Padre Fábio Carvalho, diretor do Secretariado Diocesano da Pastoral da Saúde, alerta para paralisação provocada pelo «medo» nas relações e ações humanas
Viana do Castelo, 10 set 2020 (Ecclesia) – O padre Fábio Carvalho, capelão do Hospital de Santa Luzia, em Viana do Castelo, afirma que no tempo de pandemia a Igreja esteve “sempre na linha da frente”, mas numa resposta de “amor” e não de “filantropia ideológica”.
“A Igreja não vive é do e para o marketing. Quando somos menos vistos, não significa que não estejamos a trabalhar, mas quando se vive dessa lógica, entra na lógica da corrente. A Igreja não faz do amor ao próximo uma filantropia ideológica com motivos outros que não sejam o amor porque sim”, disse o padre, capelão do Serviço de Assistência Espiritual e Religiosa na Unidade Local de Saúde do Alto Minho – Hospital de Viana do Castelo em entrevista ao jornal «Notícias de Viana».
O responsável sublinha que a Igreja “sempre esteve na linha da frente”, conforme as “possibilidades e dificuldades” que surgiram no contexto pandémico e exemplifica.
“A Diocese de Viana do Castelo dispôs, desde o início, das suas estruturas para apoiar este hospital e os seus profissionais de saúde. Exemplo disso, são alguns dos profissionais que pernoitaram o Centro Pastoral Paulo VI, em Darque, de forma gratuita. O Seminário Diocesano, em coordenação com a Liga dos Amigos do Hospital, um hospital de campanha e promovemos uma recolha de fundo, junto dos sacerdotes 50 mil euros para auxiliar na compra de ventiladores e outros tipos de materiais de apoio. Portanto, a Igreja não esteve parada”, indica.
O padre Fábio Carvalho está há quatro anos como capelão do Hospital de Santa Luzia e afirma que, neste tempo de pandemia, nunca deixou o estabelecimento de saúde, tendo procurado ser uma presença “efetiva, não abusiva” de uma pessoa que deseja “acrescentar serenidade e racionalidade num tempo de confusão”.
“Celebrei e celebro a Eucaristia na capela, estive sempre disponível quer presencialmente, quer com o meu telemóvel sempre ao serviço para atender às solicitações dos doentes e familiares, e para atender doentes em confissão para celebração da sua unção, e inclusive fiz e faço atendimento espiritual no meu gabinete para pessoas da casa como também de fora. Portanto, o meu papel tem sido este ao longo destes quase quatro anos e, designadamente, neste tempo de pandemia, manteve-se. Não foi muito diferente”, indica.
O tempo de serviço no hospital do também director do Secretariado Diocesano da Pastoral da Saúde, traduziu-se em acompanhar toda a comunidade hospitalar, entre pacientes, médicos e enfermeiros, onde encontrou, no principio, “uma grande apreensão”, perante o desconhecido, mas sempre “profissionais de saúde que não viraram as costas ao problema”.
O responsável afirma o sentido de responsabilidade que os cristãos devem assumir num tempo de “confusão” em que é necessário combater a “lógica da corrente”.
“A leitura cristã deste momento histórico só pode ser feita numa ótica de uma racionalidade clara e inequívoca. O mal, sabemo-lo, não prevalecerá. Não há Estado, político, vírus, seja quem for e por que motivos, que vença o bem, a verdade, o bem e a liberdade. Quem pensar o contrário, está no seu direito, mas está objetivamente errado”, sublinha.
O responsável alerta para o medo que pode levar à paralisação e que isso poderá ser “o maior perigo” resultado deste tempo, com impacto nas relações e na ação humana.
“Hoje, temos medo de cuidar dos doentes, de os visitar, de matar a fome e a sede àqueles que se aproximam de nós, de nos cumprimentar ou de deixarmos que se aproximem de nós, de nos cumprimentarmos, de sermos educados uns com os outros, de sermos autenticamente pessoas e de sermos livres. É o medo de sermos livres, na minha opinião, um se não o maior perigo no meio deste momento histórico”, reflete.
A pandemia, ao convocar para a consciência da fragilidade e “vulnerabilidade” humanas, pede, simultaneamente, a “coragem moral de estar do lado certo da história”,
“Esta pandemia provou-nos e continua a provar que trabalhar neste processo de amadurecimento, autoconhecimento e aperfeiçoamento da nossa liberdade é uma tarefa de sempre e para sempre. Nunca estará acabada e, por isso, é que é tão incómoda em determinados contextos sociais e políticos, mas garanto que, enquanto houver cristãos à face da terra, e acho que haverá sempre, esta liberdade é impossível de parar”, sublinha.
LS