Vida Consagrada: Monges da Cartuxa encerram mosteiro de Évora (c/audio)

D. Senra Coelho fala em perda «cultural e espiritual» e assegura vontade de manter espaço para congregação monástica de clausura

Foto Agência ECCLESIA

Évora, 26 jul 2019 (Ecclesia) – O arcebispo de Évora confirmou hoje o encerramento do Mosteiro da Cartuxa de Évora, lamentando a perda para a vida consagrada em Portugal e assegura a vontade de manter o lugar para congregação monástica de clausura.

“Chegou à Arquidiocese a comunicação vinda do Capítulo Geral da Ordem Cartusiana de que não é possível continuar a manter em Évora a presença dos Cartuxos, dando vida a este monumento de vida contemplativa”, afirma D. Senra Coelho, numa comunicação enviada à Agência ECCLESIA.

Quando chegou à arquidiocese de Évora, em setembro de 2018, o arcebispo assumiu que manter a Cartuxa era uma “prioridade”.

Tendo recebido a mensagem do encerramento, o arcebispo enaltece a “comunhão profunda com a Ordem Cartusiana, agradecendo a Deus o dom das cerca de seis décadas que os monges permaneceram em Évora, na sua segunda fase após a expulsão de 1834″.

D. Senra Coelho afirma que será celebrada uma Eucaristia de ação de graças de despedida, que em breve anunciará, bem como “o programa da partida”.

O padre Antão, superior da comunidade monástica portuguesa em Évora, confirmou à revista Família Cristã, o encerramento “para efeitos burocráticos” a 31 de outubro.

“Os quatro Cartuxos partiremos para a Cartuxa de Barcelona no início de novembro”, disse o superior do mosteiro.

A vida eremítico-cenobítica de contemplação e trabalho na Cartuxa de Santa Maria Scala Coeli foi reiniciada em 1960, por sete Cartuxos, entre eles um português, após a expulsão das ordens religiosas em 1834.

O Convento da Cartuxa eborense tinha sido mandado construir em 1587, pelo então arcebispo D. Teotónio de Bragança, para acolher a comunidade religiosa de São Bruno, sendo dedicado à Virgem Maria, sob a denominação “Scala Coeli” – “Escada do Céu”.

De acordo com o superior da comunidade, o encerramento do Mosteiro da Cartuxa de Évora deve-se à falta de vocações.

“É impensável voltarmos dentro de anos. Talvez em décadas… se a Igreja Católica ressuscitar na Europa”, afirmou em declarações enviadas por correio eletrónico à revista Família Cristã.

O superior confirma ainda a possibilidade de o espaço ser, no futuro, ocupado por uma congregação de vida monástica de clausura, estando em contactos para que esse objetivo se concretize.

O arcebispo assegura que, “com a brevidade possível”, encontrarão “outra comunidade monástica, contemplativa, masculina ou feminina, para que a Cartuxa” se mantenha como “lugar santo” e seja “uma presença de acompanhamento na oração” da cidade e da comunidade diocesana.

D. Senra Coelho manifesta que a notícia deve fazer refletir sobre o valor do silêncio nas comunidades cristãs, lamentando a perda para a “vida contemplativa masculina” em Portugal.

No comunicado, o arcebispo assinala a “eloquência” cultural e espiritual da presença dos Catuxos em Évora, “num silêncio que falou e profeticamente” e comunicou “o primado de Deus, o Amor que deve ser Amado, o anúncio da valorização da espiritualidade no contexto da sociedade”.

D. Senra Coelho adianta ainda que no dia 6 de outubro será ordenado presbítero, na igreja de São Francisco, em Évora, Paulo Fonseca, irmão da Cartuxa, que decidiu, posteriormente, ordenar-se na diocese.

A Ordem Cartusiana foi fundada por São Bruno (Colónia, c. 1035 – Squillace, Calábria, 1101) e os monges vivem exclusivamente em silêncio, totalmente dedicados à oração e à contemplação.

O fim principal da vida de um cartuxo é a Contemplação e, segundo os Estatutos da Ordem, “aquele que persevera firme na cela e por ela é formado, tende a que todo o conjunto da sua vida se unifique e converta numa constante oração. Mas não poderá entrar neste repouso sem ter-se exercitado no esforço de duro combate (…). Assim, purificado pela paciência, consolado e robustecido pela assídua meditação das Escrituras, e introduzido no profundo de seu coração pela graça do Espírito, poderá já não só servir a Deus, senão também unir-se a Ele”.

CB/LS

(atualizada às 14h57)

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Agência ECCLESIA

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