Cardeal Pietro Parolin critica «corrida armamentista» na Europa e pede paz sem «humilhações» na Ucrânia

Cidade do Vaticano, 04 jun 2025 (Ecclesia) – O secretário de Estado do Vaticano afirmou, numa entrevista divulgada hoje, que a situação em Gaza é inaceitável, criticando ainda a “corrida armamentista” na Europa.
“A Santa Sé não concorda com a estratégia da guerra como meio para resolver problemas e, tal como grande parte da comunidade internacional, pede que o bloqueio da ajuda humanitária seja suspenso com urgência”, referiu o cardeal Pietro Parolin, em declarações ao jornal italiano ‘La Stampa’ e divulgadas pelo portal de notícias da Santa Sé.
“É aceitável que, em 2025, tenhamos de ver o que está a acontecer em Gaza, onde a população civil está exposta a uma enorme tragédia humanitária?”, questionou.
O colaborador do Papa recorda que as duas tréguas realizadas, entre Israel e o Hamas, resultaram na libertação de mais de 140 reféns, “mostrando que a negociação tem a sua eficácia intrínseca, especialmente num contexto tão complexo”.
“Como muitos países esperam, a Santa Sé também acredita que estas negociações devem ser inseridas num processo político que vise resolver a questão israelita e palestina de forma mais abrangente e estabilizar todo o Médio Oriente”, assinala o responsável diplomático.
O secretário de Estado sublinha ainda que “a Santa Sé nunca fechou a porta a ninguém” e tem repetido condenações ao antissemitismo.
Questionado sobre o conflito na Ucrânia, o cardeal Parolin questionou a “lógica da violência” e o “falso realismo que consideraria a guerra inevitável”.
“Nenhuma guerra é inevitável, nenhuma paz é impossível. As armas podem e devem calar-se para dar lugar à esperança da paz”, acrescentou, desejando que as recentes negociações em Istambul possam ser “um primeiro passo em direção à paz”.
“Não se pode falar de paz verdadeira se um país nega a existência de outro país. Uma paz é justa quando reconhece e protege a dignidade de todos, sem humilhações, sem condições que deixem feridas abertas”, sustentou, citando os apelos de Leão XIV a uma paz “justa e duradoura”.
Para o secretário de Estado do Vaticano, o aumento dos gastos militares nos últimos anos revela “um mundo inseguro e fragmentado”.
“Embora o compromisso de cada país com a salvaguarda da soberania e da segurança seja legítimo e um dever, devemos sempre perguntar em que medida o fortalecimento do poder militar pode ajudar a aumentar a confiança entre as nações e contribuir para a construção de uma paz duradoura”, observou.
O cardeal Parolin foi ainda questionado sobre os encontros entre líderes mundiais por ocasião do funeral de Francisco e na Missa de posse de Leão XIV.
“Acredito que foram um sinal significativo do reconhecimento internacional do compromisso da Santa Sé com a paz. Um compromisso confirmado pelas primeiras palavras do Papa Leão XIV, que foram um apelo sincero para construir pontes juntos”, declarou.
A entrevista abordou as relações bilaterais entre os EUA e a China, considerando necessário “evitar o risco de que o conflito entre as duas superpotências seja visto como o único desfecho possível”.
OC