Viseu nas Jornadas Mundiais das Crianças

Abel Dias, Diocese de Viseu 

“Eis que faço novas todas as coisas” foi o lema bíblico escolhido pelo Papa Francisco para as primeiras Jornadas Mundiais das Crianças, que decorreram em Roma, nos dias 25 e 26 de maio, onde o grupo infantojuvenil da paróquia de Abraveses, diocese de Viseu, com cerca de 30 crianças acompanhadas pelos pais, tiveram a graça de poderem participar e representar Portugal. Tivemos, também, a presença alegre e dedicada do nosso Bispo, D. António Luciano, que nos acompanhou ao longo de todas as jornadas. O Secretariado Diocesano da Educação Cristã da Diocese de Viseu (SDEC), apesar de não ter tido a ideia inicial (essa partiu do próprio grupo infantojuvenil), desde o início incentivou e ajudou naquilo que podia, pois, acreditou que essa experiência iria produzir frutos na nossa Diocese.

FESTA DA PAZ, DA ESPERAÇA E DA FRATERNIDADE

Sentimos estas jornadas como uma festa da paz, da esperança e da fraternidade, valores tão queridos e vividos pelas crianças e que podem ser a solução e a esperança para construção de um mundo novo, de uma nova maneira de (com)viver na nossa casa comum. Recordo as palavras iniciais, na abertura das jornadas, do cardeal José Tolentino de Mendonça, prefeito do Dicastério para a Cultura e a Educação, que afirmou no estádio olímpico de Roma que as crianças são mestras na arte da amizade, do abraço, do perdão, da convivência fraterna, da alegria simples, da aceitação das diferenças. É esta mestria que as crianças nos podem ensinar e são elas que nos convidam para a festa da paz, da esperança e da fraternidade.

O PODER DAS CRIANÇAS

As crianças são sempre, e em todas as situações, as mais desprotegidas, mas têm muita força. Ser criança é viver num mundo de sonhos e magia, onde a imaginação não conhece limites. Ser criança é ver o mundo com olhos cheios de admiração, é viver num conto mágico, onde o tempo é eterno e a alegria e a paz são o idioma universal. Como diz o Papa, se se desse oportunidade aos sonhos das crianças, o mundo estaria muito melhor. Percebemos isso quando as ouvimos falar dos seus sentimentos e, sobretudo, da maneira como veem a realidade e como a querem mudar. Teremos de deixar que este poder das crianças se torne verdadeiramente efetivo. Um mundo imaginado e sonhado pelas crianças será, necessariamente, melhor e mais justo. Como nos dizia Jesus se quisermos aprender mais sobre o reino de Deus, devemos escutar as crianças: “Deixai as crianças vir a mim; não as impeçais, pois dos que são como elas é o reino de Deus: aquele que não acolher o reino de Deus como uma criança, jamais nele entrará” (Mc 10.14-15). O Papa Francisco disse às crianças que nelas tudo fala de vida e do futuro e que a Igreja, que é mãe, deve acolhê-las e acompanhá-las com ternura e esperança.

O MILAGRE DO PAPA

As Jornadas Mundiais das Crianças afirmaram que o mundo seria certamente um lugar melhor se todos nós vivêssemos ao ritmo e à maneira das crianças. O Papa quis afirmar que as crianças terão de ter uma palavra a dizer na construção de um mundo novo e os adultos terão obrigatoriamente de as ouvir. Uma criança perguntou ao Papa:”. Se o senhor pudesse fazer um milagre, qual escolheria?” O papa respondeu-lhe: “É fácil: que todas as crianças tenham o necessário para viver, comer, brincar, ir à escola. Este é o milagre que eu gostaria de fazer.” O grande milagre que todos necessitamos é a construção de um mundo novo onde todos, todos, todos tenham a oportunidade e o direito a serem e a viverem felizes. Como nos disse o Papa, com Jesus, podemos sonhar uma nova humanidade e trabalhar por uma sociedade mais fraterna e atenta à nossa casa comum.

Este desejo está bem presente no logotipo das próprias jornadas, como nos foi explicado: “a cúpula abraça, acolhe e protege os pequenos representados pelas pegadas, cujas diferentes cores remetem à multiplicidade de culturas que se compõem numa unidade que acolhe e valoriza as diferenças; a lanterna é uma metáfora dos cristãos ‘portadores de luz’, enquanto a cruz simboliza a paixão e a ressurreição do Filho de Deus, que se fez homem por nós”.

 

LUGARES DE ESCUTA E DE ENCONTRO

Penso que estas jornadas lançam alguns desafios à catequese e às aulas de EMRC, percursos que a Igreja tem para a transmissão e partilha da fé às crianças, adolescentes e jovens, chamando-os as ser, cada um com a sua especificidade, locais de escuta e de encontro.   Lugares onde somos convidados para um encontro pessoal e íntimo com a pessoa de Jesus Cristo. Embora o caráter de ensino seja forte nestes lugares, não se trata de transmitir conteúdos, mas sim apresentar uma Pessoa com conteúdos, de conduzir as crianças, adolescentes e jovens a um encontro, de fazer eco a um amor imenso e divino que não mede esforços para alcançar a quem ama. Ninguém nasce cristão, tornamo-nos cristãos e, no início do ser cristão, não há uma decisão ética ou uma grande ideia, mas o encontro com um acontecimento, com uma Pessoa que dá à vida um novo horizonte e, desta forma, um rumo decisivo às nossas vidas, como nos dizia Bento XVI.

A disciplina de EMRC é uma oportunidade para refletir sobe um conjunto alargado de valores, procurando confrontar a vida com o mundo e provocando um compromisso ético sobre a realidade. Frequentar a disciplina de EMRC é ter a possibilidade de aceder a uma chave de leitura cristã para poder interpretar e mudar a realidade, o mundo, que nos rodeia.

Por seu lado a catequese é um espaço de ação, um laboratório de fé, um berço de transformação da realidade a partir do pequeno, simples, mas significativo encontro com Jesus Cristo. Na catequese, do encontro com Cristo Ressuscitado, nascem e emergem gestos concretos, sementes fecundas que germinarão na família, na paróquia, na comunidade, nas amizades e relações e em todo o lugar. Alguém cheio de Deus pode até não dizer uma palavra, mas o seu comportamento, os seus gestos e as suas reações revelam Jesus.

Como o Papa afirmou transmitir a fé, especialmente às novas gerações, um tema muito abordado nestas jornadas, parece um desafio difícil, mas torna-se mais fácil quando acolhemos e valorizamos as crianças encontrando linguagens e espaços mais adequados que podem inspirar e provocar uma fecunda transmissão da fé.

Abel Dias

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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