«Temos consciência de que os jovens são das pessoas mais vulneráveis e mais facilmente aliciados» – Irmã Julieta Dias
Lisboa, 08 fev 2022 (Ecclesia) – A presidente da Comissão de Apoio às Vítimas do Tráfico de Pessoas (CAVITP), das congregações religiosas em Portugal, disse hoje que o organismo quer estar na Jornada Mundial da Juventude (JMJ) em Lisboa, para “alertar” os jovens peregrinos sobre este tema.
“Temos consciência de que os jovens são das pessoas mais vulneráveis e mais facilmente aliciados, por falta de experiência, de sabedoria que a vida traz, e quando dão conta não podem sair das redes dos traficantes”, explicou a irmã Julieta Dias, no âmbito do 9.º Dia Mundial de Oração e Reflexão contra o Tráfico de Pessoas.
Em declarações à Agência ECCLESIA, a presidente da CAVITP, organismo da Conferência dos Institutos Religiosos de Portugal, adiantou que já estabeleceram contactos para marcar presença na próxima edição internacional da JMJ, de 1 a 6 de agosto.
A irmã Julieta Dias exemplificou que os jovens “sonham com um futuro melhor”, mas, muitas vezes, não o conseguem atingir nas suas terras e podem ser aliciados por alguém que “diz que num outro país faz isso com facilidade”.
Para a entrevistado, em Portugal só não tem consciência deste problema “quem não vê televisão ou ouve, mas não faz caso”, observando que a Comunicação Social fala de “gente traficada, de grupo traficados, e têm desmanchado redes de traficantes”.
“Portugal continua a ser local de origem, há gente portuguesa que é traficada, é local de passagem, de trânsito, há gente que chega a Portugal para ir para outros países, e é local também de destino”, acrescenta a religiosa, adiantando que sabem que “muitos emigrantes chegam a Portugal traficados” e que vão para a prostituição, para a mendicidade, “sobretudo crianças, que são a grande força, mas também há mulheres”, e para a área laboral.
Segundo a presidente da CAVITP, há muitos trabalhos feitos por pessoas “traficadas em Portugal”, indicando a Zona do Oeste ou Odemira, no Alentejo, onde a situação “foi mais gritante” pela falta de condições e casas sobrelotadas, que teve visibilidade mediática em 2021.
‘Caminhando pela Dignidade’ é o tema do Dia Mundial de Oração e Reflexão contra o Tráfico de Pessoas 2023, que a Igreja Católica assinala neste 8 de fevereiro, e a irmã Julieta Dias lamentou as condições de vida de alguns migrantes em Portugal, comentando o incêndio numa habitação, onde viveriam por 22 migrantes, no sábado à noite, na Mouraria (Lisboa), que provocou a morte a duas pessoas e 14 feridos, que pode ser “exploração” e não tráfico.
Não podemos fazer dinheiro à custa da miséria dos outros, isso é contra a dignidade das pessoas”.
“Pegando nestes casos, sabemos que há mais por ai, temos de nos por em campo e denunciar, e a sociedade civil, as autarquias, têm de estar mais vigilantes. Podemos ser a voz para denunciar estes casos, e vamos, como comissão, ter de estar atentas e fazer algum trabalho para detetarmos situações análogas”, desenvolveu a irmã Julieta Dias.
O Dia Mundial de Oração e Reflexão contra o Tráfico de Pessoas foi instituído pelo Papa Francisco, em 2015, na celebração litúrgica de Santa Josefina Bakhita, religiosa sudanesa que foi traficada em criança, no século XIX.
“A oração é para nós que não somos traficados, para criarmos uma sensibilidade que isto é uma tragédia, é um flagelo enorme. Isto vai contra a dignidade das pessoas e cada pessoa é imagem de Deus, estando nós a traficar uma pessoa estamos a traficar Deus”, desenvolveu a religiosa da Congregação dos Sagrado Coração de Maria.
A Comissão de Apoio às Vítimas do Tráfico de Pessoas da CIRP, nasceu em 2006, integra a RENATE – Rede Europeia de Religiosas contra o Tráfico e Exploração, e também faz parte da Rede mundial ‘Talitha Kum’, que hoje promoveu uma maratona mundial online, onde participou o Conservatório D’Artes de Loures e o Papa Francisco assinalou o início de um “ano especial de envolvimento juvenil” neste tema.
CB/OC