Paulo Rocha
Assinalar direitos fundamentais de cidadãos e sociedades modernas, como a liberdade ou o trabalho, acontece a partir do hoje, de indicadores da atualidade, de fatores que ditam a definição de prioridades no debate público e privado, determinado com frequência por tendências mediáticas. Uma circunstância aparentemente inócua e natural, não correspondesse à ameaça de que esses olhares, que festejam um regime livre, afirmam deveres e reivindicam direitos, possam criar o ambiente para enxertar em direitos fundamentais de qualquer sociedade um alargado âmbito de afirmação do indivíduo, que atingiu já a impossibilidade de nascer a quer considerar a opção por morrer.
Claro que todos os temas relacionados com a vida, no alvorecer como no entardecer de todos os percursos humanos, nunca podem esconder a totalidade do arco do tempo em que se realiza, afirmando em todos os momentos a salvaguarda da dignidade, a rejeição de ocasiões de morte e sobretudo a busca constante de sentido para o acontecer quotidiano. E mesmo que muito já tenha sido feito nessa garantia pessoal e social, muito mais há a fazer diante de atropelos aos direitos humanos. A começar por quem os apregoa! E, claro, nas circunstâncias de cada dia.
Emerge como paradoxal o debate sobre a possibilidade de por fim à vida em nome da liberdade, tendo por fundamento a contagem de votos, mecanismos da democracia. E ainda mais contraditório parece quando se reivindica esse livre-arbítrio sob a bandeira de um regime livre, encontrando nele as razões para tentar conquistar essa hipótese, colocando-a ao mesmo nível da luta pelo fim de ditaduras.
Poderá a liberdade matar homens e mulheres livres? A democracia entra em sobressalto – e muito bem – quando assim acontece em qualquer etapa da vida humana, quando alguém mata outro, e diz sempre que a pena de morte nunca é solução. Que assim aconteça também nas pontas, no início e no fim da vida!