Bispo aborda 40 anos da diocese e destaca a importância da Igreja Católica não ficar presa no «pessimismo» de um certo modo de viver cristão «que já passou»
Viana do Castelo, 28 mar 2018 (Ecclesia) – A comemoração dos 40 anos da Diocese de Viana do Castelo, com um ‘Campus da Gratidão’ em Darque, foi o mote para uma conversa com D. Anacleto sobre o presente e o futuro da Igreja Católica na região.
Em entrevista à Agência ECCLESIA, o bispo deste território do Alto Minho salienta que estas quatro décadas permitiram ganhar “maturidade”, também “criar estruturas e consciência” de comunidade.
Mas agora importa “preparar os desafios que aí vêm” e que na opinião do responsável católico são muitos, a começar pelo próprio declínio da prática cristã na região.
Para D. Anacleto Oliveira, “a Igreja tem que saber que já passou o tempo em que manda”, e é urgente trabalhar numa pastoral que vá ao encontro das “convicções profundas” das pessoas, que a sua participação seja feita de forma “consciente e livre” e que a partir daqui se criem “compromissos para o futuro”.
Fenómenos como a “globalização” e a “mobilidade”, bem como a “facilidade” de acesso a outras “ideias e propostas” colocaram mais responsabilidade à oferta da fé.
Algo que deve levar a Igreja Católica, também nestes territórios, a uma pastoral mais caraterizada pela missão, pela proximidade e pela abertura aos outros.
“Temos de preparar-nos não para nos fecharmos nas nossas igrejazinhas, ou se quisermos nas nossas missinhas, mas de facto abrir as portas e alargar a vida da Igreja. Sabendo que a concorrência é grande, o que em si é bom, obriga a tomar opções mais conscientes, mas é a realidade nova que temos”, sustenta D. Anacleto Oliveira.
Outro desafio, diretamente relacionado com os anteriores, é ajudar a esbater algum “descontentamento” e “desencanto” dos “sacerdotes mais velhos”, com 40 anos de percurso, que olham precisamente para esta mudança de paradigma na participação cristã das comunidades.
“Hoje as igrejas estão vazias, as pessoas, os casamentos são cada vez menos, os batizados menos. Isto pode levar ao pessimismo, mas em vez de olharmos para isto, para o negativo que isso possa ter, temos de olhar para as oportunidades que esta sociedade nova nos está a lançar e são muitas”, frisa o bispo de Viana do Castelo.
Neste plano, D. Anacleto Oliveira sublinha a necessidade de “abrir os padres e os responsáveis da Igreja para esta nova realidade e dizer-lhes que não tenham medo de arriscar”.
E animá-los a falar ao coração e aos anseios deste tempo, de uma sociedade que tem tudo, mas que ainda busca o “fundamental na existência humana”, que é tempo “para as pessoas se encontrarem a si próprias, para refletir, para encontrarem os outros”.
E aqui o responsável católico dá como exemplo os muitos peregrinos que passam pela Diocese de Viana, a caminho de Santiago de Compostela.
“Eles abandonam tudo, reduzem os meios de transporte ao mais elementar, os seus próprios pés, reduzem a sua mobília, a sua casa a uma mochila com o máximo de 10 quilos às costas, caminham sem saber ao certo se à noite terão onde ficar, ou seja, lançam-se à aventura e para quê? Esta sociedade oferece-nos muitas coisas boas, mas por outro lado não oferece aquilo que satisfaz plenamente a pessoa”, acrescenta.
A comemoração dos 40 anos da Diocese de Viana do Castelo é também um desafio para olhar para os principais “frutos” destas quatro décadas, que são as novas gerações, como admite o bispo minhoto.
“Sem dúvida que eles são o grupo que não só garante o futuro da diocese mas sobretudo é o grupo mais aberto à mudança, porque eles não têm nada que deixar, têm tudo a adquirir. E neste momento a preocupação é apresentar-lhes uma dimensão da fé cristã em que eles encontrem uma razão profunda para as suas aspirações e necessidades. Ou seja, a mensagem cristã com rosto adaptado àquilo que eles encontram à sua volta”, conclui D. Anacleto Oliveira.
HM/JCP