A Bíblia é “mais feminista do que muitos julgam”, defendeu ontem o Pe. Ricardo Tavares na conferência inaugural da Semana de Estudos Teológicos, a decorrer em Viana do Castelo até Quinta-feira, este ano sobre a «Mulher na sociedade e na Igreja». O sacerdote e professor da Universidade Católica, que abordou a questão de «Como ler os textos do Antigo Testamento sobre a mulher?«, frisou que na Igreja as mulheres “dão cartas aos homens” e que elas “são tudo” no campo da prática comunitária, da catequese ao arranjo do templo. O conferencista defendeu ainda o “o acesso da mulher aos cargos de direcção na Igreja porque todo o baptizado é mediador entre os homens e Deus”. Com a mulher no corpo directivo e sacerdotal da Igreja, esta teria uma face “mais dialogante e mais aberta”, refere. Da intervenção do Pe. Ricardo Tavares ficou claro que “a Bíblia só é inimiga da mulher se lida no contexto cultural actual”, porque, numa leitura alicerçada nos dados da arquelogia, os textos apresentam uma “autêntica revolução cultural inimaginável” para o tempo dado que a pretensão “era criar um mundo novo, ideal, para puxar a sociedade”. Centrada a comunicação e a reflexão, sobretudo, no livro dos Provérbios, o Pe. Ricardo Tavares defende a existência de um “movimento sapiencial”, que, por oposição ao movimento sacerdotal, “coloca a mulher no papel de mestra social” em paralelo com o homem. O biblista apresentou a “torah”, que significa o ensino que a mãe dava aos seus filhos, da mãe constituída pelos livros de Provérbios, Cântico dos Cânticos, Sabedoria, Saltério e Job. Recuando um pouco na ordem da Escritura, sublinhou o dado revolucionário de Génesis o qual afirma que é o homem quem deixa a casa dos pais para se juntar à sua esposa, quando toda a realidade do tempo preconizava precisamente o contrário e a mulher ainda tinha que levar o dote. Nesta “Torah da Mãe”, a mulher é artista e competente nas confecção de iguarias; destaca-se na economia doméstica e social, é líder da administração e fundamento da justiça social. Esta figura de mulher, mãe e medianeira, refere o orador é encontrada mais tarde em Maria que é “a primeira e original mestra da sabedoria”, medianeira entre Deus e Jesus (a humanidade), sendo-lhe ainda confiado o discípulo amado, ou seja, toda a Igreja das pedras vivas. A XIII Semana de Estudos Teológicos, promovida pela Escola Superior de Teologia e Ciências Humanas do Instituto Católico de Viana do Castelo, prossegue esta noite com a abordagem da «Mulher nos textos e tradição paulina», pelo professor de Bíblia João Alberto Correia. A conferência de encerramento, Quinta-feira, dia 12, está a cargo de uma mulher, a teóloga Isabel Varanda, que vai dissertar sobre «Missão na diferença, diferença da missão. As mulheres, os homens e Deus, no Ocidente contemporâneo». Redacção/Diário do Minho
