Fátima, Santarém 24 dez 2014 (Ecclesia) – Uma irmã Carmelita Descalça do convento de São José em Fátima e um frade menor Capuchinho recordam os cheiros, as cores, os sabores e as prendas do Natal da sua infância vivido em família e celebrado em comunidade.
“Não era um Natal fora do normal, havia sempre o encanto das prendas que se iam receber mas acima de tudo fui sempre muito educada pelos meus pais para ver o Natal como o nascimento do Menino Jesus”, começa por explicar a irmã Cristina Maria.
À Agência ECCLESIA, a religiosa Carmelita Descalça, do convento de São José em Fátima, destaca que o fundamental no Natal do seu tempo de infância era o “presépio”, “mais do que a árvore de Natal”.
“Era sempre rodeado de uma grande magia, o tirar as peças de cima do armário, desembrulhar os papelinhos, tudo cheirava a Natal. Parecia que nascia para mim, eram encantos únicos que marcaram-me profundamente”, desenvolve a irmã de clausura.
Ainda em Fátima, mas na casa ao lado do Carmelo, o frei Lopes Morgado, Franciscano Capuchinho, recorda as memórias de um Natal vivido com oito irmãos e os pais em Vilar de Frades, atualmente Areias de Vilar, no concelho de Barcelos.
“Sem o presépio na minha casa não havia Natal estava como centro da festa toda”, comenta.
As memórias natalícias do sacerdote dividem-se entre o ambiente familiar à lareira, em casa, e depois a celebração comunitária, em especial uma.
“Quando tinha oito anos com o meu irmão de 10, o meu pai dirigia a tuna que tocava na novena do menino, fomos cantar como pastores. Um em cada púlpito, escondidos atrás das ramagens, dialogávamos com a assembleia, cantávamos uma estrofe e eles o refrão”, recordou sobre a celebração na Igreja que era a casa-mãe dos frades Loios (Congregação dos Cónegos Seculares de São João Evangelista – C.S.J.E.) em Portugal.
A entrevista, no Museu do Presépio, em Fátima, rodeado da família de Belém, o frade menor há 60 anos relembra a memória “mais viva” que guarda em família da ceia “à lareira com os potes de ferro” e todos a cantar.
“O pai era músico e tocávamos flautas de cana era uma noite muito feliz. Éramos pobres mas a ceia era de facto uma ceia farta”, explica frei Lopes Morgado que não recebia prendas.
“As prendas eramos uns para os outros, era termos saúde, comermos o necessário para cada dia. De resto não tínhamos comparação, não víamos se as outras crianças eram ricas ou pobres, não tínhamos televisão”, comenta o frade menor capuchinho.
Na infância do sacerdote, de quem nasceu em 1938, “todos iam à missa” mas nem todos entendiam o “tempo do latim”, do padre de costas “lá em cima” e em Vilar de Frades, existiam várias tradições como a encenação de Natal, “um leilão” e pelas ruas o “auto de Reis Magos”.
Nas memórias da irmã Carmelita Descalça ainda estão presentes as cores, os cheiros, os sabores, especialmente das filhoses especiais da avó beirã, e também existem encenações de Natal, com os três primos e a sua irmã, mas mais caseiras apenas para a família.
“Depois há aquele ambiente de família que se cria muito próximo, da paz, da alegria”, conta a irmã Cristina Maria, onde os pais conversavam enquanto as cinco crianças brincavam antes de irem à Missa e, a partir de uma certa idade, “desembrulhar as prendas à meia-noite” oferecidas pelo Menino Jesus.
Ao longo desta semana o programa de rádio «Ecclesia», na Antena 1 da rádio pública, a partir das 22h45, partilha as memórias do Natal da infância de quatro religiosos e hoje, dia 24 de dezembro, recorda tradições natalícias e muita música desta quadra.
SN/CB