Viseu: «Comunguemos Jesus e sirvamos com amor fraterno os nossos irmãos» – D. António Luciano

Homilia na Eucaristia Vespertina da Ceia do Senhor

Irmãos e irmãs na fé!

Iniciamos a celebração do Tríduo Pascal, com esta solene Eucaristia, em memória da última Ceia de Jesus com os seus apóstolos e o gesto de lava-pés, para nos lembrar o mandamento novo do amor e dar o exemplo do serviço de caridade, que a Igreja é chamada a fazer para cuidar dos irmãos.

A liturgia da Palavra desta Eucaristia é crucial para entender a grandeza, a altura, a largura e a profundidade do mistério pascal de Cristo.

Não podemos saltar diretamente para o Domingo da Ressurreição, sem compreender a nossa Páscoa, a Páscoa da Igreja, que é a revelação do mistério da Santíssima Eucaristia às nossas comunidades.

Hoje, a Igreja celebra este belo presente de Deus para o mundo inteiro: a Instituição da Sagrada Eucaristia. A Eucaristia é o alimento que Deus nos oferece como “Pão vivo descido dos céus”, para nutrir a nossa vida espiritual.

Jesus no Evangelho fala do mandamento novo do amor e do gesto de lavar os pés aos seus discípulos, Ele que nos deu o exemplo para nós fazermos o mesmo.

O evangelista João, ao olhar o gesto de Jesus, revestido com uma toalha, mostra humildade ao lavar os pés dos discípulos e convida a Igreja a servir a humanidade do mesmo modo. Este gesto de Jesus traduz a Sua humildade e doação de Si mesmo. Pedro, representando a comunidade apostólica, tem dificuldade em aceitar e compreender a atitude de Jesus. Jesus, sem reprovar Pedro, fá-lo compreender a dimensão deste gesto e a importância que tem para a vivência da fé ao servir com humildade.

Jesus celebra a última Ceia com os discípulos, porque sabe que se aproxima a Sua hora, ao passar deste mundo para o Pai, numa atitude de confiança, abandono e entrega.

Tendo amado os seus que estavam no mundo, fê-lo até ao fim, por isso São Paulo na Carta aos Coríntios afirma: “Irmãos: Eu recebi do Senhor o que também vos transmiti: O Senhor Jesus, na noite em que ia ser entregue, tomou o pão e, dando graças, partiu e disse: “Isto é o meu Corpo, entregue por vós. Fazei isto em memória de Mim”. Do mesmo modo, no fim da ceia, tomou o cálice e disse: Este cálice é a nova aliança no meu Sangue. Todas as vezes que o beberdes, fazei-o em memória de Mim” (1Cor 11,23-26).

Como cristãos, sempre que celebramos a Eucaristia anunciamos ao mundo o mistério da Sua Morte e Ressurreição, até, que Ele venha.

Na verdade Jesus é o Pão Vivo descido dos céus, que se fez alimento para saciar a nossa fome, como fez com as multidões na multiplicação dos pães e dos peixes, prefiguração de Eucaristia.

Jesus dá-nos o seu Corpo a comer durante a última ceia e entrega-se por nós ao Pai. Agora convida-nos em cada dia e, de modo particular, ao domingo para participarmos no Banquete da Eucaristia onde se oferece como alimento de vida eterna.

Jesus dá-se a comer “no pequeno pedaço de pão”, para nossa salvação (são Francisco de Assis).

Jesus que se fez humilde na cruz e deu a vida pelos seus amigos está vivo e Ressuscitado na Santíssima Eucaristia, à espera de nós.

Adoremos o Senhor na Santíssima Eucaristia e digamos com fé e espírito de reparação: “Meu Deus, eu creio, adoro, espero e amo-vos, peço-vos perdão para os que não creem, não adoram, não esperam e não vos amam”.

Neste dia, comunguemos Jesus e sirvamos com amor fraterno os nossos irmãos, adorando o nosso bom Deus: “Santíssima Trindade, Pai, Filho e Espírito Santo, adoro-vos profundamente e ofereço-vos o preciosíssimo Corpo Sangue e Alma de Nosso Senhor Jesus Cristo presente em todos os sacrários da terra, em reparação dos ultrajes com que Ele mesmo é ofendido…”

Como os Santos Francisco e Jacinta Marto, o Beato Carlo Acutis, a Beata Alexandrina de Balasar e a Beata Rita Amada de Jesus deixemo-nos apaixonar e iluminar por “Cristo escondido presente na Eucaristia”, façamos da Eucaristia a “nossa auto-estrada para o céu”, alimentemo-nos em “cada dia da Eucaristia” e tornemo-nos  “apóstolos da Eucaristia”. Com Maria, Mãe e Mulher Eucarística aprendamos a caminhar com a Igreja, que nasce da Eucaristia, para sermos uma Igreja a celebrar e a viver a Eucaristia.

Olhemos para o nosso mundo mergulhado em guerras, violências, divisões, medos e injustiças para que encontre na Santíssima Eucaristia o caminho do perdão, da unidade, da partilha e da paz dons tão necessários no nosso mundo.

Rezemos pelos sacerdotes, ministros da Eucaristia e por todos os cristãos, que contribuem com a oração, a vida litúrgica, a partilha do pão e o serviço aos pobres e doentes para que as nossas comunidades, neste Ano Santo Jubilar de Esperança, coloquem Jesus Eucaristia no centro das suas vidas e dos seus projetos pastorais.

Olhemos para o nosso mundo com fé, esperança e caridade, cuidando dos pobres, dos doentes dos migrantes e dos vulneráveis. “A sociedade mudou muito. Já não vivemos numa Europa católica. Ao lado da igreja – pobre mas digna – outras religiões encontraram um lugar importante na vida social” (A vocação dos padres perante as crises, p.107). De que vivemos nós, para quem vivemos?

Renovemos a nossa fé e o nosso amor na Santíssima Eucaristia dizendo: “Ó Jesus, eu vos louvo e vos amo no Santíssimo Sacramento”. Com a Igreja peregrina, que reza e canta digamos: “Bendita e louvada seja a hora e o feliz momento em que foi instituído o Santíssimo Sacramento”.

No fulgor da fé da Igreja louvemos o Senhor: “Ó Sagrado Banquete em que se recebe Cristo e se comemora a Sua Paixão, em que a alma se enche de graça e nos é dado o penhor da futura glória”. Extasiados diante do Mistério de Cristo na Santíssima Eucaristia, caminhando para a Páscoa digamos com toda a fé e força espiritual: obrigado Senhor por seres pão, cordeiro imolado, sangue derramado e banquete dos convidados para a festa das núpcias do Cordeiro Imolado. Ámen!

Quinta-Feira Santa, Eucaristia 17 de abril de 2025

D. António Luciano,

Bispo de Viseu

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