A viagem do Papa foi seguida com atenção por milhões de turcos, prontos a avaliar ao milímetro todas as palavras e gestos de Bento XVI. O cuidado colocado na escolha do programa e em cada momento da visita mostram que o Papa e os seus colaboradores sabiam da importância de deixar uma mensagem ao mundo islâmico nesta visita. Daniel Rosário foi um dos enviados especiais da Renascença à Turquia e procurou apresentar o “lado turco” dos acontecimentos que se foram sucedendo, como o próprio reconhece à Agência ECCLESIA. Para este jornalista, Bento XVI conseguiu aliviar o “mal-estar” que se tinha gerado após o célebre discurso de Regensburg, em Setembro passado. “Do ponto de vista do Vaticano a visita teria como perspectiva o diálogo ecuménico com a Igreja Ortodoxa, o que, por acaso obrigava o Papa a ir à Turquia, dado que o Patriarca Ortodoxo está em Istambul. Na perspectiva turca, contudo, esta era a primeira visita de Bento XVI a um país muçulmano depois daquelas palavras”, assinala. A Turquia, apesar de se assumir como um país laico, tem um grande sentimento religioso. O Papa chegou ao país como uma figura “diabolizada”, mas conseguiu desanuviar a tensão existente. O enviado da Renascença considera que o sucesso residiu “muito em parte no primeiro dia, graças à decisão do primeiro-ministro, à última hora, aceitar receber pessoalmente o Papa”. Muitas notícias frisavam que a visita decorria “sem incidentes”, como se o perigo espreitasse a cada esquina das ruas turcas. Daniel Rosário considera que “seria injusto” ver nesta preocupação uma “estratégia jornalística”, assegurando que era a própria opinião pública da Turquia a mostrar-se preocupada com o desenrolar da viagem e a segurança do Papa, enfatizando muito o dispositivo fora do comum que tinha sido preparado. Correspondente da Renascença em Bruxelas, Daniel Rosário destaca a “vocação europeia” da Turquia, mas considera como “sinal ambíguo” o suposto apoio de Bento XVI à entrada do país na UE. “Se há valores comuns, eles já lá estavam, não apareceram agora nem a Turquia mudou de um dia para o outro”, aponta. O que mudou, isso sim, é a percepção que o país tinha do Papa: milhões de telespectadores turcos acompanharam, com muita atenção, a visita à antiga Basílica de Santa Sofia e também à Mesquita Azul, de Istambul. Muitas televisões transmitiram as imagens de Bento XVI a agitar a bandeira turca e as suas palavras “amo os turcos”, proferidas em língua local, no início da Missa celebrada na casa de Maria, em Éfeso. A maioria dos jornais turcos destacou todos estes gestos de Bento XVI, ressaltando, a seguir, as palavras de paz entre as religiões e culturas. “O Papa mostrou ser bastante hábil, na construção do programa, em pequenos gestos, nas palavras que disse, desarmando as críticas que lhe tinham sido feitas antes da visita. A Turquia, por seu lado, distingue-se profundamente dos outros países muçulmanos e tudo isso contribuiu para que não se confirmassem os cenários mais pessimistas”, assinala Daniel Rosário.