Vaticano: «Sínodo tem a ver com a identidade da própria Igreja» – D. Virgílio Antunes (c/vídeo)

Vice-presidente da CEP mostra-se satisfeito com arranque dos trabalhos da segunda sessão sinodal

 

Octávio Carmo, enviado da Agência ECCLESIA ao Vaticano

Cidade do Vaticano, 04 out 2024 (Ecclesia) – O vice-presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) disse à Agência ECCLESIA que a Assembleia Sinodal em curso no Vaticano se liga à “identidade” da Igreja, ultrapassando uma visão meramente funcional.

“O Sínodo tem a ver com a identidade da própria Igreja”, disse D. Virgílio Antunes, bispo de Coimbra, um dos dois representantes da CEP na XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, convocada pelo Papa.

Para o responsável português, esta assembleia “é uma questão espiritual, que faz parte integrante da vida da Igreja”.

“Tem a ver com a nossa fé e não se trata pura e simplesmente, como alguns críticos às vezes disseram, de procurar organizar ou reorganizar a dimensão mais visível e até mais terrena, o aspeto pastoral, da Igreja”, acrescentou.

A assembleia sinodal, que decorre até 27 de outubro, com o tema ‘Por uma Igreja sinodal: participação, comunhão, missão’, começou com a auscultação de milhões de pessoas, pelas comunidades católicas, em 2021; a primeira sessão da XVI Assembleia Geral do Sínodo decorreu em outubro de 2023.

D. Virgílio Antunes, que regressa ao Vaticano após a experiência do último ano, diz ter encontrado pessoas “felizes” e com sentido de “missão”.

“Há um trabalho que decorreu ao longo deste ano – com mais ou menos profundidade em cada um dos países, dos continentes, mas houve trabalho. Houve muitos grupos, inclusivamente em Portugal, nas nossas dioceses, que se debruçaram sobre a questão fundamental e que procuraram encontrar caminhos”, indica.

Esta sessão tem 368 membros com direito a voto, dos quais 272 são bispos; à imagem do que aconteceu 2023, mais de 50 votantes são mulheres, entre religiosas e leigas de vários países.

O vice-presidente da CEP destaca as palavras de abertura do Papa, na quarta-feira, quando Francisco quis sublinhar que esta diversidade de pessoas “não afeta minimamente a dimensão episcopal” do Sínodo “nem diminui absolutamente em nada o magistério e o ministério episcopal, antes o fortalece, enriquece e dá um contexto mais alargado, que é o contexto da Igreja Povo de Deus, para se realizar e se concretizar”.

“É uma realidade que está em construção, que está em desenvolvimento e que todos pensamos que pode e deve dar bons frutos na vida da Igreja do presente e do futuro”, acrescenta.

Os bispos, evidentemente, fazem parte de um colégio episcopal, que tem de estar atento, tem de ouvir. Não é uma realidade à parte dentro da vida da Igreja. Como o Papa também não é uma realidade à parte dentro da vida da Igreja. Cada realidade com o seu ministério e a sua responsabilidade próprias procura levar por diante uma missão que é de todos”.

Em fevereiro, o Papa decidiu criar grupos de estudo sobre dez temas propostos pela primeira sessão sinodal, em outubro de 2023, que envolvem os dicastérios da Cúria Romana, sob a coordenação da Secretaria-Geral do Sínodo, deixando assim esse debate fora do documento de trabalho

Estes grupos vão funcionar até junho de 2025, debatendo um conjunto de questões doutrinárias, pastorais e éticas “controversas”, referidas no Relatório de Síntese da primeira sessão sinodal.

Para D. Virgílio Antunes, esta é uma decisão natural, dada a “uma multiplicidade de assuntos e de temas” apresentados na Assembleia Sinodal o que tornava “quase impossível abordá-los todos com alguma profundidade”.

“Há o desejo de tratar as questões com maior profundidade, porventura num grupo mais pequeno, mas que tem pessoas muito diversas nos seus conhecimentos, nas suas capacidades de reflexão, de escuta, conhecimento da realidade”, precisa.

O Sínodo dos Bispos, instituído por São Paulo VI em 1965, pode ser definido, em termos gerais, como uma assembleia de representantes dos episcopados católicos de todo o mundo, a que se juntam peritos e outros convidados, com a tarefa ajudar o Papa no governo da Igreja.

OC

Os participantes nesta Assembleia Sinodal incluem os chefes dos Dicastérios da Cúria Romana, patriarcas e representantes das Igrejas Orientais Católicas, representantes de Conferências e organismos episcopais, os membros do Conselho Ordinário do Sínodo dos Bispos e os seus dois subsecretários, bem como dez representantes da União dos Superiores Gerais dos Institutos de Vida Consagrada, dos quais cinco são religiosas, também com direito a voto.

A eles somam-se, sem direito a voto, 16 representantes de outras igrejas e comunidades cristãs (delegados fraternos), convidados especiais e colaboradores da Secretaria-Geral do Sínodo.

Os trabalhos alteram entre sessões plenárias (congregações gerais) e trabalhos em grupo linguísticos (círculos menores), decorrendo no Auditório Paulo VI, do Vaticano.

A Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) está representada pelo seu presidente, D. José Ornelas, e por D. Virgílio Antunes, vice-presidente do organismo.

O cardeal Américo Aguiar, bispo de Setúbal, está presente na segunda sessão da Assembleia Sinodal por nomeação do Papa Francisco; já o cardeal Tolentino Mendonça participa na sua condição de prefeito do Dicastério para a Cultura e Educação (Santa Sé).

Além dos quatro responsáveis portugueses, participam também nesta segunda sessão, o padre Miguel de Salis Amaral, docente da Universidade Pontifícia da Santa Cruz, em Roma, integrando o grupo de peritos (teólogos, facilitadores, comunicadores); o padre Paulo Terroso, da Arquidiocese de Braga, e Leopoldina Simões, assessora de imprensa, no grupo dos “assistentes e colaboradores”.

 

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