Cerca de uma centena de responsáveis, técnicos e pessoal administrativo das Instituições Particulares de Solidariedade Social, de matriz cristã, participaram numa jornada diocesana procurando descobrir o alcance da “identidade cristã” na sua intervenção específica e a situação da “família” na diocese de Viana do Castelo. A presidente da Comissão Nacional “Justiça e Paz”, Manuela Silva, sublinhou a necessidade destas instituições de solidariedade, mormente as pertencentes à Igreja Católica, introduzirem uma nota de tranquilidade no seu fazer para combater este clima de crispação que atravessa toda a sociedade portuguesa, no que toca às questões sociais. Deixou mesmo um apelo à cooperação com todas as outras estruturas semelhantes num espírito de «trabalho em rede», cujo partilhar de «experiências » permite optimizar «eficiências », declarando que a originalidade da acção da Igreja não implica «isolamento ou auto- suficiência». Manuela Silva por diversas vezes focou a necessidade dos crentes fazerem um aprofundamento da sua fé, chegando mesmo a sugerir «formação certificada para os sacerdotes », de modo a esvaziar as polémicas com o enfoque no essencial. Ao pessoal que trabalha nas instituições de solidariedade social da Igreja, com Bento XVI, defendeu que é necessária, além da formação técnica de qualidade, a formação para «verem com o coração» as necessidades dos utentes, adequando as respostas. Chamou, ainda, atenção para a tentação do proselitismo com os utentes, advertindo para a gratuidade do dom do amor e que quem «realiza a caridade em nome da Igreja não procura nunca impor a sua fé». Precisou que é, precisamente o amor, que leva a que se «inventem novas respostas para acudir aos mais necessitados». Numa época em mudança acelerada, Manuela Silva defende que a Igreja sem comprometer a sua identidade tem de aprender a conviver com a «pluralidade» nos seus diversos campos do agir, procurando colocar em relevo o peso cada vez maior que tem o testemunho de vida, da instituição no seu todo e de cada fiel, em particular. Situação desfavorecida do Alto Minho A Igreja que vive no Alto Minho bem necessita de estar atenta às novas formas de pobreza, mas também às “antigas”, isto olhando para o panorama da realidade sócio- -económica resultante dos indicadores apresentados pelo jovem economista Rui Alves. Pegando nos dados de um estudo da Rede Europeia Anti- Pobreza – Núcleo de Viana do Castelo, já divulgados pelo DM, fica a imagem de um distrito na cauda de um país que, por sua vez, está na cauda de Europa moderna. Alicerçando a intervenção no conceito de desenvolvimento entendido como «acesso generalizado das pessoas aos bens e serviços» que o actual estado civilizacional permite, Rui Alves ofereceu um retrato de um distrito partido ao meio, onde quem vive no interior é, ainda, muito mais penalizado que os do litoral. Esta «profunda desigualdade » é marcante em, praticamente, todos os sectores essenciais a uma vida de qualidade e igualdade de oportunidades. Entre as causas para esta situação «prolongada no tempo » apontou o «reduzido nível de poder político» e a incapacidade de entendimento entre os líderes autárquicos do distrito. Esperando que os líderes concelhios encontrem «algum juízo» agora que serão obrigados a juntarem-se para ter acesso aos fundos comunitários, Rui Alves disse que «não foi positiva» da divisão porque não permitiu uma visão global para o desenvolvimento numa lógica distrital, nem ter uma «dimensão» que reputa de «fundamental» para atacar o futuro. Falando de futuro e depois de colocar o turismo (de qualidade), indústrias de elevado conteúdo tecnológico, floresta e energias renováveis e segunda habitação, nos concelhos de interior, como as principais apostas, o professor de economia espera que os fundos para a formação tenham um melhor aproveitamento. O desenvolvimento assim considerado é uma «exigência cristã» que deveria estar patente na vida de todos mormente na daqueles que são os actores da política para implementar uma sociedade mais justa e fraterna, sem lugar à exclusão. Esta iniciativa do Secretariado Diocesano de Acção Sócio- -caritativo de Viana do Castelo contou ainda com a realização de diversos “workshops” que debateram de forma mais sectorizada os problemas candentes das famílias e das diferentes respostas sociais no terreno.