Visão ortodoxa e católica da economia e da sociedade têm muito em comum

Católicos e ortodoxos partilham a visão de que a concepção do bem comum é algo mais do que a perspectiva material e que são os princípios éticos que devem reger a economia e o mercado. Esta visão ficou evidente durante a apresentação, em Moscovo, de um livro sobre a Doutrina Social da Igreja, escrito pelo Secretário de Estado, Cardeal Tarcisio Bertone, e com o prólogo do metropolita Kirill de Smolensk e Kaliningrado. Na apresentação estiveram presentes, por parte da Igreja Ortodoxa, o bispo Mark de Egorievsk, vice-presidente do Departamento de Relações Eclesiásticas externas do Patriarcado de Moscovo, e por parte da Igreja Católica, o Núncio apostólico, arcebispo Antonio Mennini, e um representante do arcebispo católico de Moscovo, D. Paolo Pezzi. Segundo explica o metropolita Kirill no prólogo “há uma grande sintonia com a Doutrina Social da Igreja Ortodoxa Russa”, facto que na sua opinião “dará um importante impulso ao diálogo” entre ambos. Neste sentido, o metropolita explica os pontos fundamentais do pensamento ortodoxo nesta matéria, em particular a visão do conceito de bem comum como “fraternidade”, ponto no qual concorda com o cardeal Bertone. “Trata-se de um conceito perfeitamente compatível com o pensamento ortodoxo”, aponta no prólogo, que foi publicado pelo «L’Osservatore Romano», em sua edição italiana de 25 de Setembro. O conceito ortodoxo de bem comum, explicou, “não se reduz só ao bem-estar material, à paz e a harmonia na vida terrena, mas refere-se principalmente na aspiração do homem e da sociedade à vida eterna, que é o sumo bem”. “A história mostra claramente que só a aspiração a um fim superior, a capacidade de sacrificar os bens terrenos em favor dos bens do céu, a capacidade de procurar tarefas de ordem superior, espiritual, tornam a sociedade vital e dão significado à vida de cada pessoa”, afirma. No acervo cultural russo, acrescenta o metropolita, “está inscrita a prioridade dos bens espirituais sobre os materiais, juntamente com outra forte tradição de cuidado na gestão dos bens materiais, que nos dão a possibilidade de realizar boas acções”. Recuperar a «gratuidade» Por sua vez, o Cardeal Tarcisio Bertone explica na sua obra que o conceito do bem comum para os católicos não se limita às ideias de justiça e solidariedade, próprias do utilitarismo filosófico, mas deve introduzir a ideia de “reciprocidade”, que permite uma concepção mais ampla das relações sociais. Neste sentido, declara, a grande contribuição do pensamento católico é a de introduzir, no esquema filosófico utilitarista que considera as relações sociais como um intercâmbio entre o “eu” e o “tu”, baseado num contrato, a ideia de um “terceiro”, baseada no conceito de “fraternidade”. Segundo o Secretário de Estado do Vaticano, “a Europa não seria a mesma sem os beneditinos ou os franciscanos, inclusive do ponto de vista social e económico. Os carismas sociais das ordens religiosas entre os séculos XVIII e XIX, que deram vida a hospitais, escolas e obras caritativas, marcaram o nascimento e o desenvolvimento do moderno Estado social». “A mensagem central desta encíclica é a de pensar na gratidão, ou seja, na fraternidade como ponto de referência da condição humana, e portanto, ver no exercício do dom o pressuposto indispensável para que o Estado e o mercado possam funcionar tendo em vista o bem comum”. Redacção/Zenit

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