Francisco evoca situações de sofrimento, em entrevista à televisão italiana
Cidade do Vaticano, 15 abr 2022 (Ecclesia) – O Papa alertou hoje, em entrevista à televisão pública italiana (Rai), para o sofrimento das mulheres em todo o mundo, da violência doméstica aos cenários de guerra.
“A violência contra as mulheres é o pão nosso de cada dia. Mulheres que sofrem golpes, que sofrem violência por parte dos seus companheiros e carregam isto em silêncio ou afastam-se sem dizer porquê. Nós, homens, teremos sempre razão: somos os perfeitos. E as mulheres estão condenadas ao silêncio pela sociedade”, denunciou Francisco, durante uma conversa de cerca de 50 minutos, emitida nesta Sexta-feira Santa no programa ‘À Sua Imagem’.
O Papa considerou que as mulheres são “a reserva da humanidade”, destacando uma das imagens deste dia, em que a Igreja Católica evoca a morte de Jesus, quando a Virgem Maria e outras mulheres permanecem aos pés da cruz, enquanto os discípulos “fugiram”.
“A figura da mulher, a figura da mãe, em frente da cruz. Esta é uma mensagem, é uma mensagem de Jesus para nós, é a mensagem da sua ternura na sua mãe”, declarou.
Ele regressa ao Pai, mas é o primeiro a descer, está em cada pessoa explorada, que sofre guerras, que sofre destruição, que sofre tráfico. Quantas mulheres são escravas do tráfico, aqui em Roma e nas grandes cidades. É obra do mal. É uma guerra”.
Francisco olha para o atual cenário internacional e sublinha que “as mulheres estão na encruzilhada das maiores fatalidades”, considerando necessário que estas assumam “um papel em momentos difíceis, em momentos de tragédia”.
“É tão importante, é muito importante. Elas sabem o que é vida, o que se prepara para a vida e o que é a morte, conhecem-na bem. Falam esta linguagem”, precisou.
A entrevista aborda temas como o sofrimento humano e o “mal absoluto”, a figura do demónio.
O diabo procura sempre a nossa destruição. Porquê? Porque nós somos a imagem de Deus”, advertiu.
O Papa destaca que Jesus “morre sozinho”, para experimentar “a mais terrível das solidões do homem”.
A solidão dos jovens, dos idosos. A solidão das pessoas com problemas mentais em casas de saúde. A solidão das pessoas que passam por uma tragédia pessoal e familiar. A solidão de uma mulher que é espancada pelo marido, mas [que] se cala para salvar a sua família. Temos muitas solidões nossas. Também a senhora tem a sua. Eu tenho as minhas: a senhora terá as suas, com certeza. Pequenas solidões, mas é nisto, nessas pequenas solidões, que podemos compreender a solidão de Jesus, a solidão da cruz”.
Francisco diz que nunca se sentiu sozinho no exercício do seu ministério e lamenta a “mundanidade”, que considera “a cruz mais dura que a Igreja hoje carrega sobre o Senhor”.
“O espírito de mundanidade, que é um pouco como o espírito de poder, mas não apenas de poder, está a viver num estilo mundano que – curiosamente – é alimentado e cresce com dinheiro”, adverte.
OC