Vaticano: Sínodo prepara síntese final, apontando a envolvimento das comunidades rumo ao encontro de 2024

Participantes sublinham importância de traduzir nova dinâmica na vida diária da Igreja

Octávio Carmo, enviado da Agência ECCLESIA ao Vaticano

Cidade do Vaticano, 23 out 2023 (Ecclesia) – Os participantes no Sínodo dos Bispos iniciaram hoje a discussão sobre a carta e o documento de síntese dos trabalhos da assembleia, apontando à necessidade de traduzir esta experiência na vida das comunidades católicas.

“A sinodalidade é o modo de exercer, de viver a comunhão”, disse aos jornalistas o cardeal Christoph Schoenborn, arcebispo de Viena (Áustria) e membro do Conselho Ordinário do Sínodo dos Bispos.

Os trabalhos conhecem uma pausa, nas próximas 36 horas, antes de cinco reuniões gerais, entre quarta-feira e sábado, e um tempo de trabalhos em grupo, para debater a síntese conclusiva dos trabalhos, começados a 4 de outubro.

Paolo Ruffini, prefeito do Dicastério para a Comunicação (Santa Sé), indicou que esta manhã foi lido o “esboço da Carta ao Povo de Deus”, que foi acolhido com um “aplauso geral”, estando a sua publicação prevista para esta quarta-feira.

A primeira sessão da XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, com o tema ‘Para uma Igreja sinodal: comunhão, participação, missão’, decorre até sábado; Francisco decidiu que a mesma terá uma segunda etapa, em 2024.

“O método é a escuta, em primeiro lugar”, indicou o arcebispo de Viena, para quem esta sessão representou uma experiência “muito positiva”, com maior participação de leigos, falando num “Sínodo episcopal, com participação alargada”

“O ponto essencial, parece-me, é repensar a grande visão da Igreja” apresentada pelo Concílio Vaticano II (1962-1965), apresentada como “mistério”, antes da sua constituição hierárquica, acrescentou o cardeal Christoph Schoenborn.

Para o responsável, “a visão da sinodalidade é o caminhar juntos, é a vida da comunhão eclesial”, que tem como base o Batismo

A intervenção destacou que a Europa “já não é o centro principal” da Igreja Católica, lamentando a falta de uma palavra “comum” do Conselho das Conferências Episcopais Europeias (CCEE) sobre o drama dos migrantes e refugiados.

O cardeal Carlos Aguiar Retes, arcebispo da Cidade do México e presidente delegado do Sínodo, falou com os jornalistas da sua experiência em assembleias anteriores, da família aos jovens, passando pela Amazónia, que mostraram a importância das novas gerações.

“Estou convencido de que se pode transmitir a fé, através dos próprios jovens, que já a vivem”, sustentou.

O responsável mexicano indicou que a prioridade é levar o trabalho da assembleia sinodal à vida concreta, “colocando em prática o que estivemos a dizer que deve ser a Igreja”.

Já o cardeal Jean-Marc Aveline, arcebispo de Marselha (França), assinalou que se vive um omento “decisivo”, no final desta primeira sessão, apontando a “questões abertas” e “divergências”, que exigem muito trabalho.

Foto: Vatican Media

A agenda de segunda-feira começou na Basílica de São Pedro, com uma Missa presidida pelo cardeal Charles Bo, arcebispo de Rangum (Myanmar) e presidente da Federação das Conferências Episcopais da Ásia, o qual convidou a entrar numa “jornada sinodal de fé, com a convicção de que Deus nunca erra”.

“Neste Sínodo, uma de nossas grandes preocupações é o legado que deixaremos para a próxima geração”, apontou.

Já no Auditório Paulo VI, o padre Timothy Radcliffe, religioso dominicano, apresentou uma meditação sobre o “período de germinação” do Sínodo, em alusão aos meses que separam as duas sessões desta assembleia.

Esta “espera ativa”, acrescentou, vai contra o que se espera numa cultura “muitas vezes polarizada, agressiva e desdenhosa das opiniões dos outros”,

Já a irmã Maria Grazia Angelini, que co-orientou o retiro espiritual de preparação para o Sínodo, com o padre Radcliffe, sustentou que esta primeira sessão foi “um ato profundamente subversivo e revolucionário”, do Espírito Santo, para uma reforma da Igreja.

Após estas duas meditações, Ormond Rush, professor associado de religião e teologia do Instituto de Religião e Investigação Crítica da Universidade Católica Australiana, apresentou uma reflexão sobre o Concílio Vaticano II (1962-1965) e o atua Sínodo, “síntese do seu discernimento sobre o futuro da igreja”.

Citando o então jovem perito Joseph Ratzinger, que viria a ser o Papa Bento XVI, Rush sublinhou que “a tradição não deve ser considerada apenas afirmativamente, mas também criticamente”, admitindo que este é um fator de “tensão” no debate teológico.

Foto: Vatican Media

A assembleia sinodal, presidida pelo Papa, tem 365 votantes, entre eles 54 mulheres, a quem se somam, sem direito a voto, 12 representantes de outras Igrejas e comunidades cristãs (delegados fraternos), oito convidados especiais e colaboradores da Secretaria-Geral do Sínodo.

Os trabalhos desenvolveram-se em volta das quatro partes do ‘Instumentum Laboris’ (IL), antes do debate conclusivo.

Este IL foi elaborado com base no material recolhido durante a consulta global às comunidades católicas, em particular os documentos finais das sete assembleias continentais, que decorreram entre fevereiro e março deste ano: África e Madagáscar (SECAM), América Latina e Caraíbas (CELAM), América do Norte (EUA/Canadá), Ásia (FABC), Europa (CCEE), Médio Oriente (com a contribuição das Igrejas Católicas orientais) e Oceânia (FCBCO).

OC

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Agência ECCLESIA

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