Vem aí o Dia de ‘varrer’ os Armários…

Luísa Gonçalves, Diocese do Funchal

Não é uma opinião, mas uma tradição que vos volto a trazer neste dia. Para que elas não se percam…

Em Portugal, a devoção a Santo Amaro vem desde tempos imemoriais, recorrendo o povo a este Santo para cura de enfermidades e fratura de ossos, motivo pelo qual se lhe oferecem ex-votos em cera, com a forma de braços e pernas.

Iconograficamente, é representado com hábito de Frade Beneditino, de preto, e com báculo abacial, tipo bengala, tendo ainda um livro na mão.

Por todo o País existem capelas e ermidas dedicadas a este Santo e em sua honra fazem-se muitas festas e romarias. Na ilha da Madeira é festejado mais entusiasticamente sobretudo em Santa Cruz e na freguesia do Paul do Mar, concelho da Calheta.

O dia 15 de janeiro, para além de ser designado como Dia de Santo Amaro, é também conhecido como o “dia de varrer os armários”, tradição secular que encerra, de forma geral, no arquipélago da Madeira, os festejos de Natal, conservando o povo a árvore e o presépio até este dia, quando são dados por findos os festejos de Natal.

Excecionalmente, em algumas freguesias da ilha, os festejos encerram mais tarde, perdurando até as festas religiosas de Santo Antão ou de São Sebastião, comemoradas nos dias 17 e 20 do mesmo mês.

Tradicionalmente, é com a primeira Missa do Parto que começa o Natal madeirense e é com o “varrer dos armários” que este termina.

Antigamente, toda a família reunia-se neste dia para assistir ao desarmar do presépio. Deitavam-se fora as searas, retiravam-se as frutas, o Menino era guardado no oratório e os pastorinhos guardados nas caixas, até o ano seguinte.

Na véspera, o povo andava de porta em porta, cantando ao som dos instrumentos tradicionais, quadras alusivas a este Santo. Munidos de uma vassoura, para “varrer os armários”, batiam às portas e entravam, entoando cânticos e serviam-se de vinho, licores, doces, ou, mesmo, da fruta da lapinha, repetindo-se este ritual em todas as casas.

No livro “Festas e Tradições Portuguesas” (Barros & Costa, 2002) encontramos os versos de um canto tradicional dos varredores madeirenses: “Vamos varrer a lapinha / Deixai-nos entrar, Senhora, /Trazemos connosco a pá / E também uma vassoura. Viemos de lá tão longe / Do pé da terra dos alhos / Trouxemos a vassourinha / Para varrer os armários. Santo Amaro é bonito / E bonito não se o deixa / Para provarmos o vinho / Com cebolas de “escabecha”.  Trazemos também connosco / Uma saca e uma pá / Abra-nos a porta, Senhora, / Que queremos varrer já”.

Luísa Gonçalves

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