António Delfim fala em sentimento «diferente» ao chegar ao santuário
Alijó, 15 mai 2018 (Ecclesia) – António Delfim, de Ribalonga (Alijó), na Diocese de Vila Real, é peregrino de Fátima e desde 1985 que maio é sinónimo de caminhar até ao santuário nacional, numa jornada de mais de 300 quilómetros em apenas três dias.
“Ao chegar ao santuário, é diferente. Parece que é um céu, para mim é. Esquece-se tudo. Já vou bem, mas ao chegar ainda melhor”, disse à Agência ECCLESIA.
António Delfim não consegue explicar o que encontra quando chega à Cova da Iria, diz apenas que “é uma alegria”.
“Lá é outro mundo. Tenho muito que agradecer a Nossa Senhora”, explica e revela que começou a peregrinar a pé depois dos médicos terem alertado “para o pior” quando a esposa que “sofria muito do coração foi operada”.
“Fiquei preocupado e a família toda. Prometi a Nossa Senhora e ela ajudou-me, nunca a recompenso. Sou feliz graças a Deus, tudo o que pedi tem sido aceite”, diz António Delfim, acrescentando que a esposa tem 65 anos, “já fez mais duas operações e tem corrido sempre da melhor forma”.
O pastor de profissão faz-se peregrino e parte em “qualquer dia” de maio, num percurso de mais de 300 quilómetros feito em apenas três dias.
O membro do Conselho Paroquial de Ribalonga, na Diocese de Vila Real, tem um rebanho de ovelhas e cabras com cerca de 150 animais e crias que não podem ficar sozinhas, por isso, quando chega a Fátima não perde tempo.
“A primeira coisa que faço é ir-me confessar. Faço o que tenho a fazer e venho-me embora”, refere, explicando que “não há quem guarde a cria” e este ano teve de vir de França um dos filhos cuidar dos animais.
Sobre as rotinas da peregrinação, conta que todas as manhãs reza a oração do Terço e ao longo do dia vai “rezando” conforme pode e só descansa durante as refeições.
“E continuo sempre. Por exemplo, ao meio-dia mando logo fazer a merenda para o meio da tarde, depois onde comer à noite mando logo fazer a comida para o outro dia de manhã”, acrescenta.
Segundo António Delfim “o percurso tem sido sempre o mesmo”, sendo que na primeira noite vai ficar “sempre em Viseu, a segunda a Cernache e a terceira em Fátima”.
“Há dois anos fui com alguém, demorou mais, mas quando vou sozinho fiz sempre em três dias”, comenta, assegurando que “nunca” teve problemas.
“De minha casa conforme saio, entro, nunca tive problemas, tem corrido tudo bem até hoje”, garante.
Os dias 12 e 13 de maio, a primeira grande peregrinação em cada ano à Cova da Iria, para o pastor de Ribalonga são passados longe de Fátima e acompanha o que pode pela televisão, mas “é muita diferença, é outra vida”.
Peregrino há 33 anos, o entrevistado também já foi operado e falhou dois anos, mas “nunca” pensou que ia deixar de caminhar ao santuário.
“Senti-me sempre com vontade, graças a Deus fiquei 100%, nunca tive problemas. Esses dois anos em minha casa, quando era a semana de vir, já não me sentia bem. Ficava aborrecido, era eu e a família”, desenvolve.
“Se não vou não fico bem, não sei o que se passa”, acrescenta o pastor de Ribalonga.
Com 66 anos de idade, António Delfim sempre se dedicou à pastorícia e passa os “dias a subir e a descer montanhas e em planícies” e, como “há horas para tudo”, passa os dias “quase a rezar”.
“Rezo uns terços e faço as minhas orações como sei”, conta.
O pároco de Ribalonga destaca que António Delfim “é uma pessoa muito empenhada na Igreja” onde faz parte do conselho paroquial.
“A Missa ao domingo é sempre às 08h30 e nunca deixa de participar, depois vai cuidar do gado”, acrescenta o padre José Amílcar Sequeira, em declarações à Agência ECCLESIA.
Neste contexto, assinala que se há uma alteração no horário da Eucaristia, como “acontece uma vez por mês”, o paroquiano vai à paróquia vizinha de “Pópulo e não deixa de participar”.
“O meu tempo dá para tudo, dá para ir à Missa, espero que Deus me ajude daqui por diante, continuarei o mesmo”, assegura, por sua vez, António Delfim.
Segundo o sacerdote, “o Senhor António é uma pessoa com muito fé”, “é admirável” e um exemplo nas aldeias desertificadas da Diocese de Vila Real.
“A comunidade é pequena, mas as pessoas que existem na aldeia são de muita fé”, realça ainda o pároco de Ribalonga, o padre José Amílcar Sequeira, no Concelho de Alijó.
CB/OC