Cardeal Parolin reforça apelo do Papa a negociações de paz, rejeitando polémicas sobre «rendição» ucraniana
Cidade do Vaticano, 12 mar 2024 (Ecclesia) – O secretário de Estado do Vaticano alertou hoje para o risco de uma “escalada nuclear”, reforçando o apelo do Papa a negociações de paz na Ucrânia.
“O risco de uma escalada nuclear fatal não está ausente. Basta observar a regularidade com que certos representantes governamentais recorrem a esta ameaça. Só posso esperar que isto seja propaganda estratégica e não um aviso de um acontecimento verdadeiramente possível, referiu o cardeal Pietro Parolin, em entrevista ao jornal italiano ‘Corriere della Sera’.
A convera, divulgada pelo portal de notícias do Vaticano, surge na sequência de uma entrevista do Papa à Rádio Televisão Suíça, na qual o pontífice apela à “coragem” de negociar soluções de paz para a Ucrânia e a Terra Santa.
“Negociação nunca é rendição. É a coragem de não levar o país ao suicídio”, precisou Francisco, em declarações antecipadas pelo televisão suíça, no último sábado.
A sala de imprensa da Santa Sé decidiu tornar pública a transcrição total da conversa, que vai ser emitida a 20 de março, e apresentou um esclarecimento público, através do seu diretor, Matteo Bruni, a respeito de uma passagem em que se fala da “coragem da bandeira branca, para negociar”.
A diplomacia ucraniana convocou o representante do Vaticano em Kiev para protestar contra as declarações do Papa.
Kiev considera que Francisco “deveria ter enviado sinais à comunidade internacional sobre a necessidade de unir forças imediatamente para garantir a vitória do bem sobre o mal, e apelar ao agressor, não à vítima”.
“O apelo do pontífice é que ‘se criem as condições para uma solução diplomática em busca de uma paz justa e duradoura’. Neste sentido, é óbvio que a criação de tais condições não diz respeito apenas a uma das partes, mas sim a ambas, e a primeira condição parece-me ser precisamente a de pôr fim à agressão”, observa o cardeal Parolin, citando palavras do Papa no segundo aniversário da invasão russa.
“Nunca devemos esquecer o contexto e, neste caso, a pergunta que foi dirigida ao Papa, que, em resposta, falou de negociação e, em particular, da coragem da negociação, que nunca é uma rendição”, indica o secretário de Estado do Vaticano.
A Santa Sé prossegue esta linha e continua a pedir um cessar-fogo – e cessar fogo é o que deveriam fazer antes de tudo os agressores – e, portanto, a abertura de negociações. O Santo Padre explica que negociar não é fraqueza, mas é força. Não é rendição, mas é coragem”.
O responsável pela diplomacia do Vaticano acredita na “possibilidade” de se chegar a uma solução diplomática para o conflito na Ucrânia, assumindo que “a Santa Sé está preocupada com o risco de uma extensão da guerra”.
“O nível crescente de conflito, a explosão de novos confrontos armados, a corrida armamentista são sinais dramáticos e perturbadores neste sentido”, adverte.
OC
Vaticano: Papa apela à «coragem» da negociação para travar guerras na Ucrânia e na Terra Santa