de acolhimento, que garante a abertura da igreja duas horas por dia. Na minha breve alocução sobre a natureza e missão da Igreja, acentuei o papel dos leigos na animação cristã da família e da sociedade e apontei algumas carências notadas durante a visita pastoral. Depois da celebração da Eucaristia, fui administrar a Santa Unção a um dos doentes visitados durante o dia. À noite reuni com os membros do Conselho Pastoral e o grupo de Liturgia, apresentando algumas pistas para a realização da comunhão eclesial e desafios para a animação missionária da comunidade paroquial. Fim de semana em várias frentes No sábado, dia 3 de Março, depois de fazer a abertura da assembleia geral da Cáritas diocesana, que teve lugar no Centro Pastoral, visitei a nova sede do agrupamento 641 do CNE de Beja, que funciona a nível interparoquial e está no pólo 2 do Centro Social, no piso por baixo da igreja. Um belo espaço cedido pela paróquia do Salvador para este fim e que fica a assinalar o 25º aniversário deste agrupamento e o 100º da fundação do escutismo. Depois de visitar as salas das quatro secções e outros compartimentos comuns, dirigi algumas palavras de estímulo aos escuteiros presentes e convidei-os a participar numa das celebrações de encerramento da visita. Após ter recebido algumas ofertas simbólicas do agrupamento, fui até ao salão do centro paroquial, onde crianças da catequese, catequistas e alguns pais me aguardavam em ambiente festivo. Apresentado um audiovisual sobre a história da catequese na paróquia (alguns dos pais presentes puderam ver fotografias suas do tempo da infância), dirigi algumas palavras aos presentes sobre a cultura da fé e sobre os vários meios de nos relacionarmos com Deus. Cantou-se alguns cânticos com gestos e movimentos e mais uma vez me foram oferecidas flores e outros trabalhos da catequese. Depois disso falei aos crismandos, a maior parte deles surgido do grupo de pais que levam os filhos à catequese e que, simultâneamente, foram instruídos durante dois anos pelo próprio pároco. Seguidamente visitei as salas dos vários grupos de catequese, todas bem decoradas, caso raro na diocese, pois é difícil encontrar tantos espaços exclusivos para a catequese. O almoço foi uma vez mais no pólo 2, acompanhado das catequistas. Visita Pastoral a Santa Vitória Desde há muitos anos que Santa Vitória é assistida pelos carmelitas, ou a partir de Ervidel ou do Salvador de Beja. Por isso, no sábado, logo ao princípio da tarde, acompanhado do Pe. Henrique, fui fazer também uma breve visita a esta freguesia, a cerca de 18 Km a sul de Beja, que no censo de 2001 tinha 750 habitantes. Na Junta de Freguesia fomos acolhidos pelo executivo e por muitos populares. Visitadas as instalações, partilhadas também pelo Centro de Cultura, Recreio e Desporto, fomos até Mina Juliana, junto às margens da barragem do Roxo, a 6 Km do centro da freguesia. Uma povoação com cerca de 100 habitantes, alguns deles espalhados por vários montes. Aqui, numa pequena capela, tivemos uma celebração da Palavra com a entrega de Bíblias a 8 crianças da catequese, seguindo-se um lanche com os presentes no largo em frente ao local de culto. No regresso ao centro da freguesia passámos pelo Monte da Juliana, com cerca de 20 habitantes, alguns deles apenas presentes no fim de semana. Quando chegámos à igreja de Santa Vitória já o povo a enchia. O Grupo Coral Feminino “Estrelas do Alentejo” reforçou o canto da celebração da Eucaristia. Depois da Missa, atravessámos a aldeia com todos os participantes até às antigas instalações do Jardim Escola da paróquia, agora usadas pelo Grupo Coral. Aqui foi servido um lanche festivo e bem guarnecido e o grupo coral, trajado a rigor, do qual também faz parte a jovem Presidente da Junta, a professora Julieta, deliciou a todos com o seu belo cante alentejano. Com a promessa de aqui voltar, sobretudo para visitar os doentes e a escola, frequentada por 24 alunos dos 4 primeiros anos do ensino básico e por 19 crianças do pré-escolar. O dia de sábado terminou cerca de meia-noite, depois da celebração da Eucaristia com as três comunidades neo-catecumenais, na igreja de Nossa Senhora do Monte Carmelo. Celebrações de encerramento No domingo presidi às 3 celebrações das Missas dominicais da paróquia e que marcaram o encerramento da visita pastoral: uma na capela de S. Pedro, no Bairro da Conceição, logo ao princípio da manhã, outra com a administração do sacramento do Crisma a 11 paroquianos na igreja do Salvador e a terceira ao fim do dia na igreja do pólo 2 do Centro Paroquial e Social. O almoço festivo com muitos paroquianos foi servido no salão grande deste mesmo pólo 2, que neste dia festejou o 3º aniversário da sua inauguração e abertura como lar. Na celebração das 11,30 horas concelebrou D. Manuel Falcão, bispo emérito, que também tomou parte no almoço, no fim do qual, antes de cantarmos os parabéns e partirmos os bolos do aniversário do Centro e dos Crismados, proferi a alocução de encerramento, realçando a grandiosa obra social da paróquia. A avaliação final ficou prometida para o termo das visitas pastorais às quatro paróquias da cidade. Mas não posso deixar de exprimir o meu obrigado ao Pe. Henrique e a alguns seus colaboradores, que prepararam muito bem esta visita, até mesmo confeccionando marcadores alusivos, que foram distribuídos a todos os participantes nas celebrações de encerramento no Salvador, Mina Juliana e Santa Vitória. D. António Vitalino, Bispo de Beja

Partilhar:
plugins premium WordPress
Scroll to Top