Em causa estão preocupações de conservação mas também o desenvolvimento de rotas culturais O Colóquio sobre “Salvaguarda dos Bens Culturais da Igreja” contou com a sua quarta edição, este ano sob o tema “Turismo Religioso e Cultural”. Numa iniciativa da Universidade Católica Portuguesa, no seu pólo de Viseu, o principal objectivo, depois dos três primeiros encontros se terem debruçado sobre a preservação e conservação do património da Igreja, “era dedicarmo-nos a temáticas mais vocacionadas para o turismo”, explica à Agência ECCLESIA Maria de Fátima Eusébio, da Comissão Organizadora do Colóquio. A UCP criou recentemente um curso ligado ao turismo, e este evento insere-se também na comemoração dos 40 anos da Universidade Católica em Portugal. “Consideramos pertinente alargar a discussão, também porque o turismo cultural e religioso é um dos percursos por onde se pode fruir o património da Igreja, para além da vertente espiritual”, sustenta. Há um potencial de desenvolvimento do património religioso em Viseu. Quando estes encontros se começaram a realizar o grande objectivo da Comissão Organizadora era proporcionar formação e sensibilização “a par da responsabilização”, na protecção do património da Igreja, tendo como público privilegiado “na altura, os sacerdotes”, dada a sua posição de “interlocutores privilegiados”. Mas a adesão estende-se a jovens, técnicos de conservação e restauro, comissões fabriqueiras, professores, técnicos de museus, arquitectos, entre outros. Este ano verificou-se uma “grande participação de sacerdotes e particularmente da diocese de Viseu”, adianta Maria de Fátima Eusébio. A diocese de Viseu enfrenta há uns anos uma mudança, “também nesta área cultural”, regista, adiantando que contam com um bispo “particularmente interessado num inventário e no desenvolvimento de acções que promovam uma cultura de conservação”. Está por isso em curso uma viragem que “será fundamental”, afirma Maria de Fátima Eusébio, tendo este colóquio sido um contributo para esse efeito. “Foram abordadas as grandes linhas orientadoras para se assegurar esta protecção, conservação e fruição do património da Igreja”. O projecto de inventário está já em vista de desenvolvimento, “pois estamos a tomar diligências práticas para que isso aconteça”. Existe uma Comissão de Arte Sacra na diocese de Viseu, “mas é mais procurada por alguns sacerdotes que pretendem informação sobre restauro”, não desenvolvem um projecto de actuação. D. Ilídio Leandro, no próprio Colóquio na UCP, referiu que vai ser criado um grupo liderado por um técnico especializado. Até agora, a inventariação ficava muito no nível “do voluntariado”. Prevê-se o início dos trabalhos para “Setembro ou Outubro”. Esta fase de inventariação é fundamental para que se possa partir para um projecto de “turismo religioso”, e à medida que se avança, “disponibilizar rotas como turismo religioso e cultural e pensar em rotas temáticas”, exemplifica. Esta preocupação “começa a surgir em algumas dioceses”, comparativamente com anos anteriores, “quando esta era uma área descurada e havia uma certa estagnação”. A própria hierarquia da Igreja “está agora consciente da necessidade de preservar o património e de pensar estratégias”, sublinha Maria de Fátima Eusébio, no entanto afirma convictamente “que a Igreja sozinha não consegue, precisa de parcerias com instituições nacionais ou locais”. Um exemplo desta possibilidade é o protocolo celebrado entre a autarquia de Viseu e a diocese com vista à atribuição de sete mil euros ao Tesouro-Museu da Catedral, onde se encontra um valioso espólio de arte sacra, protocolo este dado a conhecer pelo Bispo de Viseu à Agência ECCLESIA, em Março passado. “As autarquias têm de ser parceiros privilegiados neste processo”, refere, até porque o património da Igreja representa “uma mais valia em termos de património cultural que as autarquias têm”, adianta, sendo este é um passo essencial para se conseguir avançar “com estes projectos”. Na diocese de Viseu são de assinalar as visitas culturais, “temos vários santos que possibilitam a elaboração de visitas temáticas”, rotas ligadas ao barroco “ou sobre a talha excelente que temos na diocese”, sugere Maria de Fátima Eusébio. Existem também algumas festividades que concentram muitas pessoas na região e “podem ser criados itinerários específicos conforme o calendário”. Criar condições de visita é outra necessidade “porque podemos propor rotas e elaborar visitas mas se as portas estiverem fechadas, não adianta”, lamenta, dando conta da situação de alguns espaços pela a sua vulnerabilidade e falta de técnicos.