Patriarca de Lisboa lamentou hoje «divisões polarizadas», afirmação de «poderes e capacidades bélicas», «aumento de pobreza e exclusão» e indicou religiosos e religiosas como «sinais de vida nova»
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Fátima, 01 mar 2025 (Ecclesia) – D. Rui Valério pediu hoje aos religiosos e religiosas para olharem com “compaixão e esperança” os “paradoxos da realidade” e mostrarem que a única “arma” num mundo em combate é o “serviço e a oração”.
“Nesta hora, em que algumas nações combatem, e outras se preparam para outros ou os mesmos conflitos, sejam os consagrados a indicar que a nossa única arma é a do serviço e da oração”, pediu o patriarca de Lisboa durante a homilia da celebração do Jubileu dos Consagrados, que decorre hoje em Fátima.
“Reabriram-se divisões polarizadas entre nações e blocos de potências; estão a ressurgir as prepotências dos mais fortes sobre os mais débeis; luta-se pela preponderância determinante dos poderes e capacidades bélicas; reativou-se a corrida ao armamento; aumentou o medo e a incerteza face ao futuro; cresceu desproporcionalmente a pobreza e a exclusão… Palavras que todos julgávamos já banidas do quotidiano do humanismo e da civilização; realidades que supúnhamos superadas da parábola da compreensão e do entendimento, em suma, que não passavam apenas de dramáticas recordações. Mas hoje, quase que em processo de retrocesso, voltamos a ser ensombrados pela incerteza, pela desconfiança… e, por isso, a vida consagrada de evangélica inspiração nos vivifique na confiante esperança que ‘nunca engana’”, acrescentou.
D. Rui Valério, que é missionário monfortino e delegado para as Relações Bispos/Vida Consagrada na Conferência Episcopal Portuguesa, centrou os religiosos e religiosas como um “sinal de esperança, tão visível e irrefutável”.
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“Olhamos com compaixão e esperança para os paradoxos da atualidade, não desanimados, mas fortalecidos no vigor daquela certeza de que o Senhor, incessantemente, ergue os prostrados, cuida dos pobres e excluídos, cura os doentes e ressuscita os mortos”, afirmou.
O responsável afirmou que os votos de “pobreza, castidade e obediência” devem ser olhados como “sinal de vida nova assumida por homens e mulheres”, na construção da “humanidade e identidade cristã”.
“Estes não são mera materialização heroica da natureza humana. A vida consagrada surge hoje não como alternativa ao mundo (nunca o foi), mas como projeto para que todos os homens e todas as mulheres vivam a sua humanidade em plenitude, como verdadeiros irmãos, à maneira de Deus, em Cristo, e não segundo os padrões humanos e terrenos”, explicou.
D. Rui Valério reconheceu que o voto de pobreza, professado na vida consagrada, “esmaga o egoísmo e dissipa o egocentrismo”, gera liberdade e mostra que a força reside na “capacidade de amar a todos sem distinção”: “Ser pobre, para esmagar a pobreza na opção preferencial pelos últimos e excluídos”, sublinhou.
Para o patriarca de Lisboa a “forma excelsa de ser exaltado é viver a castidade na liberdade, como excesso de amor com Deus e para Deus”.
“A exaltação pretende elevar o homem à condição de amigo de Deus; a situar a humilde e pequena criatura na possibilidade de ser parceiro de relação com o Senhor, a viver esse diálogo íntimo entre o eu divino e o tu humano. Exaltar alguém é obra e ação só de Deus, não do homem”, indicou.
A obediência, recordou D. Rui Valério, convida a querer o que Deus quer, apontando para a salvação de todos.
“A obediência torna-se, assim, não uma atitude cega. Correria mesmo o risco de ser uma vã passividade. Mas na esperança, vemos que a obediência é o compromisso por agir, por colocar todas as nossas forças e energias ao serviço do Outro, que é Deus”, sublinhou.
O Jubileu da Vida Consagrada começou com a celebração da Eucaristia; na parte da tarde, há adoração eucarística, pelas 14h30, o bispo de Lamego, D. António Couto, faz uma reflexão sobre o jubileu, segue-se um momento cultural e a entrega de um símbolo, no Auditório do Centro Pastoral Paulo VI.
LS