Em visita a Lisboa, cardeal Pietro Parolin sublinha boas relações com Portugal e apela à «colaboração» de Portugal para superar violência que atinge Moçambique

Lisboa, 14 set 2025 (Lusa) – O secretário de Estado do Vaticano contestou os discursos “simplistas” sobre as migrações, alertando para a tentação dos “populismos” na Europa.
“É uma tentação muito difundida encontrar, por assim dizer, quem resolva todos os problemas com uma varinha mágica Depois, quantas dessas promessas não são cumpridas, não é? E não só ficam por cumprir, como criam mais problemas, mais dificuldades”, alertou o cardeal Pietro Parolin, em entrevista à Agência ECCLESIA, na Nunciatura Apostólica (embaixada da Santa Sé), em Lisboa.
O colaborador do Papa destacou que o tema das migrações é “muito complexo, com muitas facetas, muitas dimensões”, como acontece com o “tráfico de seres humanos”.
“Isso deve ser tido em conta no seu conjunto, para dar uma resposta que seja realista. Creio que é muito difícil encontrar essa resposta. Na minha opinião, o que se deve fazer, acima de tudo, é tentar mudar a mentalidade, que hoje, infelizmente, se torna predominante, que é a da rejeição, tentar entrar numa dinâmica de acolhimento”, apontou.
Segundo o responsável diplomático da Santa Sé, a partir dessa dinâmica positiva, nos países europeus, será mais fácil “enfrentar os problemas individuais”, como o da imigração ilegal.
“É um problema e que deve ser enfrentado, este da busca de meios legais, o da integração, o grande tema da integração, mas sem ser simplistas, diria assim: não sermos simplistas na abordagem do tema das migrações, que, repito, é um tema muito complexo”, insistiu.
O cardeal Pietro Parolin falou das migrações como um “um fenómeno estrutural e não contingente”, que convida todos a “procurar juntos encontrar soluções para os problemas concretos que se colocam”.
De visita a Lisboa, o secretário de Estado do Vaticano afirmou que as relações com Portugal “são relações muito boas”, elogiando a “vontade de aplicar” os princípios de cooperação assumidos na Concordata de 2004.
O colaborador do Papa assumiu as dificuldades levantadas por uma “mentalidade muito secularista” na Europa, realçando que a mesma “tem implicações profundas em relação a certos valores, como o valor da vida, o valor da família”.
O importante é que haja políticos que se inspirem na Doutrina Social da Igreja. Parece-me que em Portugal esta realidade já existe, mas, em geral, há administradores e políticos que se esforçam também por conhecê-la, porque creio que muitas vezes nem sequer se conhece o que é a Doutrina Social da Igreja. Em última análise, o que propomos, na minha humilde opinião, é a proteção da pessoa humana.”
O secretário de Estado do Vaticano evocou, na entrevista, os cenários de conflito que se multiplicam em várias regiões do mundo, destacando o esforço da Santa Sé para “manter viva” a atenção da opinião pública sobre os mesmos.
D Pietro Parolin alertou, em particular, para a violência em Cabo Delgado, assumindo a intenção de fazer uma visita a Moçambique, “em breve”, por ocasião dos 30 anos de relações diplomáticas entre a Santa Sé e o país lusófono.
“Não é que uma visita possa resolver o problema, mas pode encorajar no caminho da paz e da compreensão mútua, do respeito mútuo”, sustentou, desejando que Portugal “também dê o seu contributo para que se possa encontrar uma saída”.

O responsável está em Lisboa a convite do Patriarcado, tendo participado na celebração do Jubileu das Autoridades, após uma homenagem às vítimas do acidente no Elevador da Glória; a viagem incluiu uma deslocação a Fátima, para a celebração da peregrinação aniversária de setembro.
O cardeal Pietro Parolin foi hoje recebido no Palácio de Belém pelo presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, e encontrou-se ainda com o primeiro-ministro português.
“Recebi o secretário de Estado da Santa Sé, cardeal Pietro Parolin, na sua visita a Portugal para celebrar o jubileu das autoridades. Agradeci as condolências pelas vítimas do acidente no Elevador da Glória. Abordamos as relações de Portugal com a Santa Sé. Trocamos impressões sobre os conflitos que atormentam o mundo e sobre a necessidade urgente de trilhar os caminhos da paz”, escreveu Luís Montenegro, na sua conta da rede social X.
Já a página da Presidência da República destacou que Marcelo Rebelo de Sousa e o cardeal Parolin “passaram em revista as relações bilaterais de excelência entre Portugal e a Santa Sé e trocaram pontos de vista sobre os principais assuntos da atualidade internacional”.
“O presidente da República endereçou uma mensagem escrita de felicitação a Sua Santidade Papa Leão XIV por ocasião do seu aniversário, que se celebra hoje”, acrescenta a nota.
OC
Lisboa: Cardeal Parolin defende necessidade de falar «da dignidade humana», «com coragem e verdade»