Violência Sexual/Igreja: «Estamos num momento-chave de continuidade», diz Ricardo Barroso, do Grupo VITA, sobre processo de resolução dos abusos

Organismo e Conferência Episcopal Portuguesa organizam na quinta-feira um congresso dedicado ao tema, reunindo especialistas nacionais e internacionais, em Fátima

Lisboa, 25 nov 2025 (Ecclesia) – Ricardo Barroso, do Grupo VITA, considera que se vive atualmente um ponto crucial no que respeita ao processo de resolução da problemática dos abusos sexuais na Igreja Católica.

“Estamos num momento-chave de continuidade. Ou seja, […] não podemos mascarar que pode haver o risco de muito daquilo que foi feito até ao momento ficar sem qualquer continuidade. Este é um problema, não estou a dizer que vai acontecer, mas evidentemente é um risco e que tem que ser atendido”, afirmou o membro do organismo.

Em declarações ao Programa Ecclesia, transmitido hoje na RTP2 (15h), Ricardo Barroso destaca que “houve um grande investimento por parte da CEP [Conferência Episcopal Portuguesa] na resolução deste problema” e que a maioria das dioceses tem colaborado neste processo.

O Grupo VITA, organismo para o acompanhamento de casos de abusos sexuais na Igreja Católica, e a Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) promovem esta quinta-feira, no Centro Pastoral Paulo VI, em Fátima, um congresso internacional com o tema “Da Reflexão à Ação: O Papel da Igreja Católica na Prevenção e Resposta à Violência Sexual”.

O objetivo é, de alguma forma, refletir sobre este percurso que foi feito até agora, procurarmos consolidar práticas eficazes de intervenção que o Grupo VITA, em conjunto com as várias dioceses do país, tem procurado implementar ao nível da prevenção primária, ao nível da formação dos próprios intervenientes em várias dimensões”, explicou Ricardo Barroso.

O membro do organismo dá o exemplo de que catequistas, bispos, diáconos e todos aqueles que compõem a hierarquia e integram a vida da Igreja têm sido alvo de um conjunto de formações, desde que o Grupo VITA iniciou atividades, em 2023.

O congresso internacional, que vai reunir vários especialistas nacionais e internacionais, tem já 250 pessoas inscritas e, segundo o responsável, é provável que o número seja ultrapassado.

“Durante a manhã iremos refletir sobre um conjunto de temas que vão estar ligados a esta questão que é o papel da Igreja Católica na prevenção da resposta à violência sexual, o que foi feito e o que é necessário fazer, e vamos ter aqui um conjunto de colegas estrangeiros e nacionais”, esclareceu.

Entre os oradores convidados está a professora Marie Keenan que, segundo Ricardo Barroso, é uma das pessoas que esteve envolvida “no processo de intervenção e de resolução do problema da resposta à violência sexual no contexto da Igreja irlandesa”.

“Vai contar um pouco da experiência dela e dos desafios que eles tiveram, e é um processo que começou há quase 20 anos, é importante ter esta noção, ou seja, há muitos países que começaram esta circunstância há quase 20 anos, ou até mais de 20 anos, e nós em Portugal começámos há dois, três anos”, salienta.

O membro do Grupo VITA considera que é importante para Portugal aprender com os exemplos de outros países e “antecipar um conjunto de problemas”.

O programa do encontro inclui mesas focadas nos programas de intervenção e nos aspetos de comunicação deste problema, bem como a realização de sete workshops, um deles exclusivo para membros da Igreja, orientado pelo padre jesuíta Hans Zoller, membro da Comissão para a Proteção de Menores e Pessoas Vulneráveis da Diocese de Roma.

No contexto da Igreja Católica em Portugal, o membro do Grupo VITA lembra que o relatório da Comissão Independente, que mapeou e identificou o problema, “foi muito importante para os passos seguintes” em que o organismo procurou, em conjunto com as dioceses, “pôr em prática um conjunto de medidas que permitisse essa prevenção da violência”.

“Temos feito um caminho, portanto esse caminho agora foi difícil começar, foi difícil implementar, eram coisas novas, mas a experiência […] era bastante positiva e é positiva neste sentido, em que há uma abertura, há um maior interesse por parte de todos”, referiu.

PR/LJ/OC

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