No Domingo realizaram-se na República Democrática do Corgo as primeiras eleições democráticas em 40 anos, mas durante os últimos dias registaram-se violentos confrontos na capital. Num país onde continuam a morrer 1200 pessoas a cada dia que passa, as agências humanitárias alertam para o perigo de milhares de deslocados virem a morrer à fome. Os congoleses viveram 32 anos sob a ditadura de Mobutu Sese Seko e passaram por duas guerras sangrentas na década de noventa. No próximo dia 30 irão às urnas para votar num dos 33 candidatos à presidência nas primeiras eleições democráticas realizadas em 40 anos, caso o processo eleitoral possa decorrer em normalidade. Os analistas apontam para a recondução de Joseph Kabila, que desde 2001, após o assassinato do seu pai, o ex-Presidente Laurent-Desire Kabila, está à frente dos destinos da nação. Mas nas ruas da capital, Kinshasa, registaram-se explosões, tiroteios e manifestações de protesto contra alegadas fraudes no processo eleitoral. A continuação da instabilidade e da violência que assola o leste do país provoca dezenas de milhar de refugiados. O Programa Alimentar Mundial das Nações Unidas fez um apelo urgente aos doadores internacionais para assistir a estas pessoas que vivem numa situação dramática, com as reservas de alimentos a esgotarem-se e a subnutrição a fazer vítimas, principalmente entre as crianças. A República Democrática do Congo é hoje um dos países com a mais alta taxa de mortalidade infantil no mundo: morrem mais crianças com menos de cinco anos no Congo do que na China, que tem uma população 33 vezes superior. Por dia morrem cerca de 600 crianças em resultado directo ou indirecto dos conflitos entre milícias e exército. Devolver a esperança Num país onde a larga maioria da população é cristã (95%), os representantes católicos têm vindo a denunciar a violência, a corrupção e a falta de vontade política, nacional e internacional, para acabar com o calvário da população. Há um ano, em entrevista à Ajuda à Igreja que Sofre, o presidente da Comissão Episcopal Justiça e Paz, Monsenhor Theophile Kaboy, alertava para a necessidade de reabilitar os congoleses após décadas de sofrimento. “Após 40 anos, de ditadura em ditadura, a população sente-se ignorada, humilhada e frustrada. A Conferência Episcopal considera fundamental devolver a esperança a este povo e, sobretudo, devolver-lhe os seus direitos”, referiu o prelado. Neste sentido, a Igreja Católica promoveu acções de formação cívica básica junto da população para mobilizar e preparar a população congolesa, procurando que as eleições se realizassem de forma livre e sejam justas.