Percurso da fundadora pode «trazer à Igreja a consciência da presença real de Jesus na Eucaristia», destaca irmã Maria José Oliveira
Bragança, 02 fev 2024 (Ecclesia) – A Congregação das Servas Franciscanas Reparadoras de Jesus Sacramentado, nascida na Diocese de Bragança-Miranda, está a desenvolver a recolha de testemunhos para abertura do processo de beatificação da irmã Maria de São João Evangelista.
“[A congregação] vai continuar a fazer essa recolha de testemunhos, sobretudo, aqueles testemunhos ainda vivos. Vai continuar o trabalho já iniciado, porque são centenas de escritos. E vamos, sobretudo, continuar a rezar para que consigamos levar a bom termo este processo que agora iniciou”, disse a superiora geral das Servas Franciscanas Reparadoras de Jesus Sacramentado (SFRJS), em declarações à Agência ECCLESIA.
A última Assembleia Plenária da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), realizada de 13 a 16 de novembro de 2023, em Fátima, “deu parecer favorável” à abertura do processo de beatificação da irmã Maria de São João Evangelista, cofundadora da congregação das Servas Franciscanas Reparadoras de Jesus Sacramentado, na Diocese de Bragança-Miranda.
A irmã Emília Seixas recorda que o “parecer favorável” da CEP foi acolhido “com grande júbilo, porque as religiosas estavam “ansiosas para que houvesse este passo”.
“Fizemos também um momento, um tempo e um espaço de oração, de agradecimento e, sobretudo, de louvor, porque vemos nisto tudo muito presente a interação da irmã São João para que este processo se inicie, e possamos, daqui a uns anos, chamar irmã São Maria João Evangelista. Esse é o nosso objetivo, é o nosso anseio”, desenvolveu.
Alzira da Conceição Sobrinho, nome de batismo da irmã Maria de São João Evangelista, nasceu em Pereira (Mirandela), a 4 de abril de 1888, e faleceu em Chacim (Macedo de Cavaleiros), a 10 de junho de 1982, no Dia do Corpo de Deus; o comunicado final da 208.ª assembleia plenária da CEP destaca que levou “uma vida de intenso fervor eucarístico, de diversos meios têm surgido testemunhos sobre graças obtidas de Deus por sua intercessão”.
“É indescritível, a gente não consegue descrever o que é que sente no coração no momento em que é lido um comunicado desses”, acrescenta a superiora geral das SFRJS.
A irmã Emília Seixas explica que já estavam a trabalhar neste processo “há mais ou menos dois anos”, através da irmã Maria José Oliveira, o bispo emérito de Bragança-Miranda D. António Montes e Pedro Sinde, arquivista das SFRJS.
A irmã Maria José Oliveira partilhou também, com a Agência ECCLESIA, a “enorme alegria”, “com muita ação de graças”, com que recebeu a notícia do “parecer favorável” dos bispos católicos portugueses para a abertura do processo de beatificação da irmã Maria de São João Evangelista, “não só por ela ser” da sua congregação, “mas sobretudo pela mensagem de que é”.
“Uma mensagem de Jesus e dessa mensagem poder trazer à Igreja a consciência da presença real de Jesus na Eucaristia e também chamar a atenção para um relacionamento com ele”, referiu.
“Nem todos os documentos estavam na posse da congregação, alguns estavam com familiares, outros estavam guardados em baús e depois dela falecer é que se deu como que a caça ao tesouro. Foi a descoberta de muitos escritos e temos vindo a fazer, ao longo dos anos, a organização do arquivo: várias cartas conservadas, haverá muitas outras cartas por esse mundo fora”, explicou a irmã Maria José Oliveira, à Agência ECCLESIA.
A preocupação, acrescentou, foi “fazer uma leitura dos escritos todos, que são muitos, e também a transcrição”, para além dos testemunhos das pessoas, “alguns por escrito, mas, a preocupação é fazer uma recolha que depois seja considerada para a Causa”. “É um privilégio estar a ler estas coisas e também acho que traz luz ao carisma da nossa congregação”, realça. Sobre os testemunhos de graças recebidas por pessoas através da irmã Maria de São João Evangelista, a entrevistada lembra que, um casal no Porto, estando a fundadora de passagem por essa casa da congregação, telefonou a dar conta que “um filho já crescidinho, não falava”, e que ela pediu “tenham confiança que ele vai falar”. “Nesse mesmo dia, passado umas horas, o casal veio agradecer aquilo que tinha obtido de Deus”, refere, lembrando outro, na capela em Chacim, no momento da comunhão “estava compenetrada e a partícula desprendeu-se das mãos do sacerdote e veio ter com a irmã São João”, o que aconteceu também no momento da morte, “na última comunhão”. A irmã Maria José Oliveira assinala que “todos os anos é tradição celebrar uma grande festa” no Corpo de Deus, em Pereira”, com muitas pessoas que vão há muitos anos e, “nesse dia ouve-se, de todos os lados, pessoas que recordam como ela era, como ela usava de bondade para com as pessoas”. “Muitas destas graças, às vezes, parecem-nos que não são milagres, mas há milagres que não são só curas físicas, há milagres interiores, há milagres de conversão, há milagres de renovar a vida. É disso tudo que se trata também”, acrescentou a Serva Franciscana Reparadora de Jesus Sacramentado. |
A irmã Maria de São João Evangelista, segundo a especialista, é essencialmente uma mística, “mas uma mística não é uma pessoa que vive nas nuvens, é uma pessoa de carne e osso”, que vem de uma família, de uma terra, de uma circunstância.
A mãe faleceu quando tinha 16 anos de idade e “teve que cuidar” dos seis irmãos, nesta altura, Maria Augusta Martins, “uma senhora muito prestigiada na povoação”, assumiu, “a pedido da mãe”, o “cuidado espiritual” de Alzira da Conceição Sobrinho.
Segundo a irmã Maria José Oliveira, a fundadora teve “uma visão em 1916, e Jesus terá pedido para ser fundada uma ordem de vítimas imoladas ao Santíssimo Sacramento”, esse sonho é partilhado com Maria Augusta Martins, que “assume o ideal, e passam a lutar juntas pela concretização desse pedido de Jesus”.
Alzira da Conceição Sobrinho e Maria Augusta Martins, em 1917, assumiram “um regime de vida muito monástico” e dedicavam-se a obras de pastoral e a obras caritativas, em 1928, fundaram um asilo para crianças pobres, o Asilo Florinhas do Sacrário, “que ainda hoje existe” com outro cariz e outro formato.
A congregação das Servas Franciscanas Reparadoras de Jesus Sacramentado foi ereta canonicamente a 15 de agosto de 1950, por D. Abílio Augusto Vaz das Neves, bispo da Diocese de Bragança-Miranda, e em 1 de novembro de 1991 foi reconhecida como Instituto de Direito Pontifício.
A congregação oficialmente começou com “outras duas senhoras”, escolhidas pelo bispo diocesano, que faziam parte de “um núcleo de vivência eucarística” que se formou em Pereira, com Alzira da Conceição Sobrinho e Maria Augusta Martins, que só entraram na congregação, respetivamente, em 1948 e em 1951.
A Igreja Católica celebra hoje, 2 de fevereiro, o Dia Mundial do Consagrado, na Festa litúrgica da Apresentação do Senhor; em Portugal, termina a Semana do Consagrado, 26 de janeiro a 2 de fevereiro, com o lema ‘Rezar a Esperança’.
CB/OC