Violência no Iraque é mais política do que religiosa, diz arcebispo de Bagdad

Prelado pediu o envolvimento da Europa no processo de paz e referiu que a perseguição aos cristãos sucede sobretudo nas regiões em que o fundamentalismo tem mais poder

O arcebispo latino de Bagdad, D. Jean Benjamin Sleiman, assegurou que o problema da violência no Iraque "se deve mais a causas políticas do que religiosas".

Durante uma conferência de imprensa realizada ontem em Madrid, na sede da Cáritas Espanhola, o prelado reconheceu que no último ano se constatou uma evolução muito importante neste domínio, tendo-se registado um decréscimo de 80% no número de vítimas por causa da violência.

De acordo com a Agência Zenit, o arcebispo expressou o seu temor ante a possibilidade de que os atentados dos últimos dias contra vários templos católicos "destruam a esperança que esta diminuição da violência estava a despertar nas pessoas", fazendo com que "muitos cristãos optem por fugir do país".

D. Sleiman foi a Espanha na companhia do director da Cáritas Iraquiana, Nabil Nissan, com o objectivo de transmitir pessoalmente a diversos interlocutores da Igreja e da Cáritas do país vizinho as possibilidades que se abrem após a saída das forças norte-americanas. O prelado descreveu igualmente as necessidades humanitárias mais urgentes que estão a ser apoiadas pela organização.

O encontro ocorreu dez anos depois da visita efectuada pelo então patriarca caldeu Rafael Bidawid.

Reconciliação e perseguição

O arcebispo latino de Bagdad referiu que o grave desafio da "reconciliação nacional" que o Iraque enfrenta actualmente não poderá ser abordado enquanto a divisão social e territorial continuar latente: "Na medida em que se avançar na reconciliação, poder-se-á avançar também na solução dos nossos problemas".

A questão da perseguição religiosa, que nos últimos anos provocou o exílio de pelo menos metade dos cristãos iraquianos, foi igualmente mencionada pelo arcebispo. Para D. Sleiman, a situação dos cerca de meio milhão de crentes, pertencentes a uma das 14 Igrejas cristãs presentes no país, é mais precária nos lugares onde o fundamentalismo tem maior poder: "onde há fundamentalismo, existe perseguição", declarou.

Prioridades da Cáritas: ajuda humanitária e saúde

Além do programa de ajuda humanitária para as pessoas em condições mais vulneráveis, a Cáritas realiza um importante trabalho nos campos da nutrição infantil, do cuidado médico e da protecção aos deficientes e sem-abrigo causados pela violência.

É na área da saúde que o Iraque apresenta actualmente as maiores carências. Segundo estimativas da Cáritas, o país precisa pelo menos de três mil novos centros de saúde para poder oferecer cuidados mínimos a toda a população. Além da carência de infra-estruturas, o país é afectado pela falta de médicos especialistas e pela saída, nos últimos anos, de 40% do pessoal de saúde.

"O problema do Iraque é também um problema vosso"

Durante o encontro com a imprensa, D. Sleiman exortou os cristãos e a opinião pública a tomarem consciência de que "o problema do Iraque é também um problema vosso, um problema de toda Europa".

"A questão do Iraque – disse – não se reduz apenas a este país, mas afecta todo o Médio Oriente, e as consequências da violência nesta região atingem também toda a Europa. Por isso é urgente que aqui se dêem conta de que construir a paz no Médio Oriente e no Iraque equivale a construir ao mesmo tempo a paz na Europa".

Foto: Polícias iraquianos guardam igreja em Bagdad 

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Agência ECCLESIA

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