Viseu: Capela de Nossa Senhora da Esperança é um «caso raro» – Fátima Eusébio

Diretora do Departamento dos Bens Culturais da Diocese de Viseu apresenta templo, do século XVIII, constituído por talha dourada, azulejos e pinturas

Viseu, 15 ago 2024 (Ecclesia) – A Diretora do Departamento de Bens Culturais da Diocese de Viseu afirmou à Agência ECCLESIA que a Capela de Nossa Senhora da Esperança é “um caso raro”, situado em São Miguel de Vila Boa, no Sátão, no interior do país, dado o espólio que apresenta.

“É inevitável ficar deslumbrado, com esta exuberância de cores, de brilhos, de elementos” trabalhados em “talha”, “pintura” e “azulejo”, afirmou Fátima Eusébio.

Com edificação iniciada na década 20 do século XVIII, esta não é uma “capela pública”, mas sim da Irmandade de Nossa Senhora da Esperança, que terá sido fundada por volta de 1670, explica.

De acordo com a responsável, até há bem poucos anos a capela estava fechada e era de “difícil” acesso.

“Havia a devoção à Senhora da Esperança, nessa capela havia uma imagem de Nossa Senhora da Esperança, e será associada precisamente a essa devoção que há a instituição de uma Irmandade”, contextualiza a também diretora do Secretariado Nacional dos Bens Culturais.

Fátima Eusébio destaca que quando há uma devoção com uma presença “tão grande na vivência religiosa das comunidades, justifica-se que às vezes haja a iniciativa precisamente da criação de uma Irmandade com esta invocação”.

O exterior da capela é caracterizado por um adro que se posiciona num registo ligeiramente superior em relação aos arruamentos envolventes e um segundo adro de dimensões mais pequenas.

De acordo com a diretora do Departamento de Bens Culturais da Diocese de Viseu, a fachada da capela é “simples”, com “frontal triangular, perfeitamente despojada”.

“Todos os enquadramentos de cantaria associados precisamente aos vãos, seja a porta, as janelas, etc., sem qualquer decorativismo, portanto temos o despojamento total”, refere.

O exterior da Igreja de Nossa Senhora da Esperança tem ainda alguns elementos do maneirismo, já o interior é barroco e apresenta com alguns elementos do rococó.

“Isto porque a capela foi construída ali, por volta de 1720 até 1768 e o que temos aqui é esta articulação destes diferentes elementos artísticos que se enquadram todos eles perfeitamente”, salienta.

Capela de Nossa Senhora da Esperança

Os azulejos da capela têm motivos profanos, derivam de cartões que circulavam e que se repetem por vários sítios.

Neles podem ser vistos cenas de caça e jovens a andar de baloiço, exemplifica Fátima Eusébio.

“O conceito é tudo aquilo que se vai saborear aqui no interior, aquilo que se vai ouvir e sentir em termos da palavra de Deus só tem sentido se não ficar circunscrito a este espaço e for levado para a nossa vida quotidiana e, portanto, daí a presença destes azulejo”, indica.

Fátima Eusébio aponta como uma das curiosidades da Igreja é que toda ela é “um verdadeiro hino de louvor à Virgem”, que está não só presente com a escultura que está no meio do retábulo da capela-mor, como também é evocada “através de uma série de elementos simbólicos”, nomeadamente no arco cruzeiro de dois anjos.

“Vamos ter depois no próprio púlpito no remate do retábulo Amor, repete-se muito o monograma de Maria, é um elemento que se repete constantemente, na face frontal do púlpito temos esse monograma e sempre com a coroa, essa é uma particularidade, é que aqui Maria é sempre apresentada como a Rainha, a Rainha da Humanidade, a Rainha do céu”, evidencia.

A capela é constituída também por um órgão de tubos, onde se fazem regularmente alguns concertos e que tem sobre o teclado uma inscrição que remete para Maria.

“É um verdadeiro depoimento de louvor à Virgem”, sublinha a diretora do Departamento de Bens Culturais da Diocese de Viseu.

Quanto à talha dourada, Fátima Eusébio enfatiza que esta dá uma luminosidade “fortíssima” à Igreja.

A capela de Nossa Senhora da Esperança é um exemplo da boa conservação que, segundo Fátima Eusébio, foi possível graças a um livro, a primeira edição de uma monografia sobre este património, em 2006, que espoletou “um tamanho interesse por este espaço que fez com que houvesse uma mobilização muito importante por parte do município”.

“Tudo foi restaurado, inclusive o órgão de tubos que passou a tocar novamente. E, hoje em dia, é local de visita obrigatória [para] quem vem ao conselho do Sátão”, realça.

Fátima Eusébio realizou uma tese sobre A Talha Barroca na Diocese de Viseu e escreveu uma publicação sobre a capela de Nossa Senhora da Esperança, tendo por isso uma ligação especial com a Igreja.

“O meu coração está muito presente aqui. Porque quando nós nos dedicamos a estudar em profundidade um espaço destes, necessariamente fica aqui um bocadinho de nós e levamos muito daqui. E, por isso, tenho muito orgulho por ela estar na Diocese de Viseu, mas tenho um gosto imenso por aquilo que ela simboliza, sobretudo”, concluiu.

A capela de Nossa Senhora da Esperança ainda não é santuário, mas o processo está a ser diligenciado nesse sentido.

LFS/LJ/OC

Em cada quinta-feira de agosto, são divulgados destinos como propostas de visita, durante o tempo de férias, no Programa Ecclesia (RT?2, 15h00); neste dia 15 de agosto é apresentada a Igreja Nossa Senhora da Esperança, da Diocese de Viseu.
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