Vida Consagrada e o imaginário juvenil

1. Diferentes olhares.. Diante da Vida consagrada, na diversidade das suas formas, os jovens fazem representações muito diversas e intuem uma certa ideia de ser humano, que esta supõe; realizações de felicidade que ela pode permitir e o tipo de relações que ela estabelece com a humanidade. Uns olham-na como um realidade de grande complexidade e ambivalência”, com matizes claros e escuros, onde a constatação do real se harmoniza ou se afasta do modo sonhador, típico do jovem, de projectar e pensar o futuro. Outros percebem-na de modo confuso e não naquilo que significa. Qualquer vocação, incluindo a presbiteral é percebida de modo confuso e indistinto, ou então é intuída de acordo com estereótipos e preconceitos presentes na cultura, os quais impedem que a comunicação aconteça entre a vida consagrada e o mundo em geral. É um estilo de vida ainda muito misterioso. Alguns jovens têm uma ideia da vida consagrada muito marcada e enfatizada nos seus aspectos negativos, isto é, o aspecto da renúncia, e do sacrifício, da mortificação e da ascese. Uma imagem que, se por um lado, já não corresponde, por outro, pode estar relacionada com o testemunho , muitas vezes oferecido pelos próprios consagrados. Para outros, o panorama muda de tom e cor. Muitos jovens pensam a vida consagrada, como sendo uma situação essencial associada não com a felicidade ou com o sentido de plenitude e de auto realização. A ideia que têm é de um ambiente onde reina certa tristeza e auto-negação, um lugar onde a pessoa que se consagra fica privada de experiências, que ele jovem, pensa ser irrenunciáveis (basta pensar no voto de castidade). Um imagem associada a gente consagrada com pouca humanidade e uma personalidade distorcida. Para outros ainda, sobretudo aqueles que se envolvem activamente nas actividades da Igreja, vivem uma certa desconfiança em relação à vida consagrada. Esta desconfiança está na base de uma interrogação: “Será mesmo preciso fazer essa escolha, com todos os sacrifícios que ela comporta, quando posso dar testemunho das mesmas coisas ficando no mundo como leigo, e vivendo a vida de todo o mundo? Claro que esta interrogação deixa “antever” uma certa concepção de vida consagrada, da sua mensagem e razão de ser. Actualmente outros jovens, têm uma tendência para julgar a Instituição, um ideal de vida, um projecto existencial, com base na eficiência concreta, nos resultados visíveis e imediatos, na capacidade real de melhorar certa situação. Neste sentido os jovens têm muita dificuldade para compreender não apenas certas renúncias, mas até mesmo aquela lógica que, na sua raiz é Pascal, que permanece no mais fundo da vida consagrada, que é a sua alma, mas que sem dúvida, não corresponde aos critérios da mentalidade comum, da pretensão de serem servos úteis e capazes de resolver todos os problemas, matando a fome e a sede do mundo com apenas quatro pães e dois peixes. Cabe aos consagrados de hoje, oferecer um testemunho diferente e acessível, que ajude a purificar o imaginário juvenil, em relação à vida consagrada, sem esquecer porém que a vocação é dom de Deus e no fundo existe sempre nela uma componente de mistério que dificulta a compreensão a quem está de fora. 2. Um olhar positivo… Para muitos a vida consagrada é um ponto de referência essencial e isso deve-se à autenticidade evangélica; o frescor expressivo que dela brota, como que incentivando os jovens a abraça o mesmo ideal. O jovem de hoje tem necessidade de fé e admira quem vive com fé, dedicação e paixão a sua vocação. Está à procura de novas formas expressivas, mais verdadeiras, mais autênticas, mais transparentes, que toquem mais no seu mundo interior, o que lança grandes desafios aos consagrados. No plano da comunicação social, cavou-se um progressivo distanciamento entre a linguagem juvenil e os códigos linguísticos “normais” da sociedade. Existe nos jovens um anseio por um maior frescor expressivo e isso está ligado à busca de uma fé mais encarnada, mais “falada”, que usa a linguagem de sempre, que adere à vida e mexe por dentro. Esta procura é terreno favorável ao acolhimento do dom da vocação; um dom que vem de Deus. A vida consagrada é na maior parte dos casos, o ponto de referência privilegiado, embora, não exclusivo dessa busca. Aos jovens toca profundamente a experiência pessoal e comunitária do divino. Na realidade há no jovem um ímpeto irresistível de procura de itinerários que mostrem o caminho que conduz a Deus e, sobretudo, dêem testemunho da beleza, da verdade e proximidade, da alteridade, do mistério de Deus. É precisamente isso que os jovens esperam daqueles que se consagram, para sempre na Igreja; que indiquem os percursos que levam ao Senhor. O que mais atrai os jovens de hoje é encontrar uma comunidade onde todos celebrem juntos essa busca divino, onde as experiências espirituais são compartilhadas, ao ponto de transparecer para fora. Em todos estes aspectos e muito mais não há dúvidas que a vida consagrada aparece como desafio à entrega, à vivência, não do projecto pessoal, mas sim do projecto de Deus a seu respeito. Um caminho de felicidade. Os jovens de hoje querem uma vida consagrada que torne possíveis opções radicais, sem compromissos, uma vida cheia de espírito profético. O projecto abraçado na vida consagrada, por iniciativa de Deus, reflecte a própria natureza divina da consagração, logo quando o consagrado vive em coerência e harmonia com os seus votos, é sinal profético para os jovens., pois na sua pessoa respira-se a esperança de que os jovens deste século adiram com entusiasmo a Jesus Cristo, descoberto e proclamado como tesouro das suas vidas. (Cf. CENCINI, Amadeo – Os jovens ante os desafios da vida consagrada. S. Paulo: Editora Paulinas, 1999, p. 23 a 32.) Conceição Vieira, representante da Federação Nacional dos Institutos Seculares

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