A irmã Fernanda Pereira viveu adolescência a querer «provar que Deus não existia»; aos 20 anos entrou na Congregação das Irmãs da Apresentação de Maria seduzida pela «rosto de Deus que é pai» e por uma «alegria que perdurava»

Lisboa, 13 ago 2025 (Ecclesia) – A irmã Fernanda Pereira da Congregação das Irmãs da Apresentação de Maria, disse que as religiosas hoje devem ser “especialistas do sagrado” e, se outrora as “estruturas foram importantes”, hoje “a escuta e acolhimento” é o caminho.
“Antes de sermos ótimas profissionais, temos de ser especialistas do sagrado, do espiritual. É preciso que alguém abra a carapaça. Vejo tantos jovens vão por aqui e por ali, porque ninguém está a abrir os caminhos certos. Estamos a errar no alvo. E Deus está cá”, explica à Agência ECCLESIA a provincial da congregação.
“Mais do que grandes estruturas, que foram importantes e necessárias a nível da educação, da hospitalidade, dos cuidados de saúde, (é preciso) esta abertura a todos, lendo os sinais dos tempos. Em cada tempo temos de olhar, temos de revitalizar e colocarmos a questão: o que é que Deus quer hoje para mim? O que é que Anne-Marie Rivier fazia? O que é que a Madre Maria da Santíssima Trindade faria no meu lugar hoje?”, acrescenta a religiosa.
A Congregação das Irmãs da Apresentação de Maria celebra 100 anos da chegada a Portugal e ao Funchal, ocasião em que a provincial indica ser para desenvolver “o sonho de Deus” e investir na “solidariedade” com os mais pobres, “indo ao seu encontro, nos vários sentidos das pobrezas existentes hoje”.
A irmã Fernanda Pereira indica também ser tempo para “organizar”, “estudar e conhecer bem a história da congregação”, abrindo a que outros se possam abrir ao carisma de uma “mulher rebelde” que, no tempo da Revolução francesa fundou uma congregação religiosa, tendo sido canonizada pelo Papa Francisco em 2022.
A rebeldia da fundadora foi um traço comum no percurso vocacional da irmã Fernanda Pereira que conheceu cedo as religiosas da congregação das Irmãs da Apresentação de Maria, na escola, no Funchal, onde estudou, tendo guardado “má memória” das irmãs “rígidas e vestidas de preto”.
Nascida numa família de prática religiosa, apesar do pai distante da fé, a irmã Fernanda Pereira ia à missa para “cumprir o preceito” e apenas porque a mãe dizia que o estudo tinha de andar de mãos dadas com a prática cristã.
“Aos 15 anos meu pai teve um cancro e morreu de forma bastante rápida. Eu tinha uma grande afinidade com ele, de temperamento, de forma de ver e de pensar, e fiquei muito revoltada. Se eu já não tinha uma apetência para a prática religiosa, aqui foi o caos para mim. Não queria saber de Deus, disse que ia estudar Filosofia para provar que Deus não existia”, recorda.
Até aos 18 anos, indica a religiosa, a sua estabilidade emocional e afetiva era decorrente de um namoro; quando por acaso participa num encontro para jovens, escuta pela primeira vez um padre que lhe fala de “Deus como Pai”, sentindo-se “atingida por uma seta”.
A irmã Fernanda Pereira recorda que durante dois anos se sentiu impactada pelo conhecimento de “um rosto de Deus que é pai”, começa a sentir “necessidade de ir à missa” e escutar o que antes não escutava nas eucaristias – “eu não ouvia nada” – e a dar conta de uma “alegria interior que perdurava”, e de uma “sedução por Deus” que não sabia explicar.
“Quando o mesmo padre, tempos depois me pergunta, «Já pensaste se Deus quer precisar de ti? E se Ele te chama para? Já pensaste nesta questão?» a minha resposta foi «Não quero ser nada. Não quero casar, quero ser livre”.
Aos 20 anos, a irmã Fernanda Pereira entra ca Congregação das Irmãs da Apresentação de Maria, as mesmas que em crianças não gostava, que as achava “tontas” quando na sua paróquia as encontrava a rezar.
“Quando fiz os primeiros votos, para mim significavam já os perpétuos. Porque a verdadeira entrega foram os primeiros”, assinala.
Desde então, a irmã Fernanda Pereira vive a sua vida “entregue sem condições”, aceitando o serviço que a congregação lhe pede, desde a docência de Educação Moral e Religiosa Católica durante 11 anos, tornar-se formadora em Roma para ser mestre de noviças, dois anos na coordenação de uma missão, no Brasil, e o regresso a Portugal para ser provincial, função que assume desde 2019.
A conversa com a religiosa da Congregação das Irmãs da Apresentação de Maria pode ser escutada no programa ECCLESIA, na Antena, emitido depois da meia-noite, e disponibilizado no podcast «Alarga a tua tenda».
LS