Papa critica discursos que desvalorizam os mais velhos e promovem choque de gerações


Cidade do Vaticano, 03 out 2025 (Ecclesia) – O Papa alertou hoje para a solidão dos idosos, na Igreja e na sociedade, criticando os discursos que desvalorizam os mais velhos e promovem um choque de gerações.
“Onde os idosos estão sozinhos e descartados, é preciso levar a alegre notícia da ternura do Senhor, para vencer, juntamente com eles, as trevas da solidão, grande inimiga da vida dos idosos. Que ninguém seja abandonado! Que ninguém se sinta inútil!”, disse, falando aos participantes no II Congresso Internacional de Pastoral dos Idosos, promovido pelo Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida (Santa Sé).
A iniciativa decorre em Roma, até sábado, com o tema ‘Os vossos idosos terão sonhos’.
“O tema do Congresso remete para as palavras do profeta Joel, tão caras ao Papa Francisco, que falou frequentemente da necessidade de uma aliança entre jovens e idosos, inspirada pelos sonhos de quem viveu muito tempo e fecundada pelas visões de quem inicia a grande aventura da vida”, indicou Leão XIV.
O Papa lamentou que, atualmente, as relações entre as gerações sejam “marcadas por fraturas e oposições, que colocam uns contra os outros”.
“Os idosos são questionados por não deixarem espaço aos jovens no mundo do trabalho, ou absorverem demasiados recursos económicos e sociais em detrimento das outras gerações, como se a longevidade fosse uma culpa”, advertiu.
Trata-se de formas de pensar que revelam visões muito pessimistas e conflituosas da existência. Os idosos são uma dádiva, uma bênção a ser acolhida, e o prolongamento da vida é um facto positivo, aliás, é um dos sinais de esperança do nosso tempo, em todas as partes do mundo.”

O discurso de Leão XIV, divulgada pela sala de imprensa da Santa Sé, sublinhou que o número crescente de idosos é um fenómeno histórico “inédito”, que convida a um “novo exercício de discernimento e compreensão”.
“A mentalidade predominante hoje tende a valorizar a existência se ela produz riqueza ou sucesso, se exerce poder ou autoridade, esquecendo que o ser humano é uma criatura sempre limitada e necessitada. A fragilidade que aparece nos idosos lembra-nos esta evidência comum: por isso é escondida ou afastada por aqueles que cultivam ilusões mundanas”, prosseguiu.
O Papa, que completou 70 anos de idade a 14 de setembro, observou que há falta de preparação para abraçar a idade mais avançada.
“Por mais estranho que possa parecer, a velhice torna-se, infelizmente, cada vez mais algo a que chegamos de repente e que nos apanha desprevenidos”, referiu.
A reflexão destacou o papel dos “jovens idosos”, em particular o seu papel nas comunidades católicas, onde “testemunham uma frequência assídua à liturgia e conduzem atividades paroquiais, como o catecismo e diversas formas de serviço pastoral”.
“Anunciar o Evangelho é o compromisso principal da nossa pastoral: envolvendo os idosos nesta dinâmica missionária, eles também serão testemunhas de esperança, especialmente com a sua sabedoria, devoção e experiência”, apelou.
Portugal está representado neste congresso pelo padre Francisco Ruivo, coordenador do novo Serviço Nacional da Pastoral dos Idosos, e José Ribeiro da Cruz, diretor do Secretariado Nacional do Apostolado dos Leigos e da Família.
OC