Vida Consagrada: «O ser humano deve ser artista do divino» para mostrar «o horizonte» a que é chamado, afirma o padre Adelino Ascenso

Institutos Religiosos de Vida Consagrada e Sociedades de Vida Apostólica juntam-se em Fátima para uma «jornada de pintura» no Jubileu dos Artistas, que apela à paz e à reconciliação 

Lisboa, 27 jun 2025 (Ecclesia) – O padre Adelino Ascenso, presidente da Conferência dos Institutos Religiosos de Portugal (CIRP), disse hoje que o ser humano deve ser “artista ou poeta” e ascender ao divino, “ao que está para além do horizonte” que o anima.

“O artista é aquele que procura mostrar ou fazer visível o invisível; é aquele que procura transmitir aquilo que ainda não é percetível aos nossos sentidos – é como o profeta que se antecipam. Isto é algo que é comum a todo o ser humano, que deve ser comum a todo o ser humano. Eu atrever-me-ia mesmo a dizer que o ser humano, em geral, deve ser artista e poeta”, indica o responsável à Agência ECCLESIA.

“O ser humano, seja ele cristão, seja ele membro de outra religião ou seja ele ateu ou agnóstico, não pode deixar de ser artista nem poeta e poderia agora acrescentar, do divino, porque todo o ser humano anseia por algo divino, algo que o transcende, que ele não pode explicar, que está para além do horizonte, mas pelo qual ele vai ansiando”, acrescenta.

A CIRP, organização que assinala 20 anos da sua constituição, e reúne 132 institutos de vida religiosa e sociedades de vida apostólica, organiza este sábado, o Jubileu dos artistas, desafiando consagrados e consagradas e pintarem cinco telas num apelo “veemente à paz e à reconciliação”.

O responsável, que é também superior da Sociedade Missionária da Boa Nova, lamenta que a palavra «paz» esteja “gasta”

“Vivemos num mundo de barbárie, de grandes crispações e nós, consagrados e consagradas, não podemos ficar alheios a tudo o que se passa no mundo porque nós estamos no mundo. São armas que atraem armas e nós temos que ser um sinal de contradição: temos que ter consciência de que quem está habituado a fazer a guerra, muito dificilmente faz a paz, porque não entende o que é a paz – está tão envolvido na guerra, que o seu mundo é a guerra. Nós temos que contradizer precisamente essa tendência, porque hoje em dia o mundo tornou-se muito perigoso”, lamenta.

Cinco painéis vão estar dispostos no corredor que sai da basílica da Santíssima Trindade, em Fátima, até ao recinto do Santuário, entre as 10h e as 17h, convidando os religiosos e religiosas a contribuírem para a pintura que seja simultaneamente “uma oração e um apelo à paz”.

O responsável indica que a iniciativa se inscreve no ano Jubilar que a Igreja católica está a viver, procurando sublinhar a tónica da esperança.

A iniciativa pretende ser um “sinal” que, usando a arte e a pintura, de forma concreta, tem o poder de “entrar diretamente no interior do ser humano” e inquietar.

“Nós não vamos ali fazer um tratado de paz, não se trata disso, trata-se de ser um sinal, um sinal que nós queremos dar através de algo que vai diretamente contactar com o nosso interior, que é a arte em si. Nós não estamos a convidar artistas da nossa praça – trata-se de cada um ou cada uma expressar os seus sentimentos e o seu apelo à paz, à concórdia, à fraternidade e deseja colocar isso ali na tela”, concretiza.

O padre Adelino Ascenso explica a importância de sinais que mostrem que as pessoas “não estão anestesiadas” perante “os horrores que esse escutam” diariamente, procurando assim, contagiar outros rumo a uma mudança que deve envolver todos.

O religioso, que antes de ser ordenado padre também pintava, olha para esta forma de arte como um caminho para criar comunidade, que se entende em ligação com outras formas de ver o mundo e de se comprometer com ele.

Cada painel vai ter um sub-tema, como forma de “inspiração”, convidando a um espaço que se quer “de oração” que conduza ao compromisso com a paz: ‘Transfiguração’, ‘Novos samaritanos’, ‘Efeito pilatos’, ‘O fim dos tempos’ e ‘Tribulações como lugar de manifestação do divino’ dividem os dípticos.

A conversa com o padre Adelino Ascenso pode ser acompanhada no programa ECCLESIA, emitido este sábado na antena 1, pelas 6h.

LS

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