Viagem do Papa vista por Marcelo Rebelo de Sousa

Bento XVI surpreendeu os portugueses pela sua capacidade de se fazer próximo e apontar caminhos de diálogo. O professor universitário e comentador Marcelo Revelo de Sousa considera que esta capacidade foi uma surpresa para muitos que não acompanham o percurso do actual Papa.

No Centro Cultural de Belém, no encontro entre o Bento XVI e as personalidades do mundo da cultura, “muitos terão percebido uma evidência”.

“Os católicos têm as suas verdades, mas vivem num mundo com outras verdades e por isso têm de dialogar”, afirma o professor recordando as palavras do Papa.

“Muitos terão ficado surpreendidos com esta afirmação do Papa, mas que corresponde ao que ele tem sempre dito. É preciso dialogar com outros crentes, com não crentes, sempre na base de uma visão personalista da vida e da sociedade”.

Marcelo Rebelo de Sousa explica que o actual Papa tem uma noção muito clara da transformação social e cultural que o mundo atravessa. Sabe, por isso, que a Igreja já não é a maioria que antigamente era.

“Habituados a ser uma maioria, o país, e em especial Lisboa, descobriu-se uma minoria. É de facto a maior minoria religiosa, mas minoria ainda. Viu-se no referendo sobre a despenalização da interrupção da gravidez, onde se percebeu que as pessoas não votaram consoante valores cristãos”.

Assinala o professor, ser preciso mudar a evangelização, feita agora com outros meios.

“Através da comunicação social, com a presença nas escolas, com outra presença na política, com o mundo da cultura, como o Papa referiu aos Bispos portugueses, e também por outra via que é o aprofundamento da fé”.

A fé adquirida por herança é “curta”. “Não chegam as respostas que se dão apontando «foi sempre assim, sempre fomos educados assim» porque faltam respostas para as grandes questões do nosso tempo”.

Bento XVI sabe que “é mais difícil ser hoje católico do que o era há 50 anos, mas este é o apelo que faz, dirigido em especial aos mais novos”.

Bento XVI esteve em Portugal durante quatro dias, com passagens por Lisboa, Fátima e pelo Porto. Em todos estes locais, Marcelo Rebelo de Sousa afirma “não podia ter corrido melhor”.

“Excedeu as expectativas em tudo, na participação dos católicos, mesmo entre aqueles que não integram a comunidade dos católicos mas encontram uma matriz cristã na sua formação”.

De assinalar ainda a aceitação de que Bento XVI e João Paulo II são pessoas diferentes e têm percursos diferentes.

“As comparações são normais”, assinala o professor, mas com o decorrer da viagem este sentimento foi-se desvanecendo e as “injustiças na forma de o tratar foram dissipadas”.

Como mais marcante Marcelo Rebelo de Sousa assinala a “humildade de Bento XVI” reconhecendo que a “fé é uma graça que não vai contra a razão, mas vai além da própria razão”.

“Esta certeza não vem de um prático, nem de um lutador da acção social, mas vem de um intelectual de gabinete. Bento XVI descobriu, depois de um percurso a estudar e a filosofar, que o mais importante é estar atento aos sinais dos tempos, à capacidade de descobrir a fé e vivê-la”.

O Programa 70×7 deste Domingo, dia 23 de Maio, faz uma análise da viagem do Papa Bento XVI a Portugal, onde se inclui esta opinião de Marcelo Rebelo de Sousa.

Este programa apresenta também ainda a perspectiva de dois jornalistas que integraram o voo papal, Aura Miguel e Octávio Carmo, e de alguns bispos de Portugal.

Uma análise a todos os acontecimentos relacionados com a visita de Bento XVI a Portugal é feita também pelo coordenador geral da visita do Papa a Portugal, D. Carlos Azevedo.

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