Darwin, Galileu, Islão, economia ou arte contemporânea são apostas para o futuro O presidente do Conselho Pontifício para a Cultura (CPC), D. Gianfranco Ravasi, destacou hoje em Fátima a vontade do Vaticano de reforçar o diálogo com o mundo da cultura e da ciência, dando como exemplo um Congresso Internacional sobre a Criação, que irá decorrer em 2009, ano do 200.º aniversário do nascimento de Darwin e do 150.º da sua obra a “Evolução das espécies”. Falando nas IV Jornadas Pastorais da Cultura, o Arcebispo italiano frisa que as apostas do CPC passam, entre outras, pela relação entre ciência e fé (teologia, filosofia cristã), “campo no qual já organizámos uma estrutura muito importante que tem relações com as grandes universidades dos EUA e que no próximo ano entrará em campo com uma série de iniciativas”, com destaque para o já citado Congresso Internacional, com uma duração prevista de cinco dias e com a presença confirmada de 3 prémios Nobel. Também o processo contra Galileu irá ser ocasião para a promoção de iniciativas internacionais sobre a ciência e a sua relação com a fé. D. Gianfranco Ravasi falou também da atenção do CPC em relação ao tema das ciências humanas, com destaque para a Economia, porque “há um forte movimento, entre os economistas, para superar a concepção da economia apenas como técnica financeira, monetária”, mas também como ciência humanística. A economia, disse o membro da Cúria Romana, deve ser a “lei da casa do mundo, no qual há nações emergentes, mas também nações pobres; há globalização, mas também o ressurgimento dos nacionalismos”, frisando a importância de falar ainda de “glocalização”. O homem do Papa para a cultura referiu-se, por outro lado, a um tema que considera estar a ser abordado de forma “muito superficial” pela Igreja, o da linguagem. “O mundo tem uma linguagem com gramáticas diferentes, com sintaxes diferentes”, indicou, dando como exemplo a comunicação por via informática. O mundo virtual tem “formas expressivas muito estudadas”, mas aplicadas de forma muito “primitiva” na comunicação religiosa. Neste âmbito, frisou que a linguagem típica dos telemóveis, em voga nas novas gerações, não deve ser “exorcizada”, não podendo a Igreja ignorar que esta expressão “deve ter uma semente de religiosidade, de espiritualidade, de comunicação religiosa”. O Vaticano também está atento às “culturas emergentes”, tendo o presidente do CPC revelado que este Conselho tem um departamento para a Ásia, o “novo mundo”. Também em relação ao Islão, sublinhou D. Ravasi, o primeiro contacto é a nível cultural, onde o diálogo se poderá iniciar “antes da Teologia”. Quanto ao diálogo com o mundo dos não crentes, o Arcebispo italiano lembrou que “já não há um ateísmo teórico” nem o confronto entre grandes sistemas. A Igreja, assinalou, confronta-se hoje “com a indiferença, a inconsistência, a banalidade. Num último ponto, o presidente do CPC destacou o diálogo com a arte contemporânea, na qual, disse, se perdeu em muitos casos a importância da beleza e do significado de cada obra. Por isso, lembrou aos presentes a sua proposta de marca presença, no próximo ano, com um pavilhão da Santa Sé na Bienal de Arte de Veneza. Antes disso, assegurou D. Ravasi, irá convidar ao Vaticano “cinco ou seis artistas de grande nível” para um diálogo aprofundado, que considera existir já com a arquitectura – citando mesmo o caso de Siza Vieira -, mas que falta no mundo das imagens ou na música. O presidente do CPC não quis deixar de destacar, por outro lado, o “encontro muito interessante” que teve com os Bispos portugueses aquando da visita “Ad limina” do passado mês de Novembro.