O tema dos “abusos litúrgicos” está de volta à agenda do Vaticano, com o secretário da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos a assegurar que Bento XVI vai pôr fim a estes abusos. Em entrevista à agência I-Média, D. Albert Ranjith disse que o Papa vai “tomar medidas”, lamentando que, muitas vezes, a Liturgia seja “um sinal de escândalo”. Esta questão esteve em particular destaque no último Sínodo dos Bispos, realizado de 2 a 23 de Outubro de 2005, sobre o tema da Eucaristia. Bento XVI vai receber, em breve, o documento final dos membros do Conselho pós-sinodal – encarregado de dar continuidade ao trabalho realizado pela XI assembleia geral ordinária do Sínodo – e, posteriormente, escrever uma exortação a toda a Igreja. 40 anos depois do II Concilio do Vaticano, a chamada reforma litúrgica é um dos campos em que há mais discussão sobre os limites para a mudança. D. Ranjith considera que, em muitos casos, as alterações “não trouxeram os frutos esperados”. Este responsável referiu-se ainda à utilização do rito litúrgico vigente antes do Concílio. “A missa tridentina não é propriedade dos lefebvrianos”, sublinhou, admitindo uma aproximação à Fraternidade São Pio X, fundada pelo Arcebispo Marcel Lefebvre. O Missal de São Pio V, com a Missa celebrada em Latim segundo a antiga tradição, só é utilizado actualmente com permissão do Bispo local. O Papa e a Cúria Romana têm estudado a sua aprovação universal, o que significa que a Missa do antigo rito passaria a ser celebrada livremente em todo mundo pelos sacerdotes que assim o desejarem. O secretário da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos já tinha manifestado a sua preocupação, recentemente, sobre os efeitos da reforma do Vaticano II. Numa outra entrevista, ao quotidiano católico francês “La Croix”, o prelado do Sri Lanka disse que “é preciso reencontrar o verdadeiro espírito da reforma conciliar”. D. Albert Ranjith referiu que é possível falar da necessidade de uma correcção, da “reforma na reforma” da Liturgia. Entre os principais problemas que apontou, fala da questão da língua (vernáculo ou Latim) e da posição do padre (virado para a assembleia ou não). “Em nenhuma parte do decreto conciliar (Sacrosanctum Concilium, ndr) é indicado que os padres tinham, a partir de então, de estar virados para a assembleia ou que era proibido utilizar o Latim”, referia nesta entrevista, adiantando que, nestas matérias, “esperamos que o Papa nos dê as suas indicações”.