O realce dado à cruz e ao Crucificado, no dia da comemoração da morte de Cristo não constitui apologia dum cristianismo triste e sombrio, porque este não deixa de ser essencialmente a religião da esperança, cujo poder libertador da ressurreição é maior de que o peso da cruz, declarou o Bispo de Viana do Castelo, D. José Pedreira.
Na Sé Catedral, o Prelado sublinhou que a cruz e a ressurreição são as faces da mesma moeda e que apesar dos nossos contemporâneos não estarem mais despertos para a festa, a solidariedade, a libertação dos oprimidos da terra, a Igreja tem de anunciar a mensagem da cruz do Crucificado que, no seu sentido mais profundo,«é libertação do tudo o que constitui uma cruz» na caminhada terrena de todo o ser humano.
A cruz, acrescentou, perderia a sua dimensão espiritual e transcendente «se as nossas comunidades cristãs se distanciarem da plena sabedoria da cruz, na esperança de trocar ou dourar este lenho, fonte de vida, por outras expectativas de salvação».
O Bispo de Viana não esconde a dificuldade em anunciar «esta verdade» em tempos de uma cultura que arvorou em bem supremo a conquista do saber, do bem-estar material, do prazer, e que fez disso como que «o objectivo único dos esforços desenvolvidos pela ciência e pela técnica».
Estes esforços são de acolher e saudar como positivos e bem-vindos, mas recorda o Prelado, « não é por masoquismo, menos estima pela vida, que os cristãos manifestam apreço pela cruz», pelo símbolo do sofrimento redentor de Cristo.
O apelo ao mistério da cruz é importante, urgente e necessário num tempo de optimismo consumista, hedonismo erótico, laxismo moral e filantropismo cristão como aquele que estamos a viver, num tempo em «qualquer catástrofe natural nos deixa perplexos, confusos, interrogantes!».
Meditar na paixão de Cristo, enfatizou D. José Pedreira, apura a nossa sensibilidade para «sintonizar com a multidão de crucificados da terra», para «sentir e comungar do cúmulo de dores e sofrimentos» que pesa sobre a humanidade dos tempos modernos.
O essencial da espiritualidade cristã é viver quotidianamente esta Cruz, no cumprimento do dever próprio de cada estado de vida, única fonte da alegria verdadeira.
O Bispo diocesano de Viana concluiu com o apelo ao assumir quotidianamente a própria cruz, através da qual «nos é garantida a esperança de participar na alegria da ressurreição com Cristo».
Paulo Gomes, «Notícias de Viana»