«Deus queria ainda algo mais de mim e no meu pensamento já lhe dava tudo», diz Marta Lages
Campo Maior, Portalegre, 10 jan 2015 (Ecclesia) – Marta Lages, natural de Évora, vai tomar hoje o hábito da Ordem da Imaculada Conceição, em Campo Maior, depois de um percurso de reflexão que a levou a escolher o convento de vida religiosa contemplativa.
“Neste tempo em que procurava e questionava o que quereria Deus, coloquei-me à disposição da Sua vontade e projeto. Eu sabia que alguma coisa ia mudar e foi no silêncio, na oração e procura que numa visita ao Convento de Campo Maior aceitei fazer uma experiência, inicialmente sem compromisso”, referiu à Agência ECCLESIA, a Sor Marta Lages.
A nova religiosa disse que aos 37 anos contar à família a opção pela vida contemplativa foi “um momento forte e difícil”, mas “muito importante para todos”.
“A minha mãe pressentiu e perguntou-me o que estava a acontecer, mas isso não invalidou o choque e o tempo de adaptação à ideia”, explica Marta Lages, que recorda as palavras de “confirmação” do pai: “ Se Deus me pede uma filha quem sou eu para recusar?”.
“A minha irmã fez-me todas as perguntas que eu podia fazer para colocar em causa a decisão, o que também me ajudou muito”, acrescenta.
Em Évora tinha uma vida “muito preenchida”, com um trabalho estável como diretora pedagógica numa creche; a nível eclesial, era chefe regional adjunta nos escuteiros e chefe de clã no seu agrupamento.
“Já tinha casa, autonomia e era feliz. Sentia-me realizada em tudo o que fazia e tinha”, revela Marta Lages que em 2010, numa peregrinação a pé a Santiago de Compostela, “começou” o seu caminho para a vocação à vida religiosa.
“Fui descobrindo que afinal tudo o que tinha, e tinha tudo, não chegava. Deus queria ainda algo mais de mim para além do que eu já fazia e era porque no meu pensamento já lhe dava tudo”, desenvolveu.
Segundo a futura religiosa a vida contemplativa é a “presença viva de Deus na vida” e destaca que a sua entrega para além de pessoal também foi por “todos”: “Os que acreditam; que não acreditam; os que se sentem sós e abandonados e pelos que se lembram pouco ou esquecem de Deus”.
Para os jovens espera que o seu testemunho seja de “confiança e amor a Deus” e que sintam que a vida faz diferença e pode “transformar o mundo”.
“Não vivam acomodados ou conformados com o que têm mas preparados e despertos para a mudança, para a novidade de Deus. Não tenham medo de se afirmar cristãos, sejam exigentes e esforcem-se por ser testemunho do amor de Deus”, desenvolveu.
Para Marta Lages, a celebração deste sábado no Ano da Vida Consagrada, é uma “feliz coincidência” e “uma graça”.
A cerimónia da tomada de hábito da Ordem da Imaculada Conceição é este sábado pelas 11h30.
O dia-a-dia das irmãs no convento da Ordem da Imaculada Conceição de Campo Maior é vivido em “silêncio, com trabalho e oração” a partir das 06h00, “acordadas pelo sino”, onde passado meia hora têm o primeiro momento comunitário com o cântico de laudes.
Atualmente, a futura Sor Marta tem “formação no noviciado” e as restantes irmãs dedicam-se ao seu “ofício e trabalho comunitário” – “presépios, paramentos e partículas” – e para além da oração comunitária e individual depois do almoço e jantar têm “uma hora de confraternização”.
O dia em Campo Maior termina após as 22h00 quando partilham o Evangelho e rezam completas, a oração da noite.
A Ordem da Imaculada Conceição, fundada pela Santa portuguesa Beatriz da Silva, canonizada em 1976 e nascida em 1437, tem também uma comunidade na Diocese de Viseu.
CB