Violência doméstica: Agressor tem de ser «devidamente penalizado e reabilitado»

Diretor do Departamento de Intervenção Social da Santa Casa da Misericórdia do Porto afirma que é necessário «normalizar a discussão» acerca do problema

Foto Renascença

Lisboa, 27 nov 2022 (Ecclesia) – O diretor do Departamento de Intervenção Social da Santa Casa da Misericórdia do Porto (SCMP) afirmou que é necessário “normalizar a discussão acerca da violência” e disse que o agressor tem de ser “devidamente penalizado e reabilitado”

“Nós centramos muito a intervenção na mulher vítima de violência e ainda muito pouco no agressor. Enquanto o agressor não for devidamente penalizado, devidamente reabilitado, o nosso sistema vai continuar a ser muito deficitário”, afirmou João Belchior na entrevista conjunta à Agência ECCLESIA e à Renascença.

Para o responsável pelo Departamento de Intervenção Social da SCMP, a justiça “é excessivamente branda” e há sentenças judiciais em casos de violência que “são de lamentar”.

“Enquanto formos brandos e enquanto não metermos realmente a colher entre marido e mulher, vamos continuar a ter problemas”, afirmou.

Doutorado na Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto, com uma investigação sobre “Acolhimento institucional para mulheres vítimas de violência doméstica”, João Belchior disse que o fundamental é estimular na sociedade uma “cultura de respeito”, acrescentandp que “a agressão verbal não pode ser tolerada”, não só nas relações conjugais, mas desde o ambiente escolar e no quotidiano.

A solução para as questões da violência têm de ser educativas, têm de ser preventivas e passam obrigatoriamente por uma cultura de respeito. E nós estamos longe de uma cultura de respeito”,

“A violência é resultado de toda uma educação disfuncional que nós vamos permitindo coletivamente”, referiu.

João Belchior alertou para o facto das crianças poderem ser também “vítimas diretas” de violência e, mesmo que o agressor não agrida diretamente, os mais novos não têm “competências necessárias para poder processar emocionalmente tudo aquilo que veem”.

As marcas da pandemia e o agravar da situação socioeconómica na atualidade “não veio ajudar em nada este processo” e , “apesar da violência doméstica ocorrer em qualquer contexto sociocultural e socioeconómico, a pobreza é um fator de risco”.

“As vítimas acabam por não ter tantos recursos para poder encontrar alternativas. O que me parece importante é também ajudarmos a passar a mensagem de que existem alternativas e que, independentemente do contexto onde a vítima esteja, há alternativas e existem entidades que estão aqui dispostas a ajudar 24h00”, afirmou.

Para o diretor do Departamento de Intervenção Social da SCMP, é necessário “normalizar a discussão acerca da violência”, uma vez que “só falando abertamente, só tornando este fenómeno o mais visível possível” é possível “intervir com maior objetividade”.

“Nós estamos falar de um trabalho geracional que temos à nossa frente. E, enquanto não fizemos uma verdadeira educação para o respeito pela diferença, pelo outro, em que seja realmente promovida uma cultura de aceitação, de respeito interpessoal, não iremos ter diferenças significativas”, sublinhou.

A Santa Casa da Música do Porto criou, há 20 anos, a Casa de Santo António para acolher mulheres vítimas de violência e, para alertar a opinião pública para o problema, apresentou nos dias 25 e 26, no Teatro Rivoli, a ópera ‘Lugar Comum’.

Entrevista conduzida por Henrique Cunha (Renascença) e Paulo Rocha (Agência Ecclesia)

PR

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Agência ECCLESIA

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